tag:blogger.com,1999:blog-13051784752601106682024-02-19T22:44:26.913-04:00AYVU AYVUDouglas Diegueshttp://www.blogger.com/profile/00799817140635576161noreply@blogger.comBlogger10125tag:blogger.com,1999:blog-1305178475260110668.post-50814607814256175172007-08-11T03:40:00.001-04:002008-12-10T12:47:49.636-03:00ADEMIR ASSUNÇÃO APAGA COM GASOLINA EL KONFORMISMO NEOKOLONIAL<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPdWN3dTxO31BoBQAV_nYRvdZOLRQbqBAYy_ApX2ZBbsweOqqBKlieKNTDhA5iTZI8zmYtz35SPB4YbsjI1r0-1miSXcompIvmcA5zosPW9SQLktGkHLL_uN7qKOCNGwVqJXzQZxPMKxQ/s1600-h/AA.jpg"><img style="margin: 0pt 10px 10px 0pt; float: left; cursor: pointer;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPdWN3dTxO31BoBQAV_nYRvdZOLRQbqBAYy_ApX2ZBbsweOqqBKlieKNTDhA5iTZI8zmYtz35SPB4YbsjI1r0-1miSXcompIvmcA5zosPW9SQLktGkHLL_uN7qKOCNGwVqJXzQZxPMKxQ/s400/AA.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5097352322855196098" border="0" /></a><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:verdana;font-size:85%;" ></span> <p style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:verdana;" class="MsoNormal"><span style="font-size:85%;"><o:p> </o:p></span></p><span style="color: rgb(0, 0, 0); font-family: verdana;font-family:verdana;font-size:78%;" ><span style="font-weight: bold;">Ademir Assunção</span> es uno de los nobíssimos poetas brasileiros que están incendiando la placidez del paisajen neocolonizado con fuego nuebo – un fuego xamânico y eróctiko, indignado y zen, kunu´ú y feroz a la vez. Eso puedo dizer después de conviver por un par de meses con </span><span style="font-weight: bold; color: rgb(0, 0, 0); font-family: verdana;font-family:verdana;font-size:78%;" >Zona Branca [Ed. Altana, 2001 / Travessa dos Editores, 2006]</span><span style="color: rgb(0, 0, 0); font-family: verdana;font-family:verdana;font-size:78%;" >, el livro de poemas mais recente de Ademir Assunção, que ya circula como orballo subversivo de mano en mano y en algunas livrarias brazileras. La kualidade di fuego de la palabra de Ademir Assunção lo ubika entre los poetas mais diferentes de sua generacione - uma geracione di poetas muito parecidos y diferentes a la vez.</span><span style="color: rgb(0, 0, 0); font-family: verdana;font-family:verdana;font-size:78%;" > Su modo de tratar la palabra y las formas que inbenta para el poema escrito son de una salud esenciales para una cierta novíssima poesia kontemporânea que resiste como agua a la neocolonizacione. Ademir Assunção morou um tempo em Londrina (PR), onde anduvo vinculado a una certa vanguardia klandê que desde la periferia avanzanva a las grandes ciudades: <span style="font-weight: bold;">Arrigo Barnabé</span>, <span style="font-weight: bold;">Itamar Assumpção</span>, <span style="font-weight: bold;">Paulo Leminski</span>, <span style="font-weight: bold;">Alice Ruiz</span>, <span style="font-weight: bold;">Rodrigo Garcia Lopes</span>,<span style=""> </span><span style="font-weight: bold;">Nelson Capucho</span>, <span style="font-weight: bold;">Wilson Bueno</span>, <span style="font-weight: bold;">Maurício Arruda Mendonça </span>y <span style="font-weight: bold;">Marcos Losnak</span>, o editor da esplêndida revista <span style="font-weight: bold;">KAN</span>, entre otros,y ahora de la revista Coyote, que neste ano celebra seus 5 anos en movimento. Ademir Assunção também es parceiro de músicos brazileros geniaes como el propio <span style="font-weight: bold;">Itamar Assumpção,</span> <span style="font-weight: bold;">Edvaldo Santana</span> y <span style="font-weight: bold;">Madan</span> en temas llenos de vida kaliente. Antes de Zona Branca, Ademir Assunção ya había publicado <span style="font-weight: bold;">LSD Nô [Ed. Iluminuras]</span>, su primer libro de poemas; <span style="font-weight: bold;">Cinemitologias (Ed. Ciência do Acidente / atritto art)</span>, híbrido inclassificábel: y un livro de narrativa experimental, <span style="font-weight: bold;">A máquina peluda (Ateliê Editorial)</span>. </span><span style="color: rgb(0, 0, 0); font-family: verdana;font-family:verdana;font-size:78%;" ><span style="color: rgb(0, 0, 0);">Poeta que usa el fogo de la palabra com muita propriedade, Ademir Assunção também es periodista de vanguarda y guerrillero kultural 25 horas por dia kontra el kangylon dentro y fora del mundillo virtual desde su blog <span style="font-weight: bold; color: rgb(0, 0, 0);">Espelunca</span><span style="color: rgb(0, 0, 0);"> </span><span style="font-weight: bold; color: rgb(0, 0, 0);">[ http://zonabranca.blog.uol.com.br ]</span>, sempre aportando buena onda para la liberacione des mentes y korazanos del beneno del kangylon general. </span><span style="color: rgb(0, 0, 0);"><span style="color: rgb(0, 0, 0);">Numa época en que el lenguaje utilitário se degrada cada vez más al ser manejado de modo egoísta y merkantilezko, tratando leitores como meros consumidores de signos y productos, la fé de Ademir Assunção en el fuego primitibo de la palabra paralela a su desconfianza zenbudista y tupyguaranga - y non zébundista - de la palabra, también lo vincula a las mais diversas poétikas de culturas ancestrales panamerikanas y orientales, asi como lo diferencía de la mayoria de los poetas de su geracione. Esta conbersa também está publikada en la nueba y bella edicione de <span style="font-weight: bold;">Zona Branca</span> <span style="color: rgb(0, 0, 0); font-weight: bold;">[Travessa dos Editores, Curitiba, 2006] </span></span><span style="font-weight: bold;"><span style="color: rgb(0, 204, 204);">[DD]</span><br /><br /><span style="font-size:100%;"><br /></span></span><span style="color: rgb(0, 204, 204); font-weight: bold;font-size:100%;" >1</span><span style="color: rgb(0, 204, 204); font-weight: bold;font-size:100%;" >1 PREGUNTAS PARA ADEMIR ASSUNÇÃO</span></span></span><span style="color: rgb(0, 0, 0); font-family: verdana;font-family:verdana;font-size:78%;" ><br /></span><span style="font-weight: bold; color: rgb(0, 0, 0); font-family: verdana;font-family:verdana;font-size:78%;" ><br />1. Seu primeiro livro é o LSD Nô (Ed. Iluminuras)... e agora você está colocando na roda seu segundo livro de poemas, ZONA BRANCA (Ed. Altana, 2006 / Travessa dos Editores, 2006)... Gostaria que você falasse tudo o que pudesse de ambos...</span><span style="color: rgb(0, 0, 0); font-family: verdana;font-family:verdana;font-size:78%;" ><br />Uma das experiências fundamentais na minha vida foi ter conhecido os cogumelos alucinógenos. Com eles, percebi que o que chamamos de “realidade” é apenas uma medonha redução dos nossos canais perceptivos. Outra experiência fundamental foi conhecer o zen. Se os cogumelos me abriram as portas da percepção através do “desregramento dos sentidos”, como disse Rimbaud, o zen também me ensinou a perceber outras realidades, mas através da disciplina, da concentração. Essas duas experiências criaram em mim uma profunda desconfiança com as palavras. William Burroughs dizia que a lógica aristotélica é um desastre na trajetória humana. Porque podemos entupir nossas cabeças de conceitos e aniquilar nossa percepção direta das coisas. Quando escrevi os poemas do LSD Nô eu estava interessado em fraturar as palavras, arrancar com as unhas as crostas que as encobrem. Queria a palavra em carne viva. Como sempre fui muito ligado à música, tentei fazer com que as palavras soassem como sons de uma cítara indiana, como mantras imantados pela eletricidade de uma guitarra elétrica. Zona Branca é um desenvolvimento dessas mesmas idéias. Só que, neste livro, procurei trabalhar ao máximo as imagens, como se os poemas fossem pequenos filmes sonhados por um nômade cego e louco.<br /></span><p style="color: rgb(0, 0, 0); font-family: verdana;font-family:verdana;" class="MsoNormal"><span style="font-size:78%;"><br /><span style="font-weight: bold;"> 2. Você também me enviou A MÁQUINA PELUDA, livro de prosa experimental & antropofágica... Fale-me também tudo o que puder dessa curiosa máquina...</span><br />A Máquina Peluda é um livro de prosa escrito por um poeta. De alguém que não tem uma visão passiva diante da linguagem. O livro expressa minha ancestral desconfiança com as palavras e com a narrativa linear. Expressa também meu desconforto de viver em uma sociedade doente e desritualizada. A maior parte do tempo me sinto como aquele cachorro do poema de Fernando Pessoa: “Deitei fora a máscara e dormi no vestiário / Como um cão tolerado pela gerência”. Mas como não tenho vocação para abanar o rabo, acabo arrumando uma saída pelo humor. Com A Máquina Peluda procurei tirar um enorme sarro de tudo o que acho absurdo: o consumismo, a publicidade, o mundinho da literatura acadêmica e a manipulação política, religiosa, histórica e jornalística. Creio que o livro tem parentesco com a antropofagia de Oswald de Andrade, com o humor cético de Beckett e com a escrita anárquica de Leminski.<br /><span style="font-weight: bold;"></span></span> <!--[if !supportLineBreakNewLine]--></p><p style="color: rgb(0, 0, 0); font-family: verdana;font-family:verdana;" class="MsoNormal"><span style="font-size:78%;"><span style="font-weight: bold;">3. Você também escreveu o CINEMITOLOGIAS, que ainda não me enviou, mas do qual eu já li três fragmentos na revista CIGARRA, de Santo André (SP)... e que parece um texto híbrido meio prosa e poesia ao mesmo tempo...</span><br />Isso, é uma prosa-poética com ritmo de cinema americano. Trabalhei com imagens de sonhos e de mitologias ancestrais. Estou cada vez mais interessado em cavocar no subsolo da consciência humana. Já que vivemos numa época de alucinação coletiva, com uma incessante enxurrada de informações visuais, auditivas e verbais, procuro encontrar alguma essência no meio do excesso. “Cinemitologias” teve apenas 100 exemplares e está totalmente esgotado. Minha idéia era essa mesma: fazer um objeto que se tornasse raridade em pouco tempo. Apenas 100 pessoas possuem um exemplar. </span></p> <p style="color: rgb(0, 0, 0); font-family: verdana;font-family:verdana;" class="MsoNormal"><span style="font-size:78%;"><span style="font-weight: bold;">4. O que é um bom poema para você...?</span><br />Há uma frase de Nietszche que expressa o que penso sobre este assunto: “De tudo o que se escreve aprecio somente o que é escrito com o próprio sangue.” Você também escreveu algo belíssimo: “O fogo da palavra pode incendiar uma paisagem.” Os poemas que mais me impressionam são aqueles escritos com este espírito.<br /><br /><span style="font-weight: bold;"> 5. Itamar Assumpção e o Edvaldo Santana já musicaram seus poemas... Fale-me do que você pensa que seja a boa letra de música que sempre acaba compensando o lixo industrial... Gostaria de ouvir você falar dessa nova safra de músicos que começam a se fazer ouvir, como Madan e os outros...</span><br />Na orelha do livro Zona Branca escrevi uma espécie de fábula contemporânea utilizando a idéia da “White Zone”, que encontrei no disco “Joe’s Garage”, de Frank Zappa. Zona Branca seria um presídio de segurança máxima para onde são enviados os rebeldes, dissidentes e arruaceiros. Menos que uma penitenciária convencional, com muros altos e grades de ferro, trata-se de uma área de exclusão localizada fora do espaçotempo. Aqueles que são enviados para lá e que conseguem sobreviver “testemunham a cooptação de muitos artistas, transformados em celebridades e burgueses decadentes. Percebem a grosseira manipulação de fatos e idéias, responsável pelo ostracismo de criadores brilhantes e pelo sucesso de clones descartáveis.” Com isso, quis criar uma metáfora da situação artística brasileira atual. Há criadores brilhantes em atividade no Brasil que estão sendo brutalmente empurrados para a margem, enquanto a indústria veicula clones medíocres e descartáveis. E o pior de tudo: com a condescendência de “antigos rebeldes”, que acabaram se tornando celebridades conformistas, totalmente enquadradas dentro do “star sistem”. Itamar Assumpção é hoje um dos mais vivos e criativos poetas da música popular brasileira. É de uma riqueza imensa. Edvaldo Santana, Madan, Titane, Lenine, Bernardo Pelegrini, são grandes artistas, que poucos conhecem. Por quê? Porque a indústria musical, incluindo as emissoras de rádio e televisão, prefere veicular o lixo, a mediocridade, a repetição, o conformismo. Isso é um crime que deve ser cobrado. Ou vamos nos conformar em viver num país cada vez mais idiota?<span style=""><br /></span><br /><span style="font-weight: bold;"> 6. O que você me diz da poesia no Brasil hoje?</span><br />A poesia vive uma situação semelhante. Há ótimos poetas produzindo. Posso citar alguns como Rodrigo Garcia Lopes, Maurício Arruda Mendonça, Ricardo Aleixo, Josely Vianna Baptista, Marcos Losnak, Dennis Radunz, Cláudio Daniel, Mário Bortolotto, Joca Reiners Terron, Marcelo Montenegro, Elson Fróes. Estes escrevem uma poesia vigorosa, rica, contemporânea, desafiadora. Mas os que os jornais veiculam com alarde são geralmente os mais conformistas, mais acadêmicos, mais chatos. Detesto aqueles poetas que vivem repavimentando os caminhos já trilhados por João Cabral, Drummond, Bandeira, Paul Valéry, etc. Bashô já disse há mais de 400 anos: “Não siga os mestres. Procure o que eles procuraram”.<br /></span> <!--[if !supportLineBreakNewLine]--> <!--[endif]--></p> <p style="color: rgb(0, 0, 0); font-family: verdana;font-family:verdana;" class="MsoNormal"><span style="font-size:78%;"><span style="font-weight: bold;">7. Os espaços dignos para a poesia praticamente desapareceram nos grandes jornais do país... que antigamente publicavam poemas semanalmente... Como você percebe o espaço para a poesia na imprensa brasileira?</span><br />Quem estiver interessado realmente em poesia que procure as revistas editadas por poetas: Medusa, Babel, Azougue, Pulsar, Carioca. Os grandes jornais só estão veiculando o mofo. Estão totalmente desinformados.<br /><br /><span style="font-weight: bold;"> 8. Fale de tua convivência com as mitologias outras, indígenas, orientais, o zen, etc., nutrientes de tua palavra-alma...</span><br />Palavra-alma, veja que imagem fantástica. Você sabe que os guaranis utilizam a mesma palavra para designar “alma” e “palavra”. “Ayvu”. Ou “ñeeng”. “Ser” e “linguagem”, para eles, é uma coisa só. No livro A Terra dos Mil Povos, Kaká Werá Jecupé, um índio guarani, diz assim: “De acordo com nossa tradição, uma palavra pode proteger ou destruir uma pessoa. Uma palavra na boca é como uma flecha no arco”. Por aí, dá para perceber como grande parte dos povos indígenas encara a força da palavra. O zen, por outro lado, nutre grande desconfiança pela palavra. Os melhores livros sobre o zen advertem logo no início: “Se você quer realmente entender o zen, esqueça os livros e mergulhe diretamente na vida”. Mas esse aparente desprezo do zen pela palavra, na verdade, é um desprezo pelo discurso quando utilizado como anteparo da experiência direta. Porque o zen não é acessível pela via da lógica. Na vida, as coisas não acontecem de forma linear, com sujeito, verbo e predicado. A linguagem, como a utilizamos, é totalmente arbitrária. Por isso, o zen está muito mais próximo da poesia. O que os movimentos de vanguarda do ocidente procuram pode ser encontrado com facilidade nas culturas indígenas e orientais.<br /><br /><span style="font-weight: bold;"> 9. Gostaria de saber do teu processo de criação... Como nasce um poema seu... Etc... </span><br />Sou movido à poesia. Estudo muito. Não para me tornar uma enciclopédia ambulante mas para manter a minha vida em constante movimento. Então, procuro me manter estimulado o tempo todo. Quando minha vida está muito paradona, sem grandes surpresas, aí não adianta forçar que não sai um poema que preste. Não consigo encarar a poesia apenas como um exercício de técnica. É preciso ter algo a dizer. Vejo muita poesia cheia de truques mirabolantes mas que não diz nada. Não basta apenas um “corpo bonito, perfeito”. Sem o sopro de vida incessante, tanto a arte como as pessoas são apenas esqueletos ambulantes. <o:p> </o:p></span> </p> <p style="color: rgb(0, 0, 0); font-family: verdana;font-family:verdana;" class="MsoNormal"><span style="font-size:78%;"><span style="font-weight: bold;">10. Você também é jornalista... Jornalismo e poesia são inconciliáveis? Gostaria que me falasse do que pensa do jornalismo cultural hoje no país...</span><br />Gosto muito do jornalismo, desta coisa imediata, de escrever para ser lido no dia seguinte. Quando praticado com paixão, envolvimento e criatividade, o jornalismo propicia uma rapidez de raciocínio que me interessa bastante. Gosto de ler jornalistas que pensam e escrevem bem. O que anda meio raro, principalmente no jornalismo cultural. Quando comecei no jornalismo, queria escrever com aquela eletricidade do Torquato Neto. Estava cheio de idéias de vanguarda, pensava uma página de jornal como um fotograma de cinema, que podia ser composta com texto, imagens, recursos gráficos, tudo em busca de uma informação total. É assim que penso o jornalismo cultural. Não essa obviedade mórbida que vemos nas páginas da imprensa atualmente. Falta tesão e curiosidade para a maioria dos jornalistas culturais.<br /><br /><span style="font-weight: bold;"> 11. Você editou com o Ricardo Corona, o Rodrigo Garcia Lopes, o Key Imagure, a Jussara Salazar e a Eliana Borges a revista MEDUSA... Fale um pouco dessa experiência...</span><br />Nós estávamos descontentes com o panorama da poesia brasileira que estava sendo mostrado, por isso criamos Medusa. Focalizamos autores contemporâneos que estavam meio na sombra, como Sebastião Nunes, Glauco Mattoso, Pedro Xisto, e abrimos espaço para um punhado de novos criadores. Buscamos o diálogo com outras tradições poéticas, como as indígenas, através de poetas como Jerome Rothemberg ou antropólogos como Betty Mindlin. Valorizamos as pesquisas de novos artistas plásticos e procuramos criar uma linguagem gráfica arrojada e instigante. Enfim, tentamos ampliar a discussão sobre poesia no Brasil e conectá-la com as pesquisas realizadas em outras áreas do conhecimento artístico. Penso que o grande mérito da Medusa foi comprovar que a poesia brasileira continua vivíssima, mesmo contra a vontade dos velhos e desinformados coveiros de plantão.<br /></span></p><p style="color: rgb(0, 0, 0); font-family: verdana;font-family:verdana;" class="MsoNormal"><span style="font-size:78%;"><br /></span></p><p style="color: rgb(0, 0, 0); font-weight: bold; font-family: verdana;font-family:verdana;" class="MsoNormal"><span style="font-size:78%;">Mais Ademir Assunção aqui: <span style="color: rgb(0, 204, 204);"> http://zonabranca.blog.uol.com.br</span></span></p><p style="color: rgb(0, 0, 0); font-weight: bold;font-family:verdana;" class="MsoNormal"><span style="font-size:78%;"><span style="color: rgb(0, 204, 204);"><br /></span></span></p>Douglas Diegueshttp://www.blogger.com/profile/00799817140635576161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1305178475260110668.post-37429358045284376812007-08-01T23:47:00.000-04:002008-12-10T12:47:50.762-03:00ARTAUD Y EL TEATRO EN OROPA<span style="font-family:trebuchet ms;"><strong><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbmDv3qoEYqmLfTWNTlDFpRaEfv5PsMzMF8tl-FXmCxPwJ9JQDvKTHGf_VSydTJZ30ve4Ffze7HOWZ0t9Ua6U14O_m-NQUDW4uGEciPgp886T8F-3poDp8meL1WhO7ui3ZdhCHGycN5PU/s1600-h/LN+1.jpg"><span style="color:#000000;"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5093949454626313330" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbmDv3qoEYqmLfTWNTlDFpRaEfv5PsMzMF8tl-FXmCxPwJ9JQDvKTHGf_VSydTJZ30ve4Ffze7HOWZ0t9Ua6U14O_m-NQUDW4uGEciPgp886T8F-3poDp8meL1WhO7ui3ZdhCHGycN5PU/s400/LN+1.jpg" border="0" /></span></a><span style="color:#000000;">Lucila Nogueira</span></strong><span style="color:#000000;"> nació en Rio de Janeiro y además de poeta, es ensayista, cuentista, krítica literária, professora universitária y traductora. Tiene 18 libros de poesia publicados entre los cuales un par de títulos rarófilos como <strong>Almenara</strong> [1979]; <strong>Ainadamar</strong> [1996]; <strong>Ilaiana</strong> [1997-2000]; <strong>Zinganares </strong>[1998]; <strong>Imilce</strong> [1999]; <strong>Amaya</strong> [2001]; <strong>A Quarta Forma do Delírio</strong> [2002]. Su tesis de doctorado (defendida em 2002) abarca los livros <strong>O Cão sem Plumas</strong> y <strong>Morte e Vida Severina</strong>, de <strong>João Cabral de Melo Neto</strong>. Professora del curso de Postgrado en Letras y Linguística en la Universidade Federal de Pernambuco, ha publicado diversos ensayos que flotam por el mundillo birtual, como este, que apareceu en rebista <strong>Agulha</strong> [hecha entre Sampaulâdia y Fortalezalâdia bajo el komando de <strong>Floriano Martins</strong> y <strong>Claudio Willer</strong>] sobre <strong>Artaud</strong> y el teatro europeu, que ahora se publica en este <span style="color:#00cccc;">Ayvu Ayvu</span>. <strong>[DD]</strong></span></span><br /><br /><div><span style="color:#000000;"><span style="font-family:trebuchet ms;"><strong></div></strong></span></span><div><span style="font-family:trebuchet ms;color:#00cccc;"><strong>ARTAUD E A REINVENÇÃO DO TEATRO EUROPEU<br />Por LUCILA NOGUEIRA</strong></span></div><br /><div><strong><span style="font-family:Trebuchet MS;color:#000000;"></span></strong></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;color:#000000;"><em>"Eu vim ao México fugido da civilização européia...</em></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;color:#000000;"><em>Contrariamente ao que todos </em></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;color:#000000;"><em>foram levados a crer, </em></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;color:#000000;"><em>os povos anteriores </em></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;color:#000000;"><em>a Colombo eram </em></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"><em>estranhamente civilizados"</em></span></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"><br /><strong>Antonin Artaud</strong> </span></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"><br /><br /></span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyieC0fWdeU475OgFRzVFW3aLLp9SCoV5zAd84gMmvor1TpbVMbTitwMlc1jt1y_34HN4gHykTPUwDVSnX2u0MS_5HVvqKi53Z9chPIjzsRY4yp5Cfc1memsfRTxKc75FCZSPB_qBtZzU/s1600-h/AA+3.jpg"><span style="color:#000000;"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5093949699439449282" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyieC0fWdeU475OgFRzVFW3aLLp9SCoV5zAd84gMmvor1TpbVMbTitwMlc1jt1y_34HN4gHykTPUwDVSnX2u0MS_5HVvqKi53Z9chPIjzsRY4yp5Cfc1memsfRTxKc75FCZSPB_qBtZzU/s400/AA+3.jpg" border="0" /></span></a><span style="color:#000000;">Se na Europa já existia, portanto, um caminho trilhado nessa direção, o que haveria de conferir a Artaud o perfil de grande visionário do teatro no século XX? Desejando vivenciar seus próprios símbolos e mitos, ele consegue em 1936 uma bolsa e vai pesquisar os índios tarahumaras no México, passa quase um ano estudando antropologicamente o ritual do peyote, acreditando na cultura indígena como resgate de uma percepção do mundo que o ocidente dera por perdida. Também Malcom Lowry estaria em terras mexicanas por duas vezes e escreveria Debaixo do Vulcão; o sonho de despir-se Artaud da identidade de civilizado leva-o a alcançar um estado poético absoluto, onde caem por terra as estruturas arcaicas da linguagem, onde a retórica é inútil e a beatitude ultrapassa a reflexão. </span></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTfEsCn3h80JOGuuy5a9kEXTj2F2ZlpmVnKhq4E8teoRxF7pkPFadiZuoI6x7JzbvNcIfkvd9fCvswzZc0G2bPuLBQ_rvoIRvl_cy9FQ_ab6bcyYqeGBHDcqmb2hi4PQw2eWWVV0bp41g/s1600-h/AA+1.jpg"><span style="color:#000000;"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5093949454626313346" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTfEsCn3h80JOGuuy5a9kEXTj2F2ZlpmVnKhq4E8teoRxF7pkPFadiZuoI6x7JzbvNcIfkvd9fCvswzZc0G2bPuLBQ_rvoIRvl_cy9FQ_ab6bcyYqeGBHDcqmb2hi4PQw2eWWVV0bp41g/s400/AA+1.jpg" border="0" /></span></a>Também a identidade acha-se roubada ao eu pelo outro e Artaud guarda esse dilema, porque cada um carrega consigo o seu Lautréamont, o seu Hölderlin, o seu Strindberg, o seu Nietzsche, e eles são irredutíveis, até o fim da solidão (Joski). Daí a tentativa do teatro de Artaud de fixar a alteridade, desde o etnográfico ao metafísico; do questionamento da superioridade da Europa sobre os povos colonizados à crítica da superstição do texto em face da explosão da vida: indagando onde radica a justificativa que um continente pode ter para servir-se de outro, Artaud opõe a tirania dos colonizadores à profunda harmonia dos colonizados e evoca Montezuma, rei dilacerado, o das paredes de ouro cobiçadas pelos brancos invasores. Quando retorna à Europa, vai fazer uma peregrinação nos locais sagrados da cultura celta, aquela que foi derrotada historicamente pelos romanos; a partir daí é deportado para a França (setembro de 1937), por se encontrar sem recursos e em estado de grande exaltação. </span></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"><br /></span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6Fy-oK5BU7XpfHCq390n_tWKhcoJNtikpVTTcCCCoVxf2uPS5IBFn2t1r2r7xQsRE7cOAr7ItHlnaDC1oepSzrXy9_-SeOtcw8vv8WI48W2lkAzeKMXIwh23VP6x_jSVOqUTWlzr34dQ/s1600-h/AA+2.jpg"><span style="color:#000000;"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5093949458921280658" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6Fy-oK5BU7XpfHCq390n_tWKhcoJNtikpVTTcCCCoVxf2uPS5IBFn2t1r2r7xQsRE7cOAr7ItHlnaDC1oepSzrXy9_-SeOtcw8vv8WI48W2lkAzeKMXIwh23VP6x_jSVOqUTWlzr34dQ/s400/AA+2.jpg" border="0" /></span></a><span style="color:#000000;">Tem sido constante a consideração dos gênios como dementes, loucos ou visionários. Veja-se Blake, Goya, Van Gogh, Rimbaud. Nietzsche foi oficializado doente ao chorar em praça pública diante do chicoteamento de um cavalo. Exige-se socialmente uma normalidade com características de controle e objetividade. Mas a mente humana é passional, infantil, inocente. A crítica do conceito de espetáculo de Artaud expulsa a arte do teatro como falsidade, defendendo a união entre a poesia, a filosofia, o grito, a biografia em um único ato: escrever é o mesmo que viver, desaparecendo a cisão entre vida e obra. Lembra Claudio Willer que as suas propostas sobre teatro são hoje práticas correntes: a criação coletiva, a improvisação em cena, o primado do gestual e da expressão corporal, união palco e platéia, o happening, a performance; as correntes de pensamento da chamada contracultura são de alguma forma um legado de Artaud; também os estudos sobre a relação entre o corpo e a consciência, bem como a devoção que lhe dedicou o grupo reunido em torno da revista Tel Quel, tudo sinaliza para essa postura de rebelião radical que se recusa a compactuar com a violência absurda da civilização ocidental, e deu ensejo à geracão beat americana (Guinsberg, Burroughs, Kerouac) bem como ao movimento hippie dos anos sessenta, seguido por manifestações mais radicais como os punks, pós-punks e diversos tipos de orientalismo ocidental cotidiano. </span></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiC79XY977FBlcvk0nevv23dB-apv6x9bw4ktYOzAn6IQ70agqI-G6_Ck99ZEyoN2DR8elSvuwBYtSiMRgUrJxJr3RMkgtC3eGmP3dUKoXdGh62ZuHFcD5PRJHoYl7roD1XdsScMy1aUxM/s1600-h/AA+7.jpg"><span style="color:#000000;"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5093949699439449298" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 97px; CURSOR: hand; HEIGHT: 131px" height="118" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiC79XY977FBlcvk0nevv23dB-apv6x9bw4ktYOzAn6IQ70agqI-G6_Ck99ZEyoN2DR8elSvuwBYtSiMRgUrJxJr3RMkgtC3eGmP3dUKoXdGh62ZuHFcD5PRJHoYl7roD1XdsScMy1aUxM/s400/AA+7.jpg" width="88" border="0" /></span></a>Durante o tempo em que passou internado, Artaud demonstrou estar em plena posse de sua escrita. Denunciou as clínicas psiquiátricas como cárceres onde os internos provém mão-de-obra gratuita, onde a brutalidade é norma. Assim se dirigiu em sua "Carta aos Diretores de Manicômios":<br /></div></span></span><span style="color:#000000;"></span><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;">As leis, os costumes lhes concedem o direito de medir o espírito. Esta jurisdição soberana e terrível, vocês a exercem com o seu entendimento. Não nos façam rir. A credulidade dos povos civilizados, dos especialistas, dos governantes, reveste a psiquiatria de inexplicáveis luzes sobrenaturais. A profissão que vocês exercem está julgada por antecipação. ...Todos os atos individuais são anti-sociais. Os loucos são as vítimas individuais por excelência da ditadura social. .... Sem insistir no caráter verdadeiramente genial das manifestações de certos loucos, na medida de nossa aptidão para apreciá-las, afirmamos a legitimidade absoluta de sua concepção de realidade.<br /></div></span></span><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;">Aos 110 anos de seu nascimento só a poesia pode ter voz ao grande mestrestético e humano autor de um ensaio tão clarividente e profético como <strong><em>Van Gogh, o suicidado pela sociedade</em></strong>: </span></span></div><div><span style="font-family:Trebuchet MS;"></span></div><div><em><span style="font-family:Trebuchet MS;"></span></em></div><div><em><span style="font-family:Trebuchet MS;"></span></em></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"></span></span></div><div><span style="font-family:Trebuchet MS;"></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;color:#000000;"></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;color:#000000;"></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQkXzRVaSTK201YbiTnuEkfAATIcX5a_1vk0HyNFd0wnMb9iTtA7XUvkPaWdogQWSQ8TH0RFHn3D9pk24z1oEI7DARAJdaiXy4Bl9mkKK3HR1tCM0CbCLYKTSoWVI965WDFIAwpoR9zW4/s1600-h/AA+4.jpg"><span style="color:#000000;"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5093949458921280674" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQkXzRVaSTK201YbiTnuEkfAATIcX5a_1vk0HyNFd0wnMb9iTtA7XUvkPaWdogQWSQ8TH0RFHn3D9pk24z1oEI7DARAJdaiXy4Bl9mkKK3HR1tCM0CbCLYKTSoWVI965WDFIAwpoR9zW4/s400/AA+4.jpg" border="0" /></span></a></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"></span></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"></span></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"></span></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"></span></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"></span></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"></span></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"></span></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"></span></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"></span></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"></span></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"></span></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"></span></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"></span></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"></span></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"></span></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"></span></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"></span></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"></span></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"></span></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"></span></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"></span></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"></span></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"></span></span></div><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;">Artaud </span></div></span><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;">a Europa se esgotou<br />e tu vieste à América dos tarahumaras primitivos<br />dançando a força de seus rituais<br />até chegar ao estágio da visão.<br />Você queria entender o sol<br />participar do transe de secretas ordenações<br />como se tudo fosse uma espécie de lição<br />e agora alguma coisa te restitui<br />ao que existe do outro lado de ti<br />aprende Artaud<br />a reconhecer os sinais<br />os deuses nos contemplam dos rochedos<br />e eles nada pedem<br />só o físico sobrenatural<br />só a matéria de tua pele<br />em carne viva desde sempre<br /></span><span style="color:#000000;">a refletir um sonho que se vai<br />agora conheces os que curam através do sonho<br />e sabes que um branco é apenas um homem<br />que os espíritos abandonaram<br />agora sabes das cruzes com os espelhos amarrados entre dois sóis<br />raiz hermafrodita<br />labareda<br />faz teu apelo às forças obscuras<br />Artaud<br />grande mestre curandeiro<br />o rito da aurora negra<br />na noite eterna do sol. </span></span></div><div></div>Douglas Diegueshttp://www.blogger.com/profile/00799817140635576161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1305178475260110668.post-72966974920261945782007-06-20T23:49:00.000-04:002008-12-10T12:47:51.193-03:00LUIZ ROBERTO GUEDES POESIA & BEATLES<span style="font-family:trebuchet ms;font-size:78%;color:#000000;"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5078361346294644098" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKv8OSQgtonzAw-IzsTEZeyPX9pviCrpeFTfR2UF1UwtYyCOriBn8mZ72WAU4mdpHvxF9K-itgCQ3AVlZ0KgRhpUXvC1zHD-WqSZrkawZwmcQ_WXupLtOOY1FWr7b1SlfrecfzjysrsT0/s400/luizrobertoguedes.jpg" border="0" /></span><span style="color:#000000;"><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:78%;">Brasil es grande y pequeno demais para la poesia. Y em el âmbito de esta significativa variedade de estilos, anti-estilos, modos y maneiras, los suplementos literários y cuadernos kulturales de los jornaes brasileiros ficaram pequeños demais para abarcar la imensa polifonia em flor – de los índios a los punks – que non para de florescer. <strong>Luiz Roberto Guedes</strong> é um desses poetas para quem Brasil es pequeno y grande demais. Su literatura, que abarca narrativa, poesia, traducción y letras musicadas, es jóia encontrada em el matadero de la banalización y mercancia. <strong>Calendário Lunático </strong>- Erotografia de ana k [Edições Ciência do Acidente, SP; 2000] traz uma boa amostra do talento verbal de Luiz Roberto Guedes. Rimas ricas & raras para estes dias de destruicione y miséria mental. Rimas iluminando la noche decadente de Sam Paulo. Orgasmos verbales contra la pereza cerebral y la razom gananciosa. Ritmos de blues a lo provenzal. Poesia que pide para ser dicha em voz alta. Fina artesania. Recentemente estuve hospedado em el bangalô del Guedes en algum lugar de la Avenida Paulista. Eram noches de charlas, com Javier Barilaro algumas vezes, Cristian de Nápoli durante uma noche, charlas que nunca terminabam, porque continuabam el dia seguinte, y la poesia era el fuego al rededor del cual giraban las conversas. En uma de esas, Guedes nos mostra las traduciones que había hecho de canciones de los Beatles. Ontem yo le pedi algumas de esas traduciones. Y en generoso komandante Guedes nos mandou um par de ellas. Lo que sigue es uma conbersa com el poeta Luiz Robero Guedes y um poco de Beatles en las traduziones al português. Diviertánse! <strong>(DD)</strong><br /><br /><br /><strong>CONBERSA COM LUIZ ROBERTO DIEGUES </strong><br /><strong>Por Douglas Digues</strong><br /></span></span><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:78%;"><span style="color:#000000;"><strong>1. Fale-me tudo que puder sobre <em>CALENDÁRIO LUNÁTICO - Erotografia de Ana k</em>, publicado recentemente pela Edições Ciência do Acidente...<br /></strong>Ali por 1988, notei que tinha um conjunto de poemas, uns queixumes sentimentais, de dicção marginalóide, que já constituía uma “erotografia”, deflagrada por uma mulher real, uma canceriana, filha da Lua... Nos dois, três anos seguintes, acrescentei poemas ao projeto, já elaborando o “fantasma” nessa figura arquetípica de Ana K. Essa órbita lunar atraiu deusas e mitos para o caldeirão. O Calendário Lunático se impôs como um canzoniere, daí o ritmo de canção ou balada, o metro popular, a licença para “trovar”, conferida por Roland Barthes, com seu Fragmentos de um Discurso Amoroso. O Calendário poderia ser um diário fragmentário ou um videoclip verbal. Em 99, ainda inédito, o poemário ganhou o Prêmio de Poesia Lilia Pereira da Silva. A edição saiu no ano seguinte.<br /><br /></span></span></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:78%;"><span style="color:#000000;"><strong>2.Como é o teu processo de composição de um poema? Qual é a tua filosofia da composição?<br /></strong>Não sei se tenho propriamente um “processo”. O que surge inicialmente é um lampejo, um “verso”, se me perdoa a palavrinha dita “jurássica”. Esse núcleo inicial propõe algo que vamos buscando, conformando; creio que todo poema é um descobrimento. No caso do Calendário, a música fluía juntamente com as palavras: melopéia, dixit Pound. Essa música, velada ou revelada, impregna também meus poemas em prosa. Aliás, se você reler, com os ouvidos atentos, uma página de Os Maias, de Eça de Queiroz, vai se deleitar com os timbres, ecos, ressonâncias, sibilos, tilintares. Essa ‘ourivesaria’ verbal, digamos assim, marca a nossa herança lusolírica. Podemos até lutar contra ela, evitar “poetizar a flor”, como escreveu João Cabral, mas não atirá-la ao mar. Talvez esteja aí minha filosofia composicional: navegar nesse mare nostrum, pelo gozo do texto, por necessidade da narrativa.<br /><br /></span></span></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:78%;"><span style="color:#000000;"><strong>3.Você também assinou letras de MPB ,sob o nome de Paulo Flexa... Como é o processo de composição de uma letra de MPB e quais as diferenças em relação à composição de um poema... Enfim, como funciona a poética das letras e o que é ou deveria ser uma boa letra de MPB?<br /></strong>Escrevo letras desde a eclosão do tropicalismo, na esteira do “arrepio poético” que foi o Sgt. Pepper Lonely Hearts Club Band. Meu pai era músico, tocava clarinete. Meu povo é musical: meu primo mineiro Beto Guedes, também filho de músico, tem uma carreira profissional há bem mais de vinte anos. Comecei a letrar mais regularmente, e a ser gravado, quando meu primo e xará Luiz Guedes (Luiz MacArthur Costa Guedes, 1949-1997) iniciou uma dupla com Thomas Roth e gravaram seu primeiro LP, pela Odeon, ali por 1982. Devido a ser homônimo do Lulu, tive que abrir mão do meu batismal e assumir essa máscara de “Paulo Flexa”. Um pseudônimo confere uma grande liberdade. Compus e componho ocasionalmente com outros parceiros, César Rossini, Ronaldo Rayol, Beto Strada, Ivaldo Moreira, Fábio Stefani. O processo mais fácil e mais iluminador, eu creio, é colocar a letra sobre uma melodia virgem, onde os sons provocam idéias e um primeiro verso pode propor toda a “história”. Um procedimento habitual, “profissional”, digamos, é titular a canção com o verso cantado no refrão. Lulu & Thomas chegaram a musicar um texto meu, avulso, Grande Circo Universal, mas essa prática, eu creio, limita muito as possibilidades da melodia. Eu diria que há compositores-poetas, no Brasil, que partem do verso, da letra, e trazem a música a posteriori, para vestir as palavras. Nesses casos, para o meu gosto, a música fica sendo um pouco acessória. O que parece mais natural é o jorro melódico, o ribeirão musical Pixinguinha que fez Braguinha escrever, “Meu coração... quando te vê...”. A boa letra de música é aquela que adere indissoluvelmente à melodia. Pense em qualquer clássico da música brasileira. Você entra num bar e tem alguém cantando Lupicínio, Ary Barroso, o Chão de Estrelas, com aquele verso estelar de Orestes Barbosa, “tu pisavas no astros distraída”... E uma centena de outros, clássicos e contemporâneos, o que dá no mesmo. Meu primo Lulu Guedes tinha uma boa definição para esse ofício de compor: “Um verso não precisa ser intelectual, genial; tem que ser bom de cantar, tem que ser sentido, provocar emoção”. Esse é um ABC da composição, válido desde o tempo em que Castro Alves letrava modinhas. Quanto à diferença com o poema, creio que este é uma investigação algo diferente; pode apoiar-se na música das palavras, essa música pode ressoar “incidentalmente”, mas o poema dispensa banquinho e violão para mover-se (e causar comoção?) na página em branco. Por mais que muita e boa poesia se ouça nas canções brasileiras.<br /><br /></span></span></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:78%;"><span style="color:#000000;"><strong>4. Como se dá essa relação entre motz el Son (palavra e melodia) em seu trabalho com a palavra no poema...<br /></strong>Meu prazer poético (por que chamar de “trabalho”? ) é muito banhado em música, por conta dessa infância com pai tocando clarinete na sala. Isso afina o ouvido para sempre. Até por causa disso, que pode se tornar uma facilidade, procuro não dizer em excesso, dizer só o que cabe no poema, sem mais flautas. Falo de modo geral, porque o Calendário foi minha licença para cantar. Cantigas d’amor e de maldizer.<br /><br /></span></span></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:78%;"><span style="color:#000000;"><strong>5. Como percebe a situação da poesia brasileira contemporânea...<br /></strong>Sobre a cena poética contemporânea, há uma grande efervescência nacional, iniciativas como o seu Trópico Sur/Sul, revistas, jornais, sites, com uma variedade de “dicções”, filiações, um ansiedade de descobrir que poesia é possível num novo século. Há um certo predomínio, crítico e/ou midiático, de uma vertente culta, auto-referencial, pós-experimental-com-cartilha, mas também há choques, polemiquinhas, contestação e um saudável impulso pelo direito ao uso de todo o repertório da tradição, sem mais uma camisa-de-força ideológica. O que me parece é que muitos poetas se ressentem da desimportância pública do poeta-ele-mesmo, sem banquinho & violão. Tudo muito divertido. No fim, vale sempre aquilo que disse Lorca, “el arte, o tiene duende o no tiene duende”. O talento individual é que vai prevalecer sobre fôrmas e fórmulas.<br /><br /></span></span></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:78%;"><span style="color:#000000;"><strong>6. Como percebe o espaço para a poesia na chamada “grande imprensa" do eixo Rio-São Paulo”?<br /></strong>Espaço para poesia na grande imprensa sempre existe algum, mas mínimo, considerando que deve haver uns 88.000 poetas no país. Nem os numerosos suplementos e revistas existentes podem dar conta. Em geral, são espaços geridos segundo concepções e paradigmas. Mesmo a menor revista literária tem seus crivos de filtragem. “Poetburos” à parte, o fato é que livro de poesia o poeta tira de seu próprio bolso. Manoel Bandeira publicou seu primeiro livro com cinqüenta anos. Se o poeta persistir o bastante nessa “longa besteira do gênio”, como disse Oswald, poderá ter sua antologia editada comercialmente, por grande editora, quando for um venerável ancião. Porque poesia realmente não é mercadoria. Enquanto isto, as novas tecnologias facilitam a produção de um livro, a criação de um site, uma vitrine virtual, o diálogo eletrônico intercontinental. O clube universal dos amigos da poesia.<br /><br /></span></span></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:78%;"><span style="color:#000000;"><strong>7. Você recentemente participou do CD Melopéia, com os sonetos musicados do Glauco Mattoso... Fale também tudo que puder sobre Melopéia...<br /></strong>Melopéia é um projeto mattosiano, acalentado e acolhido prazerosamente pelos estrelos convidados. Amigo do Glauco desde o século passado, dei um jeito de me infiltrar no elenco com meu parceiro Fábio Stefani (guitarra-solo da nossa banda, há uns... 70 anos). Martelamos alegremente o Soneto Pacifista em forma de balada pop dos anos 60, com sonoridades Beatles. O CD tem um leque enorme de linguagens musicais, do experimentalismo de Arnaldo Antunes ao metabrega de Falcão e Eriberto Leão, do samba-enredo ao rock escatológico.<br /><br /></span></span></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:78%;"><span style="color:#000000;"><strong>8. Como percebe a relação amor/poesia em seu trabalho?<br /></strong>De que “amor” falamos? Amor romântico, pasión? Só o Calendário é que se debruçou sobre essa idéia de amor que é “fogo no coração e fumaça na cabeça”. De modo geral, creio que minha poesia é imantada por maya, a ilusão do real, tempo, memória, imanência, finitude, ouvir vozes. Escrever o poema porque sim, do mesmo modo que um cavernícola de Altamira pintava animais na pedra. Um modo de dizer “estive aqui”, ou, talvez, “estarei aqui?”.<br /><br /></span></span></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:78%;"><span style="color:#000000;"><strong>9. Como percebe a crítica de poesia no Brasil?<br /></strong>Não leio toda a crítica que se publica, mas posso dar um relance impressionista. Penso que a crítica de poesia, restrita a suplementos e revistas, se dá, o mais das vezes, por afinidades estéticas. A escolha dum objeto de crítica como pré-aprovação, o descarte de outro por estar em dissonância com tais ou quais paradigmas. Mas há muito menos crítica de poesia do que deveria. Assim, o ‘poetariado’, como diz Claudio Daniel, fica à míngua de uma visão propriamente crítica para nortear um aprendizado. Falta espaço também para a crítica e até aquela generosidade de um José Paulo Paes, por exemplo, que respondia a cartas de poetas imberbes, opinando sobre seus escritos.<br /><br /></span></span></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:78%;"><span style="color:#000000;"><strong>10. Que surpresas você guarda nas gavetas? Fale sobre isso...<br /></strong>As “vozes na gaveta”? Dois livros inéditos de poesia, um livro de contos, uma novela histórica (suposta epístola do padre Manoel da Nóbrega, escrita em português quinhentista), e uma novelinha juvenil nova, o retorno do meu lobisomem, que estreou em Lobo, Lobão, Lobisomem, pela Saraiva, em 1997. Neste ano, vou publicar outros juvenis: Anjos do Mar, uma aventura com golfinhos, em Fernando de Noronha, Treze Noites de Terror, 13 contos macabros, e um livrinho safado, impróprio para menores: Minima Immoralia, com 60 limericks traduzidos. O limerick é um formato poético anglo-saxão muito popular, de 5 versos, que trata só de sacanagem, com língua chula e algumas rimas ricas. Talvez publique um livro de poesia, se fizer bom tempo.<br /><br /></span></span></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:78%;"><span style="color:#000000;"><strong>11. O que é um bom poema para você?<br /></strong>Talvez aquele que me golpeia com uma imagem súbita, lancinante — touché! Como este terceto de Salvatore Quasimodo, “Cada um está só / sobre o coração da Terra / trespassado por um raio de sol”. Soa molto meglio em italiano.</span></span></span><span style="color:#000000;"><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:78%;"><br /><br /></span><br /></span><p><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:78%;"></span></p><p><span style="font-size:78%;color:#000000;"></span><span style="font-family:trebuchet ms;"></p></span><br /><span style="font-size:78%;color:#000000;">BEATLEGEDZ<br /><br /><br /></span></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:78%;"><span style="color:#000000;"><strong>TÔ SÓ DORMINDO<br />I’m Only Sleeping — Lennon & McCartney<br /></strong><br /><br />Quando eu acordo muito cedo<br />Nem me mexo, só bocejo<br />Sonho que navego num jardim<br />Eu me deixo lá em mim (lá em mim)<br /><br />Não me chame, não reclame<br />Não, não toque em mim<br />Tô só dormindo<br /><br />Acho que me acham preguiçoso<br />Eu nem ligo, eu acho louco<br />Esse corre-corre que no fim<br />Dá em nada... eu já vi (eu já vi)<br /><br />Tô além daqui<br />Não toque em mim<br />Além do mais<br />Tô só dormindo<br /><br />II<br /><br />Fico de olho no mundo lá na janela<br />Deixo estar... deito lá, olhando para o teto<br />Me vem sono e eu navego...<br /><br /></span></span></span></span><p></p><p><span style="font-size:78%;color:#000000;"></span><span style="font-family:trebuchet ms;"></p></span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:78%;"><span style="color:#000000;"><strong>EU SOU O HOMEM-OVO<br />I am the Walrus — Lennon & McCartney<br /></strong><br />Eu sou ele tu és ele<br />Ele é eu e estamos todos juntos<br />Voa, porcão<br />Hora do facão<br />Que confusão, eu choro.<br />Sentado num cabide, esperando a condução<br />Grava na gravata grife da empresa, cara, vai com garra, põe<br />A máscara de mau...<br />Eu sou o cara, todos os caras, o Homem-Ovo<br />Có, có, có, có, có, có...<br />Olha os policiais marchando bonitinho pro quartel<br />Tiram o chapéu<br />Pra Lúcia no céu<br />Que escarcéu, eu choro...<br />Eu choro, eu choro, eu choro<br />Creme de remela olho de cachorro morto<br />Carangajo crau espeta mulherpeixe pornoprincesinha sem<br />Calçola na canção<br />Eu sou o cara, somos os caras, o Homem-Ovo<br />Có, có, có, có, có, có...<br />Sentado num jardim inglês, esperando o sol<br />Se o sol não vem como convém<br />A chuva te bronzeia bem<br />Eu sou o cara, somos os caras, o Homem-Ovo<br />Có, có, có, có, có, có...<br />Mascamosca mascarado<br />O palhaço ri da tua cara (rá, rá, rá)<br />Berro global<br />De gado no curral<br />Rebu total<br />Eu choro...<br />Sargento Sardinha escalando a Torre Eiffel<br />Quânticos pingüins cantando Hare Krishna<br />Cansam de bicar a cara de Edgar Alan Poe<br />Eu sou o cara, nós somos todos, o Homem-Ovo!<br />Có, có, có, có, có, có, có, có, có, có...<br /><br /><br />[05.09.2002]<br /><br /><br /><br /><br /></span></span></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:78%;"><span style="color:#000000;"><strong>BALADA DE JOHN & YOKO<br />(Lennon&McCartney)<br /></strong><br />Ficamos lá na beira do porto<br />Querendo embarcar pra Paris<br />Um cara no cais disse “voltem pra trás”<br />Nenhuma chance de viagem feliz<br /><br />Cristo, como é difícil<br />Só você sabe, Jesus<br />Se for desse jeito<br />Vão logo me pregar na cruz<br /><br />Pegamos avião pra Paris<br />Cidade-Luz em lua de mel<br />Peter Brown deu alô<br />Ulalá vocês dois<br />Dá pra casar em Gibraltar no papel<br /><br />Cristo, como é difícil<br />Só você sabe, Jesus<br />Se for desse jeito<br />Vão logo me pregar na cruz<br /><br />Bacana uma semana na Holanda<br />Na cama nós falamos de paz<br />“Na cama, por quê?”, o jornal quer saber<br />Eu disse “a gente quer um pouco de paz”<br /><br />Cristo, como é difícil<br />Só você sabe, Jesus<br />Se for desse jeito<br />Vão logo me pregar na cruz<br /><br />Poupe uma grana para o amanhã<br />Dê a sua roupa aos pobres<br />Minha patroa<br />Falou numa boa<br />Do mundo a gente leva só a alma<br />(Leve!)<br /><br />Demos um pulinho em Viena<br />Ensacados feito bonecos<br />O jornal falou “Maluco pirou —<br />Parece um casal de traveco”<br /><br />Cristo, como é difícil<br />Só você sabe, Jesus<br />Se for desse jeito<br />Vão logo me pregar na cruz<br /><br />Avião de volta pra Londres<br />Levando as sementes da paz<br />Imprensa local<br />Falou “Que legal,<br />Tomara que vocês cheguem lá”<br /><br />Cristo, como é difícil<br />Só você sabe, Jesus<br />Se for desse jeito<br />Vão logo me pregar na cruz<br /><br /><br /><br /><br /></span></span></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:78%;"><span style="color:#000000;"><strong>EU SOU O FISCO<br />Taxman, George Harrison<br /></strong><br />Eu pego 100 que você tem<br />Te deixo 5 e tudo bem<br />Eu sou o fisco<br />Ié, ié, ié, confisco de renda<br /><br />Se você acha um exagero<br />Eu posso te deixar com zero<br />Eu sou o fisco<br />Ié, ié, ié, confisco de renda<br /><br />Se você rodar, eu taxo a rua<br />Se fizer amor, eu taxo a lua<br />Se você rezar, eu taxo a fé<br />E se caminhar, taxo teus pés....<br />Fisco...<br /><br />Não queira nem saber pra quê<br />(Paga, seu ministro!)<br />Eu tiro grana de você<br />(F-H-C!)<br />Eu sou o fisco<br />Ié, ié, ié, confisco de renda<br /><br />Quem vai morrer, que pague o chão<br />Recolha imposto no caixão<br />Eu sou o fisco<br />Ié, ié, ié, confisco de renda<br />Saiba que você trabalha para mim<br />Fisco!<br /><br /><br /><br /><br /></span></span></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:78%;"><span style="color:#000000;"><strong>FAÇO A GUITARRA CHORAR<br />While My Guitar Gently Weeps, George Harrison<br /></strong><br />Eu olho vocês, vejo o amor, 'stá dormindo<br />Faço a guitarra chorar<br />Eu olho pro céu, vejo a chuva caindo<br />Faço a guitarra chorar<br />Não sei por que, ninguém recorda<br />Como acordar esse amor<br />Não sei dizer se alguém se importa<br />Fecham a porta pro amor<br /><br />Eu olho pro sol, sinto o mundo girando<br />Faço a guitarra chorar<br />Eu vejo que só se aprende errando<br />Faço a guitarra chorar<br />Não sei por que você se perde<br />E se perverte também<br />Não sei por que ninguém percebe<br />Ninguém te alerta pro bem<br /><br />Eu olho vocês, vejo o amor, 'stá dormindo<br />Faço a guitarra chorar<br />Olho pra vocês...<br />Faço a guitarra chorar<br /><br /><br /><br /><br /></span></span></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:78%;"><span style="color:#000000;"><strong>PORQUINHOS<br />Piggies, George Harrison<br /></strong><br />Você viu quantos porquinhos<br />Rolando no chão<br />Mas a vida dos porquinhos<br />Não é sopa, não<br />Vivem no lixão<br />É o seu parquinho...<br /><br />Você viu quantos porcões<br />Tão engomadinhos<br />Vão aí pingando lama<br />Dando seus pulinhos<br />Com seus colarinhos<br />Bem passadinhos...<br /><br />Companheiros nos chiqueiros<br />Nem pensar em revolução<br />Nem um pingo de visão<br />Falta um bruto chacoalhão<br /><br />Por aí tem tantos porcos<br />Nessa vida porca<br />Vão sair pra jantar fora<br />Com madame porca<br />Pra comer toucinho<br />Defumadinho<br /><br /><br /></span></span></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:78%;"><span style="color:#000000;"><strong>EU QUERO É MAIS<br />I Feel Fine, Lennon & McCartney<br /></strong><br />Meu bem diz pra mim, será<br />normal amar assim, será feitiço?<br />Digo que por mim, eu quero é mais<br /><br />Diz que quanto mais amor eu dou<br />Ela quer mais — será que é vício?<br />Digo que por mim, eu quero é mais<br /><br />Isso é magia que ela fez<br />Ela é o anjo que eu sonhei<br /><br />Ela diz que só precisa amor<br />Pra ser feliz aonde for comigo<br />Digo que por mim, eu quero é mais<br /><br />Diz que quanto mais amor eu dou<br />Ela quer mais — será que é vício?<br />Digo que por mim, eu quero é mais<br /><br />Isso é magia que ela fez<br />Ela é o anjo que eu sonhei<br /><br />Ela diz que só precisa amor<br />Pra ser feliz aonde for comigo<br />Digo que por mim, eu quero é mais<br />Digo que por mim, eu quero é mais<br />Hum, hum, hum, hum...<br /><br /><br /><br /><br /></span></span></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:78%;"><span style="color:#000000;"><strong>MEU QUINDIM<br />Honey Pie, Lennon & McCartney<br /></strong><br />Garota operária<br />Inglesinha rude<br />[Hoje é estrela!]<br />Lá em Hollywood<br />Ah, se ela me ouvisse<br />Com meu bandolim<br /><br />Ó Quindim, a paixão enlouquece<br />Eu te faço essa prece<br />Volta correndo pra mim<br /><br />Ó Quindim, dia e noite eu suspiro<br />Como um triste vampiro<br />De um filme chinfrim<br /><br />Tu és uma deusa do cinema chique<br />Agora quando penso em ti<br />Já me dá um chilique<br /><br />Ó Quindim, ó meu drama romântico<br />Atravessa o Atlântico<br />E volta logo pra mim<br />[Ó Quindim, meu querubim!]<br /><br />Que bons ventos tragam tua embarcação<br />Para o porto do meu coração<br /><br />Ó Quindim, a paixão enlouquece<br />Eu te faço essa prece<br />Volta correndo pra mim<br />[Meu Quindim, Meu Quindim]<br /><br /><br /><br /></span></span></span></span></span></span></span>Douglas Diegueshttp://www.blogger.com/profile/00799817140635576161noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1305178475260110668.post-10113349055459059822007-06-20T00:16:00.000-04:002008-12-10T12:47:52.620-03:00XUL SOLAR Y EL NEOCRIOLLO<span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;"><span style="font-size:100%;"><strong><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwu1_O72XNrORu8-marwnFB_mYl2S6nbZPqxupyXGQ764uekR0T0xn4nRui8H9NljvJ9uOgCK7nVRmRRpdkDrWigRF-MdRyQMpjIS9VjAoaM6hq9gk-7ZE7E5EphvD30GbfkBP4I2mBjg/s1600-h/X+3.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5077997734363364658" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwu1_O72XNrORu8-marwnFB_mYl2S6nbZPqxupyXGQ764uekR0T0xn4nRui8H9NljvJ9uOgCK7nVRmRRpdkDrWigRF-MdRyQMpjIS9VjAoaM6hq9gk-7ZE7E5EphvD30GbfkBP4I2mBjg/s400/X+3.jpg" border="0" /></a></strong></span></span><span style="color:#000000;"><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:85%;"><strong>Oscar Alejandro Agustín Schulz Solari</strong>, ou <strong>Xul Solar</strong>, es uno de los artistas mais radicales de la vanguarda argentina del comienzo del siglo XX. Foi colaborador de ka revista Martin Fierro, al rededor de la qual se aglutinava el grupo ultraísta de Buenos Aires. Fue amigo e interlocutor de Jorge Luis Borges, Macedonio Fernández, Bioy Casares, entre otros. Pero era muy diferente de sus interlocutores. Y nunca se bastou com apenas una forma de arte. Além de la escritura, se ha dedicado a la pintura, ha inbentado nuebos juegos como el pouxadrez, nuebos idiomas como el “Neocriollo” (uma mescla de castellano, guarani y português, la lengua do futuro del sur del kontinente amerikano) y la “Panlingua” (segundo Rita Lenira “um idioma universal com bases numéricas e astrológicas, afim de que todos os povos se conheçam e se comuniquem melhor”). Em Brasil, parece que la obra de Xul Solar comienza a ser valorizada criticamente solamente em esta passagem de milênio, graças a los ensayos pioneiros de Dirce Waltrick do Amarante, Rita Lenira de Freitas y Sérgio Medeiros. Lea aqui el ensayo de <strong>Rita Lenira de Freitas Bittencourt</strong> sobre el Neocriollo de Xul Solar konfrontado al modernismo sudamerikano <strong>[DD]</strong><br /><br /><br /></span><span style="font-size:100%;"><strong>O NEOCRIOLLO DE XUL SOLAR E O MODERNISMO SUL-AMERICANO</strong></span></span></span><br /><span style="color:#000000;"><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:85%;">por RITA LENIRA DE FREITAS BITTENCOURT</span></span></span><br /><span style="color:#000000;"><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:85%;"><br /><strong>1. Vertentes modernistas<br /></strong>A premissa principal, que sustenta a nossa pesquisa1 , é a de que a poesia produzida nas décadas iniciais do século XX, na grande maioria dos países sul-americanos, e denominada modernista no Brasil, configura-se como um dos jogos ou cerimoniais de uma guerra simbólica, que se desenvolveu pelo confronto intelectual entre o velho - a cultura dos colonizadores, cujas formas tradicionais vinham, ainda, sendo praticadas e valorizadas - e o novo - a busca e a delimitação de um espaço e de uma estética específicos, em torno de três pontos principais: o redimensionamento da equação nacionalidade/herança cultural; a revitalização da discussão a respeito das relações entre arte ocidental e literatura, e a busca do direito permanente à pesquisa artística.<br />Foi a partir desta “guerra”, portanto, que se produziram e se sustentaram pelo menos dois desdobramentos da dicção moderna, que se definiram a posteriori: um, que caminhou no sentido de acomodar-se a uma proposta institucional e fundar os diferentes Estados Nacionais, e outro, que, por manter-se num espaço de exterioridade, constituiu um tipo poético que denominamos nômade e “sem-terra”, ou, se preferirem, uma “voz transnacional”.<br />Os poemas e formas visuais, cerimoniais guerreiros com os quais nos defrontamos durante o movimento vanguardista, recorrem, em sua elaboração, a diferentes estratégias bélicas, embora possamos apontar algumas constantes: buscam a liberdade de criação e linguagem, absoluta ou engajada, e pretendem a incorporação do popular e das particularidades locais; num giro em direção às formas de expressão identitárias, que nem sempre correspondem às formas ditas “nacionais”.<br />Como espécies de jogos, por serem atividades livres, circunscritas a limites precisos de espaço e tempo e submetidas a convenções que suspendem a lei ordinária e instauram uma nova ordem que, segundo Roger Caillois2 , estão na base da guerra/festa simbólicas, estas produções artísticas conseguem dar sustentação tanto a uma tendência moderna emergente, quanto a outra, de declínio.<br />A vertente que denominamos “modernista emergente” opta pela utilização das estratégias já citadas da perspectiva de construção das diferentes identidades nacionais, apoiando-se, ficcional e politicamente, na antropofagia oswaldiana e/ou nas diversas pulsões nacionalistas que estão na base da criação dos nossos Estados, ligando explicitamente a vanguarda artística e literária à política revolucionária. A ela filiam-se a maioria das revistas que circularam na época, por exemplo, Amauta, de 1926, no Peru; Actual e El Machete, ambas de 1924, no México; Repertorio Americano, também de 26, de São José da Costa Rica, além de Klaxon, de 22 e a Revista de Antropofagia, de 28, no Brasil.<br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfS0G5RoNDM84Gzp-ig4RzhiPfCYye_RUxtYkesD4j-L4ee5LTJyVTBkchOyq5nBfGt78RCrxKYDZzIgPl9OYTSvrvjLXMGGCUvMu1-ZJiexOl1XP62DK_ocTCeQc7u7E3SN5m8_DPw34/s1600-h/X+2.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5077997738658331970" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfS0G5RoNDM84Gzp-ig4RzhiPfCYye_RUxtYkesD4j-L4ee5LTJyVTBkchOyq5nBfGt78RCrxKYDZzIgPl9OYTSvrvjLXMGGCUvMu1-ZJiexOl1XP62DK_ocTCeQc7u7E3SN5m8_DPw34/s400/X+2.jpg" border="0" /></a>Por outro lado, a vertente “modernista de declínio”, ou pós-moderna, para a qual, segundo Lyotard, todas as direções possíveis são igualmente prováveis3 , utilizou as mesmas estratégias guerreiras e, de certa forma, ocupou os mesmos espaços, insistindo, no entanto, no ultrapassamento das barreiras simbólicas, e caminhando em direção a uma transnacionalidade essencial, que já não pressupõe mais a “cortesia” de uma guerra primitiva, ou seja, que ignora os limites, excedendo-os sempre, que desrespeita os pactos e que não se acomoda à malha estatal, a ela permanecendo exterior e estranha.<br /><br /><strong>2. Xul Solar</strong><br />O artista Oscar Agustín Alejandro Schulz Solari, que se autodenominava Xul Solar, foi, de 24 a 27, colaborador de Martín Fierro, a revista divulgadora do ultraísmo argentino, que optava por um modernismo mais cosmopolita ao denominar-se “un periodico quincenal de arte y critica libre4 ”. Seus trabalhos ocupam uma posição fundamental dentro daquele processo de renovação artística que aglutinava um grupo heterogêneo, cujas produções caracterizavam-se pela irreverência desestabilizadora e descentralizadora.<br />É neste contexto que entendemos a panlingua, um idioma universal criado com bases numéricas e astrológicas, a fim de que todos os povos se conheçam melhor e possam comunicar-se, e o neocriollo, com palavras, sílabas e raízes das línguas dominantes: o castelhano e o português, ambas inventadas por Xul Solar. Do neocriollo, criado especialmente para o Continente Sul-Americano. Citamos, como exemplo, um fragmento de Poema, publicado em Paris, na revista Imán, em 1931:<br /><br />I so esa ciuda hai otra ciudá’l revés, hosca, oscura i lenta qe vive i crece yuso, i sa gente también. El nadir es hondo, hosco, oscuro, brúmoso : qizás el manmundo, algún gran yermo.<br />Reveo la otra ciudá upa. Columnatas como cienpiés viaján a distrancos. Son discípulos tiesos, llevan maestros cúpulas, de ropaje ancho techue. A tumbos sobre chusma cieli suifeliz, qierrevuelta en bruma i cuágulos i bocetos de pienso : gelatina menti. Van a lejos, a lô vacuo.<br /><br />Aplicando variações lingüísticas que vão do espanhol ao português, passando pelo emprego de prefixos gregos e latinos e por algumas nuances do guarani, os textos em neocriollo atingem um espaço cosmopolita e sem fronteiras, ao contrário do regionalismo, que enfatiza exatamente a língua e a cor restritas e locais. As primeiras pesquisas dessa língua remontam a 1925 e constituem-se numa resposta ao esvaziamento das formas expressivas, propondo um sistema colaborador e alternativo entre os idiomas e no qual - apenas na dimensão estética - o guarani tem destaque. Por este viés, é uma linguagem que se desenvolve na contramão do genocídio, implementado no século anterior pela Grande Guerra, assegurando a sobrevivência do código não pela sua compreensão ou pela sua incorporação - como queriam os porta-vozes da corrente emergente - mas pela garantia do espaço ao estranho, pela deliberada/dolorida exposição da diferença.<br />No nivel da recepção, Xul Solar aposta na existência de um leitor moderno, com certa autonomia, capaz de estabelecer uma relação de cumplicidade com os poemas e lançar-se - ou não - à aventura de atribuição de sentidos. E em termos construtivos, aproxima-se de Mallarmè, na busca de uma resistência à banalização da linguagem, e de Joyce, recorrendo aos aspectos lúdicos, criativos e herméticos da linguagem, conforme aponta a pesquisadora Dirce Waltrick do Amarante.5<br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_LCtdR41KcYodLISThh88-BeegpgM2gpYd1WDqmXtxo4xDnwWlmWblUeXHMnDvcQncakfNeH96_pgAzKjfhbhx0iz3NXic4nEXfOygfuhmMjtrCUbpJ_o1TUCNZPGMYsNHvQZDRUedeA/s1600-h/X+4.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5077997742953299314" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_LCtdR41KcYodLISThh88-BeegpgM2gpYd1WDqmXtxo4xDnwWlmWblUeXHMnDvcQncakfNeH96_pgAzKjfhbhx0iz3NXic4nEXfOygfuhmMjtrCUbpJ_o1TUCNZPGMYsNHvQZDRUedeA/s400/X+4.jpg" border="0" /></a>Ironicamente, o poeta Xul dá-se ao luxo de criar línguas novas num momento de construção dos falares nacionais, com a chegada de levas de imigrantes à Argentina e à toda a América, e diante das apostas políticas no processo de construção de um sistema de produção acumulativo e acomodador da linguagem. Sua atitude destoa, também, da realidade econômica, pois aos movimentos de retenção ele contrapõe os de pura despesa, e diante da lógica do capital, ele propõe um gasto desmedido e sem propósitos. Neste sentido, sintoniza-se às vanguardas européias, ligando-se ao colonizador não mais por aquela antiga relação de dependência, e sim por um confronto ostensivo, deflagrado a partir da periferia, que expõe a si mesmo e ao “outro” em perspectiva heterodoxa.<br />É praticamente impossível, na trama neocriolla, identificar até onde vai o plástico e onde começa o lingüístico, e vice-versa, já que, como Paul Klee6 , Xul Solar consegue abalar, também, a combinação hierárquica que vigorou tradicionalmente entre o discuso e a forma. Veja-se, por exemplo, a aquarela País, de 1925, que constiui-se, na sua própria materialidade, uma criação alternativa, já que a técnica mais acadêmica e tradicional utilizada então era a pintura à óleo.<br />De uma perspectiva espacial, essa aquarela incorpora figuras que navegam no cosmos ou numa zona de indeterminação e abismo e não se apóiam em nenhum plano sólido. Ao mesmo tempo, por exibir as bandeiras dos países das Américas e pelo próprio título, parece indagar sobre o que se entende por “país”, situando a resposta para além das fronteiras geográficas, exasperando os tratados de limites e as marcas de civilizações específicas.<br />Aberta a diferentes leituras, pode indagar, se quisermos, sobre a própria sobrevivência da arte frente às grandes transformações, sobre a posição do intelectual, sua participação e responsabilidades públicas, e sobre a dimensão nacional que importa bens, discursos e práticas simbólicas, tentando articular-se ao regional e ao local. Ou pelo menos eram essas as indagações que seriam feitas nos tempos de Martín Fierro.<br />Localizados, intencionalmente, num espaço “fluido, casi vapor”, textos e formas apontam para a mescla essencial - “Sexpandan, ondulan voceríos de todas las línguas i de muchas otras póssibles.7 ”- na qual se fundem construção lingüística e construção plástica, a arquitetura textual de poemas e línguas estranhas às modernas arquiteturas urbanas trazidas por Xul ao plano visual.<br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEWlngKBE6rzjJv6qnYytlYlD2rN2iPND4c81w-08g-Pk9y6JlpaQoGFx49XFWWdCDQhashm_FflBjWcA-FfkIbyHOtLu9sQWp2F-e72VVp21_Ra2ZW6qfkvhr6pFtgTGcRIY-VvGmswk/s1600-h/x+5.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5077997742953299298" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEWlngKBE6rzjJv6qnYytlYlD2rN2iPND4c81w-08g-Pk9y6JlpaQoGFx49XFWWdCDQhashm_FflBjWcA-FfkIbyHOtLu9sQWp2F-e72VVp21_Ra2ZW6qfkvhr6pFtgTGcRIY-VvGmswk/s400/x+5.jpg" border="0" /></a>Artífice múltiplo, Xul Solar declara, em 1951:<br />“Sou campeão mundial de um jogo que ninguém conhece ainda: o pouxadrez. Sou mestre de uma escritura que ninguém lê ainda. Sou criador de uma técnica, de uma grafia musical que permitirá que o estudo do piano, por exemplo, seja feito em três vezes menos tempo do que se leva hoje. Sou diretor de um teatro que ainda não funciona. Sou o criador de um idioma universal, a panlíngua. Sou criador de doze técnicas pictóricas, algumas de índole surrealista e outras que levam à tela o mundo sensorial e ao ouvido soam como música. Sou, e isto é o que mais me interessa neste momento - além da exposição de pintura que estou preparando - o criador de uma língua que reclama insistentemente o mundo latino-americano.8 ”<br />Felizmente, para nós, não são apenas as regras do Pouxadrez que estão em constante mudança. A teoria literária, ainda que em ritmo bem mais lento, consegue, às vezes, resgatar da vala comum dos signos relegados, algumas experiências fundamentais. Há nos trabalhos de Xul uma inquietação polimorfa, uma dinâmica desestabilizadora que o situam num ponto singular, dentro e fora das vanguardas, num entre-lugar onde a criação artística escapa da lei comum, da letra da lei.<br /><br /><strong>3. O trilíneo<br /></strong>Nunca antes verbalizada9 , a língua neocriolla de Xul Solar parece alcançar sua melhor elaboração em um poema intitulado Vision sobre el trilineo, publicado em uma efêmera revista, destiempo10 , de 1936, - de apenas três números -, editada por Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy Casares:<br /><br /><strong>VISION SOBREL TRILINEO</strong><br /><br />núo hi hial’diáfano pro empiéöme. el signo, grande ante mí, está claro en xeól umbro; escali trépölo, entón encima fórmesele otro signo igual ke tamién trepö, i hidem idem, i así muitas vezes asta ke cánsömene, ya mui alti.<br />déitöme nel último trilíneo ‘mo en tapíz, i flotö con él. otro tal trilíneo acérkeseme y obsúbölo, i lueg’outro idem idem, etcé., nel mismo umbro núbido gris i brun.<br />luego penveö prum’planos, i calö ke son muros de cubicasas masbién celdas poco postas flotrah sin bam­boleo ni choke, con senda puerta i sendo yogi encérrio en san pose, fen’muerio ho entrançio. pro vov hi mai’más casas, una sobre outra, pero no cofixas: es brun ciudá o gran convento de santoh solos na niebla, hai casa más altas, algunas mui torri con meyor santo encima, o epi flotro en c’lor’halo, i nun hol c’lumi sin muros, kiz’templo, hai otros kiz’más santos fixos en disniveles nel mismo g”ral san pose. trepi vou, casa sobre casa hasta la última, halti, de cuya’zotea ‘mienze pampo bril’gris fen’ ‘tla sin nada ni nadie, i leqi un crepusc’o clar’gris i róseo. izkiér’ notö çerca outra brun casa ke tiénteme, pues está nova i vacía pa yi vive p’ra la san cuidá.<br />mirö yuso transueli, hi so ai gran trozos disrompios de otro tal pampo en umbro solo, pero preferö sube, i upa flotö hasta kentrö ha otro lis’pampo con crespusc’o jaldo: yi volun’fazö casa clar’bruna con cúpulo, porén no obítöla, pues logo resubö ha tercio pampo igual con çircuncrepusc’o blu, i yi volun’fazu bol’casa brun blúa, y yi métöme i san pósöme. kieru estár más upa i volun’suó tal con casa i too, pero en certo nivél párömen fus’blu cielo en pax ke mirö desde nel run, i dehsoltö la casa ke ya tro péseme, ke levi caige globi al suelo, pero tampoco ne bejóröme, pues tro pesö altiakí, i no subó más.<br />entón eu sóltömel hial’cuerpo ke levi caige pa la bol’casa, i upa eu entrö pa otro nochí mundo vasto ke sólo mirö circuncerca. sou ray ástrito entre plicruzío degran hialos i cristales kerer reflexan leqi, ke maneqan luxedros i disrayos’mo lali. esto diure dichi, porén no noicálölo: kiz’ke mi propio brilho yoísto no déxemene.<br />cho’ entón upasóltöme del ástrito i sou sólo unu nugro fus”puntu, i subö pa otro noche solo do no sentö ni caló nada: es mi propio peki nugri ke impídeme crusti.<br />mui viol’puqö i alfín ne resálgöme, ya sin ningún taro ni lembre ni gan’, i sou pur’blis, pues no tenö forma ni limites; ra’ periexpándöme nel cosminoche infinito do too es es puedi, hi too yi chi’ pérdese, i nostro mundo es fen’ despuma i mi exvida sólo una bólhita pre crepi, mui yus’.<br />pero esa tum bolha mui atráigeme desdese mundo, i zás yi fulmicáigöme, ra’ ensártinmen los varios mis cuerpos asta kes yus’ este mundo, re.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoRcQ0Nj8CBD65xdbWQNBceaPhj-EZSqpfYo6J8BS_ZeX9zxcmammr6aMf6ZFVwAxhRgqRHfY7ae_TlCQbtXSrbFcGjSAP_ey1-0rH-oTNuZG2aEnVUfE2yeFIikW1S3az-YhSmhHVeUU/s1600-h/x+7.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5077997738658331986" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoRcQ0Nj8CBD65xdbWQNBceaPhj-EZSqpfYo6J8BS_ZeX9zxcmammr6aMf6ZFVwAxhRgqRHfY7ae_TlCQbtXSrbFcGjSAP_ey1-0rH-oTNuZG2aEnVUfE2yeFIikW1S3az-YhSmhHVeUU/s400/x+7.jpg" border="0" /></a>XUL SOLAR<br />(41,5378)<br /><br />(ésto está en criol, o neocriollo, futur lenguo del Contenente)<br /><br />“GLOSA. Género común (epicoino), palabras ke acaban en o. másculo en u. los géneros disúsanxe según convengan, kier’. Verboh son regulares, participios terminan en -ido, ho -io. entre dos palabras dobletes, español i portugés, la más cercana’l original o más sencilla lleve acepció más simple o más físi, hi más leqa lõ más figúrido. palabras terminan en -i hagan de adjetivo ho adverbio de modo ho, xi precedan, de ablativo ho instrumental, como en patitie-so, ambizurdo; ami, en vez de amorosamente, cuerpi, en vez de corporalmente, almi, en vez de psíqicamente, etcé. su (común), seu, ( másculi), as (fémini) hi suó (neutro ho abstracto de lõ), hagan xu, xeu, xa, xuó, en plurál. j como en port, francés o casi inglés. y o hache al revés es nuestra j fuerte española; h suene siempre o no escríbexe. ~tilde nasal de portugés. g siempre suave. x como sh a la antigua; z como en port. Francés e inglés, s española; ke es h (fonética) antes de otra s. xeól ( da Biblia, hebr.) somundo almi (plano astrál, mundo del soño consciente, mundo dos muertos, etcé.) prum’, de primo, plómada-vertical (mente) fen’, manifiest (amente), en apariencia, como en fenómeno, fenotipo, etc. ‘tla, abrevio de metálico. p’ra de pará, al lado. jaldo, mui amarillo. vol o volun’ por voluntá. faze - to make, hage - to do. porém, pero, sin embargo. logo, pronto; luego, poco después. fus’, abrev. de fusco, oscuro, confuso. blu, azul ciánico, cuasi de prusia. bol, de bola, esférico eu, yo almi, más que yo mundi; ego, yo superior. edro, geomplano (geometri ), como en pliedro. cho, de choz (port. chofre) de repente, de golpe. blis (inglés), beatitud, bienaventuranza. bolha, o bolla, burbuja. crep’, de “reventar”, explotar, precepi antes de reventar. tum o tun, de tun o tunc, entón’ (lat.) provisorio, temporario.<br />(esta glosa, más longa ke as pretexto, puede mui sirve pa crioldríl (ejercitarse en criol).”<br />X.S<br /><br />Em nossos dias, diante das necessárias e importantes revisões do moderno/modernismo, das experiências neo-pop-pós-concretas e das re-leituras de ícones da pós modernidade como Joyce e Cage, torna-se cada vez mais nítida a visão de uma enorme e perturbadora constelação Solar.<br /><br /></span><span style="font-size:78%;"><strong>Notas</strong><br />1 As possibilidades de desenvolver este trabalho devem-se, em boa parte, ao professor dr. Raúl Antello, da Universidade Federal de Santa Catarina, que orientou o meu trabalho final de Mestrado e que empenhou-se, pessoalmente, durante três anos, na busca de textos de Xul Solar, inéditos ou “esquecidos” em revistas argentinas ou européias.<br />2 CAILLOIS, Roger. “A Guerra Cortês”. In: Anhembi, no. 31 São Paulo, junho, 1953.<br />3 LYOTARD, Jean-François. O pós-moderno. Trad. Ricardo Corrêa Barbosa.<br />2a. ed. Rio de Janeiro, José Olympio, 1986.<br />4 Xul Solar, Jorge Luis Borges e Pettorutti retornam para a Argentina em 1924. Participam, juntos, de projetos culturais como as Revistas Martín Fierro e destiempo, que reuniam a sua volta outros intelectuais da vanguarda portenha. Este grupo, conhecido como Florida, opunha-se ao Grupo de Boedo, de tendências esquerdistas e com uma visão mais social da arte. O slogan da revista expressa, então, este antagonismo que, na verdade, não tinha muita consistência. Segundo Borges, tratava-se apenas de uma “brincadeira literária”.<br />5 Cfe. comunicação “James Joyce e Xul Solar: uma mescla de línguas” apresentada no encontro de poetas do Mercosul “Poetas en la Bahía”, em 10/06/2000, na cidade de Assunción, Paraguai, pela psquisadora Dirce Waltrick do Amarante.<br />6 No artigo El arte paralelo de Paul Klee y Xul Solar, Jorge Glusberg aponta algumas afinidades entre as pinturas de ambos os artistas e informa que Xul Solar residiu em Munique, de 1921 a 1922, onde, provavelmente, travou conhecimento mais intenso com as obras do pintor alemão, que, na época, era professor da Bauhaus e residia em Weimar.<br />7 Cfe. Xul Solar, Poema. Revista Imán, editada em Paris por Elvira de Alvear, 1931.<br />8 Cfe. Gregory Sheerwood, Xul Solar, campeón mundial de panajedrez y el inquieto creador de la “panlíngua”, entrevista em Mundo Argentino, Buenos Aires, 01/08/1951. Tradução de Mário H. Gradowczyk.<br />9 Empreendemos, tanto no encontro de poetas do Mercosul, em Assunción, quanto no evento intitulado Bloomsday, realizado em São Paulo, em 16/06/2000, uma leitura parcial de Visión sobrel trilíneo, de Xul Solar. Participaram de ambas os alunos da disciplina “A Música e a Poesia de John Cage” do Prof. Dr. Sérgio Medeiros, do Curso de Letras da UFSC. </span></span></span><br /><span style="color:#000000;"><span style="font-size:78%;"><span style="font-family:trebuchet ms;">10 Agradecemos a cessão deste texto de Xul Solar à colecionadora Marion Helft, de Buenos Aires.</span><br /></span></span><br /><br /><span style="font-size:78%;"></span>Douglas Diegueshttp://www.blogger.com/profile/00799817140635576161noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1305178475260110668.post-13101028278893890562007-06-16T00:26:00.000-04:002008-12-10T12:47:54.631-03:00BLOOMSDAY AYVU AYVU<span style="color:#33ccff;"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5076533824825293826" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmRNlXH8fkS-mO_u6dfZgdLfsb0qXyyilgtpIT8Ru38sgdQZOk50HOkCrjqtwx8Evmi7zOVGhIMwZrz6E5aPCxXjP46s7BQHBholRhn94tg1uDjWc9jupNtM0VsxjufLOhVdAtcOS5VS8/s400/JJ4.jpg" border="0" /></span><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;"><span style="color:#000000;"><span style="color:#33ccff;"><span style="font-size:130%;color:#ff9966;"><strong>James Joyce em portugozo</strong></span><br /></span>Por DOUGLAS DIEGUES</span></span><br /><br /><span style="color:#000000;"><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;">...1 año puede kontener 1000 años em 1 segundo tudo parece que sempre depende do modo como olhamos para las cosas para el tempo para fuera para dentro y para celebrarmos el <strong>Bloomsday</strong> também aqui en nostro <span style="color:#33ccff;"><strong>Ayvu Ayvu</strong></span> empezamos a publicar agora los textos de algunos pesquisadores de la obra de <strong>James Joyce</strong> en Brasil como <strong>Sérgio Medeiros </strong>y <strong>Dirce</strong> <strong>Waltrick do Amarante</strong> y <strong>Donaldo Schüler</strong> el tradutor brazileiro del <strong>Finnegans Wake</strong> essa fiesta lingüística de ese maluko genial chamado James Joyce que deu la vida lo melhor de si para la literatura y cuja obra segue sendo permanente hermosa fuente de inspiracione para escritores de qualquer parte porque James Joyce es un grande poeta de qualquer parte de miles de lenguas y este <strong><span style="color:#00cccc;">Bloomsday Ayvu Ayvu</span></strong> vuela dedicado a <strong>Haroldo de Campos</strong> uno de los inbentores del Bloomsday en Sam Paulo y a <strong>Augusto de Campos</strong> maestros pioneros del <strong>Panaroma do Finnegans Wake</strong> puréte portugozo joyciano em traducción-inbención como agora <strong>Donado Schüler</strong> el nacimiento de uma nueba lengua um portugozo sin data de bencimento dentro de la lengua em que el Brasil nos existe...<strong> </strong></span></span><br /><span style="color:#000000;"><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;"><br /></span></span><span style="color:#000000;"><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;"></span></span><span style="color:#000000;"><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;"><br /><strong><span style="font-size:100%;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkoFa85YKLQkc3iB_HB6srf3-D07kLNalcikQuk4tAv2TVjdCGcQB6y65m0-qDfTVvPOuhMtLx18awuzRofQlB-tn2hrE2c0XZLzqYTs7-pc-tZT5Dg_k1eZ2yuuwyK75YEnlRkdwb2bg/s1600-h/Foto04.jpg"><span style="color:#ff9966;"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5076535525632343170" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 121px; CURSOR: hand; HEIGHT: 108px" height="128" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkoFa85YKLQkc3iB_HB6srf3-D07kLNalcikQuk4tAv2TVjdCGcQB6y65m0-qDfTVvPOuhMtLx18awuzRofQlB-tn2hrE2c0XZLzqYTs7-pc-tZT5Dg_k1eZ2yuuwyK75YEnlRkdwb2bg/s400/Foto04.jpg" width="121" border="0" /></span></a><span style="color:#ff9966;">DO ULISSES AO FINNEGANS WAKE</span></span><span style="color:#000000;"><br /></span></strong><span style="color:#000000;">por DIRCE WALTRICK DO AMARANTE<br /><br /><br /></span></span></span><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;color:#000000;">Em muitos sentidos, pode-se afirmar que Finnegans Wake foi concebido como uma continuação de Ulisses 1 , muito embora Joyce não visse quase nenhuma ligação entre seus dois últimos livros: “Tendo escrito Ulisses a respeito do dia, eu queria escrever esse livro a respeito da noite. De outro modo ele não tem ligação com Ulisses, e Ulisses não exigiu o mesmo gasto de energia.”2 Ademais, quando Louis Gillet perguntou a Joyce se sua “obra em progresso” se assemelhava a Ulisses, este respondeu: “De modo algum. Ulisses e a Obra em Progresso são o dia e a noite.” Entretanto, “sabia-se que Ulisses era o mundo e seus problemas vistos através do dia de alguns dublinenses. Finnegans Wake é igualmente o ruído do mundo ouvido através da vida noturna e dos sonhos de um cabaré da capital irlandesa.”3 Além disso, para compor seu último romance, Joyce utilizou “velhas notas” não aproveitadas em Ulisses.4</span><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;color:#000000;"><br /><br /></span><span style="color:#000000;"><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;">Para muitos críticos, o embrião de Finnegans Wake encontra-se no episódio “Circe” de Ulisses, uma vez que, neste capítulo, que pertence à parte classificada como “Odisséia” (o livro divide-se em três partes: “Telemaquia”, “Odisséia”, “Nostos”), os personagens surgem envoltos numa atmosfera de sonho e magia, muito embora ainda se insiram dentro do plano da consciência, o que não ocorrerá no seu novo livro, todo ele situado no subconsciente, ou inconsciente.5 Acredito que, depois de uma leitura mais atenta de Ulisses, pode-se constatar que o estilo intrincado de Finnegans Wake está espalhado por todo o romance que lhe antecedeu. No episódio “Proteu”, por exemplo, situado no início de Ulisses, as imagens e pensamentos se transformam a cada momento, tal como ocorrerá em Finnegans Wake. Além disso, o leitor de Ulisses ainda encontrará certas frases, em diferentes capítulos, que parecem remeter a algumas idéias que serão desenvolvidas, mais tarde, na última obra de Joyce:<br /><br />“ – A história – disse Stephen - é um pesadelo de que tento despertar.”6<br /><br />Essa frase que Stephen, um dos protagonistas de Ulisses, profere no segundo capítulo do livro, parece profetizar Finnegans Wake: conforme já falei, esse romance se situa no plano do sonho, é “um sonho quase sempre assustador, por vezes atroz, repleto de um riso que mascara uma profunda ansiedade. É um pesadelo que termina num despertar.”7<br /></span><br /></span><span style="color:#000000;"><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;">Stephen ainda dirá, no capítulo seguinte, fazendo alusão talvez ao mundo do inconsciente:<br /></span><br /></span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1G-rHTcuFr9JQCF7Of2TyIIx16i0WV8Otn3Z7m27B26mbSLQxQ61M0T5l927wxugWj7xcet4tNdSd7HtcAedDSDtQxK-ie-C-TXQ3W2pucBG9QZL6SgWLYT4OS2v7J7QAfHJvQ-jl2so/s1600-h/joyce11.gif"><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;color:#000000;"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5076535061775875170" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1G-rHTcuFr9JQCF7Of2TyIIx16i0WV8Otn3Z7m27B26mbSLQxQ61M0T5l927wxugWj7xcet4tNdSd7HtcAedDSDtQxK-ie-C-TXQ3W2pucBG9QZL6SgWLYT4OS2v7J7QAfHJvQ-jl2so/s400/joyce11.gif" border="0" /></span></a><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;color:#000000;">“Achas minhas palavras obscuras. Escuridade está em nossas almas, não achas?”8<br />Segundo o mais importante biógrafo de Joyce, Richard Ellmann, ainda se pode encontrar uma outra ligação entre esses dois romances na última página de Ulisses, que mostra “Molly e Leopold comendo o mesmo bolo de sementes, como Eva e Adão comendo a “fruta de sementes” (como Joyce dizia) quando da queda do homem, e Finnegans Wake também começou com a queda do homem.”9<br /><br />Se Finnegans Wake não é apenas a continuação lógica de Ulisses, é inegável que nasceu sob a complicada história editorial deste último livro e beneficiou-se da fama e do prestígio que Joyce alcançou com ele. Assim, a fama, duramente conquistada, e a composição de sua última obra, caminharam lado a lado.<br /><br />Joyce escreveu seu último romance consciente de que já era reconhecido como um dos maiores escritores do século, e esse reconhecimento crítico dava-lhe, com certeza, enorme liberdade para enveredar por experiências literárias de todo gênero. Sobre a fama, ele opinou o seguinte, em Finnegans Wake :<br /><br />“fame would come to twixt a sleep and a wake.” (“fama viria dexfigurar um sono e um despertar.”) [ FW 192] 10<br /><br />A notoriedade adquirida com Ulisses permitiu ao escritor, enfim, levar ao extremo a sua concepção estética e prosseguir com coerência na evolução lógica de sua técnica narrativa. O crítico e tradutor espanhol Francisco García Tortosa lança a hipótese de que Joyce não se teria atrevido a escrever um livro tão ousado se não estivesse respaldado pela celebridade que sua última publicação lhe granjeou. O fato é que Joyce não modificou seu modo de escrever, nem mesmo quando a crítica, após a publicação das primeiras páginas e capítulos de Finnegans Wake, mostrou-se adversa, ou quando os amigos sentiram-se forçados a comunicar a ele suas inquietudes, principalmente no tocante à inteligibilidade do seu novo trabalho.11<br /><br />Após o reconhecimento crítico de Ulisses, Joyce se permitiu provocar no leitor o “desconcerto”, levando-o ao </span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWnbLjgyPoJIMDo48CHWH3hLwbl6qhle2HZNIqpDNCsGlnCRaP9ItHBwDJysY2T7IoBdipN8-min3rP7-v-7CDMOUenb4bQi0W0CAuyKPVrIvIZMZYhRpu-kJDY2PDozExyMXtzb4spVc/s1600-h/joyce10.gif"><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;color:#000000;"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5076534889977183314" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWnbLjgyPoJIMDo48CHWH3hLwbl6qhle2HZNIqpDNCsGlnCRaP9ItHBwDJysY2T7IoBdipN8-min3rP7-v-7CDMOUenb4bQi0W0CAuyKPVrIvIZMZYhRpu-kJDY2PDozExyMXtzb4spVc/s400/joyce10.gif" border="0" /></span></a><span style="color:#000000;"><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;">âmago da linguagem intrincada do inconsciente. Ele parecia ainda acreditar que as polêmicas e incompreensões que circundavam sua nova obra revelavam, de certo modo, sua grandeza. Segundo Richard Ellmann, à semelhança de outros escritores modernos, como Yeats e Eliot, Joyce fazia questão de criar polêmicas, e “quanto mais controvérsia o livro provocasse, mais ele ficava contente.”12<br /><br />Em outras palavras, Joyce, depois de Ulisses, desejou levar ao extremo a experimentação lingüística da sua prosa e parece que o conseguiu ao escrever as páginas do romance Finnegans Wake.13<br /><br />Concluindo a discussão a respeito da influência de Ulisses sobre Finnegans Wake, chamaria a atenção para as referências explícitas que este último faz ao primeiro, como esta frase do capítulo sete do livro I, bastante reveladora:<br /><br />“to read his usylessly unreadable Blue Book of Eccles” (“para ler seu inutilmente ilegível Livro Azul das Eclésias”) [FW 179]14<br /><br />Em suma, Ulisses está Dirce Waltrick do Amarante presente, como uma referência obrigatória, na própria concepção da obra, que incorpora e tenta superar o experimento artístico do romance anterior, pois Finnegans Wake deveria ir além de Ulisses, conforme disse. 15</span><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;"><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;"></span><span style="font-size:78%;"><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"><strong>Notas da autora</strong><br />1 ANDERSON, Chester G.. Op. Cit., p.113.<br />2 ELLMANN, Richard. Op. Cit., p. 856.<br />3 BUTOR, Michel. Repertório. São Paulo: Perspectiva, 1974, p. 142.<br />4 ATTRIDGE. Derek. Op. Cit., p. 170.<br />5 TORTOSA, Francisco García. Op. Cit., p. 21.<br />6 JOYCE, James. Ulisses. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998, p.49.<br />7 BUTOR, Michel. Op. Cit., p. 143.<br />8 JOYCE, James. Op. Cit., p. 67.<br />9 ELLMANN, Richard. Op. Cit., p. 672.<br />10 São pessoais e não definitivas as traduções de pequenos fragmentos de Finnegans Wake, quando não houver referência a um tradutor específico.<br />11 TORTOSA, Fransciso García. Op. Cit., p. 22-3.7<br />12 ELLMANN, Richard. Op. Cit., p. 649.<br />13 “Nos livros anteriores Joyce forçara a literatura moderna a aceitar estilos novos, novos temas, novos tipos de trama e caracterização. No seu último livro, ele a forçou a aceitar uma nova área do ser, e uma nova linguagem.” (ELLMANN, Richard. Op. Cit., p. 883).<br />14 Joyce se referia a Ulisses como o Livro Azul, alusão à cor da bandeira grega. Eclésia: reunião de políticos na antiga Grécia.<br />15 TORTOSA, Francisco García. op. Cit., p.18</span> </span><br /></span><br /><p><span style="font-family:Trebuchet MS;font-size:85%;"></span></p><span style="color:#000000;"><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;"><p><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizqlbeardgFhwvfvePwhGjPXGi1KDRYB3D8lrrfHb2FpaFxnUL9s2Zqdy7tmc1r37zyacHzTJnGNaPwqLuMkX0X0XSzMmJVsMAk0WJ9A_T_jB2-6Un-WT6xw_WYU0B-Xrmdl_lTEuUHWA/s1600-h/JJ+11.jpg"><span style="font-family:trebuchet ms;"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5076534752538229826" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizqlbeardgFhwvfvePwhGjPXGi1KDRYB3D8lrrfHb2FpaFxnUL9s2Zqdy7tmc1r37zyacHzTJnGNaPwqLuMkX0X0XSzMmJVsMAk0WJ9A_T_jB2-6Un-WT6xw_WYU0B-Xrmdl_lTEuUHWA/s400/JJ+11.jpg" border="0" /></span></a><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><br /></span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"></span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><br /></span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"></span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><br /></span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"></span><span style="font-size:78%;color:#00cccc;"><strong></strong></span></p><p><span style="font-size:78%;color:#00cccc;"><strong></strong></span></p><p><span style="font-size:78%;color:#00cccc;"><strong></strong></span></p><p><span style="font-size:78%;color:#00cccc;"><strong>Bloom [Desenho de James Joyce]<br /></strong></span></span></span></p><p><span style="color:#000000;"><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;"></span></span></p><p></p><p></p><p></p><br /><br /><br /><br /><br /><p><span style="color:#000000;"><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;"></span></span></p><p><span style="color:#000000;"><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;"></span></span></p><p><span style="color:#000000;"><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;"></p></span></span><p><br /><strong><span style="font-size:100%;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeb8cYHIYOyuxmywyBUXI7enRjOvqFVlJlL2J5jXHRoKhaiP4wOqgIlFl4qFevXNoI_SpT1B8_-MtOb5RBWcFS6lZ-DoFU9cDaQ0jVAS7VB2FHPhEjwAMsecfAHrcDLsUtUibcNEm6IW0/s1600-h/Sérgio+(Fundo+branco).jpg"><span style="color:#ff9966;"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5076535757560577186" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeb8cYHIYOyuxmywyBUXI7enRjOvqFVlJlL2J5jXHRoKhaiP4wOqgIlFl4qFevXNoI_SpT1B8_-MtOb5RBWcFS6lZ-DoFU9cDaQ0jVAS7VB2FHPhEjwAMsecfAHrcDLsUtUibcNEm6IW0/s400/S%C3%A9rgio+(Fundo+branco).jpg" border="0" /></span></a><span style="font-family:trebuchet ms;color:#ff9966;"><span style="color:#ff9966;">RUIDORATORIO: Cage des-diz Joyce</span><br /></span></span><span style="font-family:trebuchet ms;color:#000000;">Por SÉRGIO MEDEIROS</span></strong><span style="color:#000000;"><br /><br /><br /></span><span style="color:#000000;"><span style="font-size:78%;"><em>“I can’t understand why people are</em></span></span><span style="color:#000000;"><span style="font-size:78%;"><em> frightened of </em></span></span><span style="color:#000000;"><span style="font-size:78%;"><em>new ideas. I’m frightened of the old ones.” </em></span></span><span style="color:#000000;"><span style="font-size:78%;"><em><br /></em><strong>John Cage</strong></span></span><span style="color:#000000;"><strong><span style="font-size:78%;"><br /></span></strong><br /><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;">O oratório (gênero de música religiosa, com solo, coro e orquestra) está na igreja, mas o ruidoratório (“roaratorio”, em inglês joyciano) é tudo o que está do lado de fora, isto é, o Universo. </span></span></p><p><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;"><span style="color:#000000;">Contudo, depois de fazer essa distinção, John Cage, o músico-poeta norte-americano que foi ao longo da sua vida leitor fervoroso da obra de James Joyce, particularmente de Finnegans Wake, concluiu que o oratório e o ruidoratório são a mesma coisa, não há diferença entre eles. A rua e seus ruídos já penetraram nas salas de concerto e nas igrejas, a palavra de Deus parece conter tanto a harmonia como a desarmonia, o som e o ruído, o silêncio e o fragor. Joyce disse uma vez que Deus é um ruído de rua (Ulysses); ora, levando esse ruído “sagrado” para o campo da música do século XX, sobretudo a norte-americana, poderíamos também afirmar que o ruído é a pergunta e a resposta, ou seja, mais sinteticamente, a pergunta sem resposta de Charles Ives (“The Unanswered Question”).<br /><br />A palavra “ruidoratório” foi cunhada por Joyce no seu último romance. Na obra de Cage, ela está associada ao seu ambicioso projeto de transformar livros em música. Grosso modo, esse projeto consiste em ler uma obra literária e anotar, um a um, todos os sons que o escritor menciona: uma risada, um latido etc. Concluído esse exaustivo levantamento, o passo seguinte é visitar os lugares e regiões descritos ou referidos na obra, para gravar seus sons caracterísiticos: ruído de trânsito (se for uma grande cidade), um mugido (se for uma fazenda) etc. Numa terceira etapa, reúne-se tudo isso e obtém-se uma peça musical, na qual as fronteiras entre a arte e a vida deixam de ser precisas. Todo leitor é potencialmente um compositor.<br /><br />Vejamos como Cage concretizou esse seu projeto “nonsense”, ao compor a peça “Roaratorio, an Irish Circus on Finnegans Wake”, utilizando como referência o último livro de James Joyce.<br /><br />Primeiramente, ele não leu Joyce no sentido convencional, mas des-leu o escritor irlandês, “sobrevoando” as 628 páginas do seu romance e “pousando” casualmente aqui e ali (Cage trabalhava com operações do acaso, ao compor suas peças musicais). Para livrar-se do ego, da imaginação e do gosto pessoal, o compositor norte-americano costumava consultar um oráculo (o I Ching, o “Livro das Mutações” da China Antiga), que lhe revelava como proceder. Da aplicação desse processo à leitura de Finnegans Wake, resultou um texto poético feito de fragmentos joycianos, dispostos na forma de mesósticos, nos quais o nome do escritor irlandês era o eixo. (Quando o nome-eixo está no início dos versos, obtém-se um acróstico; quando está no meio, um mesóstico; e quando está no final, um teléstico — na verdade, Cage misturou as três formas, segundo entendo, obtendo uma forma híbrida.) Ofereço um exemplo:<br /><br /><br /></span></p></span><div align="center"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;color:#000000;">Ob<strong>J</strong>ects<br /><strong>O</strong>lives beets</span></div><div align="center"><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;color:#000000;">oldwolld<strong>Y</strong><br /><strong>C</strong>argon of<br />Prohibitiv<strong>E</strong> pomefructs </span></div><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTFj86bpVICaal1_-5AavP5v3lep8tjX6I7zsi_2IncnpF30LjvdMi0GZtgffPwdUDVw-KAUeyvI_oWa6hxE9tNto_1JuLqhdR7I4VEjxcfpRzJvD7vqgbIoQmXDI2UYST7vXYczaAu6Q/s1600-h/JJ14.jpg"><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;color:#000000;"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5076534443300584482" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTFj86bpVICaal1_-5AavP5v3lep8tjX6I7zsi_2IncnpF30LjvdMi0GZtgffPwdUDVw-KAUeyvI_oWa6hxE9tNto_1JuLqhdR7I4VEjxcfpRzJvD7vqgbIoQmXDI2UYST7vXYczaAu6Q/s400/JJ14.jpg" border="0" /></span></a><span style="font-size:85%;"><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;">Concluída a elaboração desses mesósticos, que se destinavam à publicação, Cage recebeu o convite de Klaus Schöning para lê-los numa estaçào de rádio alemã, onde existe uma sólida tradição de leitura de peças poéticas com acompanhamento musical. Cage aceitou o convite e dedicou-se, a partir de então, à elaboração dos “efeitos sonoros” que, reunidos à sua própria voz gravada em estúdio lendo seus mesósticos, originariam o ruidoratório joyciano.<br /><br />Finnegans Wake menciona cerca de 5 000 lugares, espalhados pelo mundo. Schöning, a pedido de Cage, escreveu para estações de rádio de todo o planeta, solicitando “sons” dos lugares citados no Wake. Cage, ele próprio, viajou para a Irlanda, a terra natal do romancista e cenário principal do livro. Na Irlanda, Cage percorreu todo o país e gravou os sons mais caracterísiticos de cada lugar. (Durante sua estada de um mês na Irlanda, o compositor conversou com pessoas comuns e artistas populares que lhe disseram que não podiam compreender Finnegans Wake e que, por isso, haviam desistido de lê-lo. “Eu lhes perguntei se eles entendiam seus próprios sonhos”, contou depois Cage. “Eles responderam que não. Penso que agora alguns deles possam estar lendo Joyce, ou, pelo menos, possam estar sonhando que o estão lendo.”) Foi então que o compositor teve a idéia de acrescentar à sua peça um “circus” de canções tradicionais irlandesas, as quais se misturariam aos cantos de pássaros, ruídos de quadas d’água etc. já registrados. Os demais sons descritos ou mencionados por Joyce no seu romance seriam retirados do arquivo sonoro da rádio alemã que solicitara a obra a Cage.<br /><br />Quando todo esse mateiral ficou pronto, Cage voou para Paris e gravou, no estúdio do IRCAM de Pierre Boulez, sua própria voz lendo em inglês (sem sotaque irlandês) os mesósticos que compusera. O fato de que a obra só tenha vindo à luz graças à colaboração de pessoas de vários países agradou a John Cage, que viu nisso um símbolo da própria complexidade do mundo de Joyce.<br /><br />No produto final, que reúne idealmente todos os sons e ruídos da Irlanda, do mundo e dos sonhos, a leitura de Cage é quase inaudível; por isso, como sugeri no título deste artigo, Cage des-diz Joyce — o ruidoratório, concluído em 1979 e já disponível em CD, é um rumor mundial sem solo algum.</span><br /><br /><br /></span></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:130%;color:#ff9966;"><strong>"ORELHA"</strong></span></span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"><strong>Por SÉRGIO MEDEIROS</strong><br /><br /></span></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"><em><span style="font-size:85%;"><span style="font-size:78%;">Este texto de Sérgio Medeiros foi publicado em forma de orelha de um dos volumes da primeira edicione de la tradução brasileira do <strong>FW </strong>publicada pela <strong>Ateliê Editorial</strong> em parceria com a<strong> Casa de Cultura Guimarães Rosa</strong> do Rio Grande do Sul</span><br /></span></em><br /></span></span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiz8rsUGOn_XdIq6n4VtlM702xjfggnGCqvvvHMRe82GfwWxk80uJdPQBocU5aw8xjYrinTM_px1lON8AjIhoXJHaxyWs19ytfDCvMtMQYTJNzc0_SgwpPpqHnbX806GG9tj1d76W6oEu8/s1600-h/capa+fw.jpg"><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;color:#000000;"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5076539386807942322" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiz8rsUGOn_XdIq6n4VtlM702xjfggnGCqvvvHMRe82GfwWxk80uJdPQBocU5aw8xjYrinTM_px1lON8AjIhoXJHaxyWs19ytfDCvMtMQYTJNzc0_SgwpPpqHnbX806GG9tj1d76W6oEu8/s400/capa+fw.jpg" border="0" /></span></a><span style="color:#000000;"><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;">Não se pode ler Joyce, mas apenas relê-lo. Essa conhecida máxima adquire novo significado na tradução brasileira de Finnegans Wake, que vem acompanhada de curiosas e imprescindíveis “notas de leitura”, assinadas pelo tradutor Donaldo Schüler. Essas notas, que se seguem à tradução propriamente dita, são (parece-me) uma outra tradução, uma segunda versão do original, permitindo ao leitor não tanto decifrar o sentido profundo dessa obra tão obscura, mas antes “reler” numa outra linguagem, mais clara, mais diurna, o sonho de Joyce e de seus personagens.<br /><br />As notas de leitura conferem certamente uma marca característica ao trabalho de tradução de Donaldo Schüler – diria que, graças a elas, temos em língua portuguesa duas versões de Finnegans Wake, um livro “sonhado” duas vezes por Donaldo Schüler. Os sonhos dentro de sonhos são talvez a matéria-prima do último romance de Joyce. Vem de Schopenhauer esta imagem, proposta pela leitura pioneira de Campbell e Robinson: Finnegans Wake “é um vasto sonho, sonhado por um único ser humano; mas de tal maneira que todos os personagens do sonho sonham também. Assim, cada coisa se encadeia e harmoniza com tudo o mais.”<br /><br /><br />Neste volume, estão incluídos os capítulos 5, 6 e 7, do Livro I (Finnegans Wake está dividido em quatro livros, ou quatro partes, entre as quais se distribuem 17 capítulos). Temos aqui, portanto, um fragmento da obra. Quando os demais livros que compõem Finnegans Wake forem publicados em português, poderemos avaliar corretamente o empenho e a ousadia do tradutor brasileiro, mas, desde já, é inegável que um aspecto da obra de Joyce é enfatizado por Donaldo Schüler: o humor.<br /><br /><br />Caberia lembrar agora uma observação feita por John Cage, que transformou a leitura do romance de Joyce numa obra musical, o impressionante Roaratorio, ou ruidoratório: o músico e poeta norte-americano gostava de repetir que Joyce preferia a comédia à tragédia “porque na comédia – segundo ele declarou, parece-me – libertamo-nos muito mais de nossas preferências e aversões.” Na comédia joyciana, onde a magia verbal supera a distinção entre prosa e poesia, os contrários se unem, as polaridades não se excluem, o livro é uma tensão de antagonismos mutuamente suplementares, como já se observou. Nesse aspecto, o livro parece anunciar certas teorias estruturalistas que só vieram à tona muitos anos após sua publicação, em 1938. Essa dimensão profética do livro apenas comprova sua raiz profundamente mítica. Jacques Derrida afirmará: “Pois não podemos dizer nada que não esteja programado nesse computador de milésima geração, Ulysses, Finnegans Wake, junto ao qual a tecnologia atual de nossos computadores e de nossos arquivos microcomputadorizados e de nossas máquinas de traduzir não passa de uma bricolagem, um brinquedo pré-histórico de criança. (...). Sua lentidão é incomensurável com a rapidez quase infinita dos movimentos das conexões joycianas.” Essa é a razão das grandes gargalhadas que ressoam em Finnegans Wake, para usarmos uma expressão cara a Derrida.<br /><br /><br />“Como Buckling baleou um Russo no Rush de Janeiro”, “Sensacionais Aventuras de Duas Piranhas e a Queda do Banana”, são frases cunhados pelo tradutor brasileiro. Eu não havia percebido, tendo lido apenas o original, esse aspecto tão intensamente “tragicômico”, não raro grotesco, da última obra do escritor irlandês. Agora, após a leitura da versão brasileira, esse aspecto, sem dúvida essencial à obra, tornou-se muito mais evidente para mim sempre que retorno ao texto original.<br /><br /><br />Impressa no português do Brasil e não em várias línguas sobrepostas, repleta de estilos e sotaques nacionais, inclusive o sulista, sotaque de origem do tradutor (veja-se a saborosa expressão “Lumptytumtupy Já Deu pra Ty”), a epopéia joyciana é principalmente (creio) a “terra da jocosidade”, embora no original, ou em outras línguas (a obra já foi traduzida na íntegra para o francês, o alemão, o japonês) possa também ser outras “terras”, comportando outras linguagens, outros tons, ou todos os tons.<br /><br /><br />Se o tom geral que Donaldo Schüler conferiu à sua tradução, até aqui, é o tom cômico, às vezes carnavalesco e grotesco, as “notas de leitura” são, ao contrário, “sérias”, mas isso não significa que sejam acadêmicas. Para começar, Donaldo Schüler preferiu não citar suas fontes, mas para os seus propósitos isso é irrelevante: ele não assume o tom do especialista e sim o tom sereno de um emérito narrador, um contador de mitos universais (o que Joyce sem dúvida também é, sobretudo em Finnegans Wake, obra que pode ser lida como um compêndio de mitos similar às Mitológicas de Claude Lévi-Strauss). Munido de grande erudição (Donaldo Schüler é professor de literatura, vale dizer, grega) mesclada de devaneios deliciosos, nosso tradutor reconta, às vezes com desconcertante simplicidade, o que Joyce teria pretendido dizer na sua língua onírica.<br /><br /><br />Numa nota, afirma Donaldo Schüler: “Perguntar: O que Joyce quis dizer? – não é sensato. Joyce disse o que disse. Ao dizermos entramos no jogo. Há outro modo de ler?” Donaldo Schüler lê e relê Joyce, jogando sem nunca perder o humor ou a paciência, e nos convida a fazer o mesmo ao oferecer este conselho ao leitor: “Obscuridades borram a clareza das mais elaboradas páginas. No matagal de palavras e frases, pendem cipós, apodrecem troncos, ferem espinhos. Para estabelecer conexões podemos recorrer à habilidade de especialistas. Mas não se busque em outro a firmeza que nos falta. Não se aguarde a aurora de visão plena.” Isto não é só uma nota de leitura, é também uma outra versão, nas próprias palavras do tradutor, daquilo que Joyce teria dito na sua língua, ou melhor, na sua mescla de línguas do presente e do passado.<br /><br /><br />Os capítulos 1, 2, 3 e 4, publicados nos dois volumes anteriores, eram dedicados ao pai, HCE, Here Comes Everybody; os capítulos incluídos aqui, 5, 6 e 7, são dedicados à mãe, ALP, Anna Livia Plurabelle, embora o último traga como título o nome de um dos filhos do casal: Shem (seu irmão gêmeo chama-se Shaun). Shem é o próprio Joyce, o escritor que revela o proibido, o mundo secreto e terrível que pulula sob a superfície dos sonhos e dos mitos; Shem nos é apresentado como o filho preferido de ALP, a musa; podemos entender agora por que seu nome aparece no título do capítulo 7; coube a ele redigir a carta ou manifesto ditado por sua mãe, que o leitor conhcerá no capítulo 5.<br /><br /><br />Nesse capítulo e no seguinte, Joyce satiriza a linguagem dos eruditos que tentam, após a recuperação da carta (ela foi desenterrada de um monturo por uma galinha), decifrar o precioso documento que talvez seja o próprio fundo de Finnegans Wake. As “notas de leitura” de Donaldo Schüler, simples e diretas, não procuram decifrar (quase) nada, mas recriam a atmosfera do livro, recontado de outra maneira seus mitos basilares. Um canto paralelo, outra tradução do original que nos permite reler Joyce, já que lê-lo não é possível.<br /></span></span><br /><span style="color:#000000;"><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;"></span></span><br /><span style="color:#000000;"><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;"><br /><br /></span></span><span style="color:#000000;"><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;"></span></span><span style="color:#000000;"><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;"></span></span><p align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjaC_S5kig5Ohz9BLGQzPP1WAOtQikjeBYJjE16PRDroje694M1RK4muEDBJxgsbYWiTRON5CWcLkkrc-fwOzIwm0iD6vQ6sETZKDMFi67kRkHAKg6tX8Ctz7qAPLlZTGCWwQqWfrhpCEQ/s1600-h/JJ5.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5076534348811303954" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjaC_S5kig5Ohz9BLGQzPP1WAOtQikjeBYJjE16PRDroje694M1RK4muEDBJxgsbYWiTRON5CWcLkkrc-fwOzIwm0iD6vQ6sETZKDMFi67kRkHAKg6tX8Ctz7qAPLlZTGCWwQqWfrhpCEQ/s400/JJ5.jpg" border="0" /></a></p><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><span style="font-size:78%;"><span style="color:#00cccc;"><strong><span style="font-family:Trebuchet MS;">Marilyn Monroe lendo James Joyce</span></strong> </span><br /></span><span style="color:#00cccc;"><span style="font-family:trebuchet ms;"><strong></strong></span></span><br /><span style="color:#00cccc;"><span style="font-family:trebuchet ms;"><strong></strong></span></span><br /><span style="color:#00cccc;"><span style="font-family:trebuchet ms;"><strong></strong></span></span><br /><span style="color:#000000;"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></span><br /><br /><br /><br /><br /><br /><span style="color:#000000;"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></span><br /><span style="color:#000000;"><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-family:Georgia;"></span><br /></span></span><span style="color:#000000;"><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;"><strong><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEge6mWh6gVK9_8Nwk8qFkpoqhtDPkXW35TBNjZoT9qbDMTSSmiyh9s7lwmTG1mDBStkLKvyLuOkjGnd9SAqAEZZK9tGzZHcRvXAllL3ykUL5AdhFkNHdhSwX0-kR3dpHqgntPTLwxuWTEY/s1600-h/Donaldo.jpg"><span style="font-size:100%;color:#ff9966;"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5076535426848095346" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEge6mWh6gVK9_8Nwk8qFkpoqhtDPkXW35TBNjZoT9qbDMTSSmiyh9s7lwmTG1mDBStkLKvyLuOkjGnd9SAqAEZZK9tGzZHcRvXAllL3ykUL5AdhFkNHdhSwX0-kR3dpHqgntPTLwxuWTEY/s400/Donaldo.jpg" border="0" /></span></a><span style="font-size:100%;color:#ff9966;"><span style="font-size:130%;">TRADUZINDO EL INTRADUZÍBEL </span></span></strong></span></span><br /><span style="color:#000000;"><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;"><strong><span style="font-size:100%;color:#ff9966;"><span style="font-size:130%;">FINNEGANS WAKE</span><br /></span></strong><br />Driblando todas as impossibilidades com talento e invencione Donaldo Schüler conseguiu hacer que el português portuvuele y portugoze lindamente com su instigante traducione del <strong>Finnegans Wake (Ateliê Editorial)<br /></strong>Um dia he enviado algunas perguntitas sobre a tradução do FW, sus impresiones del aparentemente ilegível romance-poema - al <strong>Donaldo Schüler</strong>. Pero Donaldo, que além di professor de literatura grega y tradutor es um capo del ensayo, já se había entrevistado a si mismo. Lo que se segue es el material que Donaldo Schüler nos hizo llegar generosamente desde la noche circular del Finnegans Wake.. (D.D.)<br /><br /><span style="color:#000000;"><strong><span style="font-size:100%;">DONALDO SCHÜLER CONBERSA COM DONALDO SCHÜLER</span></strong><br /></span><br /><strong>1. Como traduzir um texto escrito numa lingua universal?<br /></strong>Traduzir para uma língua particular um romance como Finnegans Wake, em que se misturam mais de sessenta línguas, é efetivamente uma traição. Traduzir é sempre trazer outro universo lingüístico ao nosso.<br />Pergunta-se “como é possível traduzir Finnegans Wake? Jöão Alexandre Barbosa faz outra pergunta: “Como foi possível escrever Finnegans Wake?” O romance baseia-se numa carta. Trata-se de uma carta escavada num monturo por uma ave, a velha galinha (cold fowl) ou velha gelinha (galinha gélida) Hen (galinha em inglês e um em grego) provoca a passagem da unidade à pluralidade. Isso acontece no inverno, época em que a natureza adormecida se prepara para renascer. Hen (galinhen), por ser original,é conceito ligado à queda, à felix culpa, começo da história. O texto da carta, revestido por outros textos, mostra-se em estado de revelação, trabalho sempre retomado e nunca concluído. Fala e traço fundamentam a escrita. O primeiro capítulo alertou para runas, inscrições no barro, na terra. A carta nos leva da natureza à cultura, acrescentando a Finnegans Wake caráter epistolar. A velha gelinha recebe nome, é Belinda, galinha conhecida e premiada.<br /><br /><strong>2. Quer dizer que Finnegans Wake fala sobre a arte de escrever.<br /></strong>Em forrma ficcional, é claro. Para Finnegans Wake a arte de escrever acontece na passagem da selvageria ao barbarismo. O homem ainda se serve de elementos tirados da natureza para fazer as inscrições, mas já intervém o fogo quando se começam a traçar sinais a carvão. Este não é o fogo da natureza, é um fogo doméstico, fogo controlado. Começamos a distanciar-nos da natureza para construir um universo próprio. As palavras grafadas não são as proferidas. Umas e outras obedecem a sistemas próprios. Selvagem é também o mundo que ao despertar deixamos. Não se espere relato fiel de lutas que nos subterrâneos travamos. A verdade não estará, por certo, nos ritmos que inventa nossa habilidade de bardos. Verdadeiros somos quando tropeçamos, quando a falta de palavras expõe buracos, quando o equilíbrio é precário. O que relatamos se passa nos limites da civilização, da barbárie e da selvageria.<br /><br /><strong>3. A carta tem relação com o Novo Mundo?<br /></strong>Tem. Recebe-se a carta transatlantabeticamente (transshipt) de outro mundo, do Novo (Boston). Mundo novo não significa mundo melhor. O Novo Mundo formou-se do Velho. O lixo do Velho Mundo alimenta as raízes do Novo. Sucessos do Novo Mundo alcançam o Velho em viconiano ciclismo renovador. Sempre novas são as instáveis imagens oníricas que transatlantabetizadas alimentam carta e invetigações. Mass. é Massachusetts, é massa informe (sonho), é a missa fúnebre , a encomendação do corpo, presente na fala.<br /><br /><strong>4. Joyce nos reduz a depósito de lixo?<br /></strong>Lixo não é privilégio nosso. A carta foi encontrada num depósito de passadas unidades culturais. Lixo é a tendência de tudo que se fez, escreve e pensa. Enérgicas são as exigências da terra. Até em monumentos artísticos o perene é ilusão. Umas coisas duram mais que outras. Eternidade não há. O tempo deixa marcas em templos, quadros, estátuas e pergaminhos. O desgaste de obras literárias não é só material. Nosso Homero é diferente do vate cujos ritmos encantaram olvidados ouvintes. A morte pertence à economia da vida. Arte que não morre não se regenera, não vive.<br /><br /><strong>5. Mas de que estamos falando, de escrever ou de traduzir?<br /></strong>Para Joyce, escrever já é traduzir. Ele lê e interpreta inúmeros textos do Ociedente e do Oriente, produzidos no presente e em muitas outras épocas. : “como foi possével escrever Finnegans Wake?” Resposta: a paródia. Poderíamos dizer que Finnegans Wake é uma desenvolvida paródia do “Inferno” da Divina Comédia. Paródia é dar uma obra em outra linguagem, paródia é tradução. Diferenças. O mundo de Dante é todo racionalmente legislado até às últimas conseqüências. Joyce: em vez do rigor dantesco, a livre associação de idéias. É a idade da psicanálise. Na distância entre a Divina Comédia e Finnegans Wake, dá-se o sentido. A Divina Comédia é uma camada significante, Finnegans Wake é outra. Nessa distância processa-se o sentido.<br /><br /><strong>6. Como é que se deve traduzir?<br /></strong>Cada texto a ser traduzido impõe suas próprias leis. Não se podem criar leis gerais para a tradução. O tradutor deve aprender com o texto que traduz. Nomes próprios, por exemplo. Finnegans Wake os modifica sistematicamente. Arranca-os dos referentes. Torna-os signifincantes de novas significações. A mudança dos nomes não afeta a constância da vida, atesta até a vida das línguas. Radicalizando, fatos são fatos, fixos, concluídos.<br /><br /><strong>7. Finnegans Wake merece ser traduzido?<br /></strong>Traduzir não é possível. Não há correspondências entre uma e outra língua. Excetuando as linguagens técnicas: tradução mecânica. A lingua literária rompe com todas as subordinações. As decisões do texto criativo são imprevisíveis. Joyce não faz mais do que acentuar este processo. Todos os textos são intraduzíveis. Por isso é necessário recriá-los. Haroldo de Campos: só os textos intraduzíveis merecem ser traduzidos. Traduzir Joyce significa revitalizar um texto em estado de deterioração, ativar o ciclismo viconiano. Sem tradução, o texto morre.<br /><br /><br /><br /><strong><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibvKbneKVC8QpwSi1RAaalLXiPgRTYRcIrivNbWdaXGhnCoVzPjTM7ENbrO-rWcdAnZuUX3YUm89PmMBwjmddKmB8yNGJYktI3DIVeGXNiNpdvzjZYSmkxp18mWk-b6y9rAcmYtZFT03U/s1600-h/JJ+8.jpg"><span style="font-size:100%;color:#ff9966;"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5076534602214374450" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibvKbneKVC8QpwSi1RAaalLXiPgRTYRcIrivNbWdaXGhnCoVzPjTM7ENbrO-rWcdAnZuUX3YUm89PmMBwjmddKmB8yNGJYktI3DIVeGXNiNpdvzjZYSmkxp18mWk-b6y9rAcmYtZFT03U/s400/JJ+8.jpg" border="0" /></span></a><span style="font-size:100%;color:#ff9966;">Finnegans Wake, 598.28The urb it orbsA urb ist orbita<br /></span></strong><br />Orbita a cidade, orbita o orbe, orbitam o ontem e o hoje, orbitam o tempo e o espaço, o Oriente e o Ocidente, o céu e a terra, vidas, rios, sonhos... orbitam it, id, Es, isso.<br />Sonhamos? Sonhamos! Com James Joyce, no misterioso Finnegans Wake: princípio e fim, vigília e morte, cotidiano e sonho, experiência e mito.<br /><br />Reporto-me à linha 28 da página 598. Onde se lê: The urb it orbs. A frase evoca a expressão latina urbi et orbi, que orbita em muitas línguas do Ocidente sem excluir a nossa. Em todas? A frase foi criada quando Roma já era centro do mundo. Urbe era Roma. Só Roma. O mundo orbitava em torno de Roma. O que valia para Roma valia para o mundo.<br /><br /><br />Roma caiu. Ao lado de Roma proliferaram muitas urbes. Outras cidades disputaram o privilégio de centralizar os acontecimentos mundiais: Lisboa, Madri, Londres, Paris, Berlim, Washington, Moscou... Onde está o centro dos acontecimentos mundiais hoje? Qual é o centro dos centros culturais? Quem dita as regras para a economia mundial? Até a bolsa de São Paulo já é suficientemente forte para resistir às tempestades que abalam Tóquio. Em todos os setores estamos em franco processo de descentralização.<br /><br />O que hoje é fato já estava em andamento no início do século. E Joyce o sentiu. The urb orbs (a urbe orbita) seria uma frase normal. Mas Joyce, como é de seu costume em Finnegans Wake, despedaça a frase inglesa, a língua do dominador. Podia admitir o imperialismo de uma língua que por séculos tinha condenado o seu povo ao silêncio? Joyce sobrepõe ao verbo orb o substantivo orbit e o dilacera, antepondo it ao verbo. Resultado: The urb it orbs. Pelo texto de Joyce viajam fragmentos de cinqüenta línguas aproximadamente. Em lugar do centro, instalou se o it (isto, isso). Isto (ou isso) orbita. O it, como o Es (id) freudiano, é o reservatório de todos os núcleos, de todas as órbitas imagináveis em giros inumeráveis e imprevisíveis. Não se procure a urbe no mapa, ela é reservatório, possibilidade de ser.<br /><br />Proposta de tradução: A urb ist orbita. Urb é mais do que urbe. Urb tem a ver com Ur (prefixo alemão para origem), ventre obscuro e misterioso de tudo o que é. Em ist(o) ouve-se a forma verbal ist e o demonstrativo Es da língua em que Freud formulou a teoria psicanalítica.<br /><br />Isto orbita, e ao orbitar forma o que foi, é e será. Orbitamos nós e as galáxias. Onde situar o centro do universo? Corpos se encontram e desencontram num espaço vazio e sem fronteiras.<br /><br />Finnegans Wake é o espelho do universo.<br /><br /><strong>[Donaldo Schüler]</strong><br /><br /><span style="font-family:webdings;">O</span><strong>Para ler mais textos de Donaldo Schüler, visite sua página na internet: http://www.schulers.com/donaldo</strong><br /><br /><br /><strong><span style="font-size:100%;color:#ff9966;">Fragmento do FW (Livro I - Capítulo 8)</span></strong><br /><br /><em></em><em>Can’t hear with the waters of. The chittering waters of. Flittering bats, fieldmice bawk talk. Ho! Are you not gone ahome? What Thom Malone? Can’t hear with bawk of bats, all thim liffeying waters of. Ho, talk save us ! My foos won’t moos. I feel as old as yonder elm. A tale told of Shaun or Shem? All Livia’s daughter-sons. Dark hawks hear us. Night! Night! My ho head halls. I feel as heavy as yonder stone. Tell me of John or Shaun? Who were Shem and Shaun the living sons or daughters of? Night now! Tell me, tell me, tell me, elm! Night night! Telmetale of stem or stone. Beside the rivering waters of, hitherandthithering waters of. Night!<br /><br /></em><strong>[James Joyce]</strong><br /><br /><br />Não ouço com as correntes de! As lamurientas corrientes de. Mordentes mor cegos, res postas de rústicos ratos. Ho! Você ao solar não iria? Que solitária Maria! Não ouço com o mortelar de morcegos, as liffey-hiantes águas de. Ho, o verbo nos salve! As pernas emperram. Me sinto velha como aquele carvelho. Uma narrativa narrada de Shaun ou Shem? Livifi- lhaos todos. Noturnos falcões nos escutam. Noite! Noite! Tomba a testa. Pende pesada qual pedra, aquela. Que me falas de John ou de Shaun? Shem e Shaun, viventes, filhos ou filhas foram de quem? A noite noita! Fala-me, fala-me, fala-me, carvelha! Noite noite! Conta-me contos de Stem ou Stone. Junto às rio-revantes águas de, correntes-e-recorrentes águas De. Noite!<br /><br /><strong></strong><span style="font-size:78%;"><strong><span style="font-size:85%;">[Tradução: Donaldo Schüler]</span></strong><br /><strong></strong></span><br /><strong><br /></strong><span style="color:#ff9966;"><strong><span style="font-size:100%;">JAMES JOYCE EM PORTUGUÊS</span></strong><br /><strong></strong></span><br /><span style="font-size:78%;"><em>Para La delícia del lector brasileiro existem muitos livros de y sobre James Joyce em português, que se puede encontrar en livrarias y sebos de las capitales brasileiras. </em><br /><br /><strong>De James Joyce</strong><br />Ulisses, tradução de Antonio Houaiss, Editora Civilização Brasileira.<br />Dublinenses, tradução de Hamilton Trevisan, Editora Civilização Brasileira.<br />Cartas a Nora, tradução de Mary Pedrosa, Editoras Massao Ohno e Roswitha Kempf.<br />Retrato do artista quando jovem, tradução de José Geraldo Vieira, Editora Civilização Brasileira.<br />Música de Câmara, tradução de Alipio Correia de Franca Neto, Editora Iluminuras<br />Giacomo Joyce, tradução de Paulo Leminski, Editora Brasiliense.<br />Giacomo Joyce, tradução de José Antonio Arantes, Editora Iluminuras.<br />Panaroma do Finnegans Wake, (fragmentos do FW) Tradução de Augusto e Haroldo de Campos, Editora Perspectiva.<br />Finnegans Wake/Finnicius revém, Livro I - Capítulo 1, tradução de Donaldo Schüler, Ateliê Editorial/Casa de Cultura Guimarães Rosa.<br /><br /><strong>Sobre James Joyce</strong><br />Dossiê Finnegans Wake, Revista Cult, nº 31, Fev. 2000, Lemos Editorial.<br />Joyce e o estudo dos romances modernos, Michel Butor, Richard Ellmann, Ezra Pound, Umberto Eco, entre outros, Editora Mayo.<br />Joyce no Brasil, organização de Munira Mutran e Marcelo Tápia, Edição Olavobrás/Abei.<br />Riverrun - Ensaios sobre James Joyce, organização de Arthur Nestrovski, Editora Imago.<br />James Joyce, de Richard Ellmann, editora Globo.<br />James Joyce, de Chester G. Anderson, Jorge Zahar Editor.<br />James Joyce, de Edna O’Brien, Editora Objetiva.</span></span><span style="font-size:78%;"><br /></span></span><br /><br /></span></span></span>Douglas Diegueshttp://www.blogger.com/profile/00799817140635576161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1305178475260110668.post-63711775775253731542007-06-15T00:07:00.001-04:002008-12-10T12:47:55.612-03:00Mezkla de lenguas en James Joyce y Xul Solar<span style="color:#000000;"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5076180198692977458" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPJRRCf0pRi7_ie1sTITMFT0E0Db10MkiOgaBEEnCTSZgnIVgl5Cmy8j2ljTF3BBuhNmep-Ktc2MjsGv6qnYpm_WcrnuGsr3I8NVUOHd6SvQaBIfSLazV-QKgatG-TMWkgtJs5gWwnnV4/s400/JJ+1.jpg" border="0" /></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:85%;color:#000000;">El irlandês <strong>James Joyce</strong> y el argentino Xul Solar, mais do que 2 escritores profisionales foram 2 inbentores de sistemas poéticos próprios. Inconformistas, não se contentaron escrever solamente dentro de la lengua em que nasceram. E inbentaron una lengua particulara partir de fusões de palavras, frases, sintaxes, de la “lengua madre” y de línguas estrangeiras. Non se acomodaron en diluiciones de fórmulas y maneiras consagradas de escritura. Ousaram experimentar las mil posibilidades infinitas de inbención de nuebas formas de escritura. Y el resultado fue sorprendente. Quando participamos del Primeiro Enkuentro Internacional Poetas en la Baía, en Asunciónländia (kapital paraguaya), la mezkla de lenguas em Xul Solar y James Joyce foram los temas de <strong>Dirce Waltrick do Amarante</strong>[professora de literatura infanto-juvenil na Universidade Federal de Santa Catarina] y <strong>Rita Lenira de Freitas Bittencourt</strong>, autora de la pesquisa <strong>Guerra e Poesia: lutas simbólicas do modernismo.</strong> Y neste 16 de junho de 2007, <strong>Dirce Waltrick</strong> y <strong>Sérgio Medeiros</strong> comandam el Bloomsday de Florianópolis.<span style="font-size:78%;"><strong>[DD]</strong></span><br /></span></span><br /><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:85%;"><strong><span style="font-size:100%;color:#000000;">JAMES JOYCE, XUL SOLAR Y LA MEZCLA DE LENGUAS </span></strong><br /><strong><span style="color:#000000;"></span></strong><br /><strong><span style="color:#000000;">Por DIRCE WALTRICK DO AMARANTE<br /></span><br /></strong><span style="color:#000000;">É oportuno falar sobre James Joyce, justamente no mês do “Bloomsday”, dia em que se homenageia o romance Ulisses, do mencionado escritor. Essa homenagem acontece em diferentes partes do mundo, desde Dublin, Paris, São Paulo. Trata-se de um evento em que os leitores de Joyce se reúnem para ler e comentar passagens da sua obra. Ulisses, romance cujo enredo transcorre num único dia, 16 de junho de 1904, é considerado um dos marcos da literatura universal. Nesta obra, Joyce revoluciona algumas das convenções até então estabelecidas para se escrever um romance, sendo que sua maior inovação está relacionada com a linguagem. Em Ulisses, Joyce inicia um uso novo da língua, passando a criar parte do seu vocabulário. Essa experimentação lingüística ganhará maior importância, no entanto, na sua obra posterior, Finnegans Wake (1939), romance que custou ao autor 17 anos de árduo trabalho e durante os quais ficou conhecido como Work in Progress. A linguagem é sem dúvida um dos aspectos mais marcantes da obra do escritor, principalmente quando o foco de atenção do leitor recai sobre Finnegans Wake, seu último trabalho. No Brasil, a tradução desta obra vem sendo publicada em capítulos. O primeiro capítulo foi publicado ano passado e o segundo foi lançado em junho, agora. </span><br /><span style="color:#000000;"></span><br /><span style="color:#000000;">Mesclar línguas diversas, criar um idioma próprio, trabalhar tão profundamente com a linguagem não foi, todavia, uma postura exclusiva do autor. Na mesma época em que Joyce trabalhava em seu Work in Progress, parece ter surgido entre os artistas argentinos um interesse equivalente com relação à linguagem. Entre eles, destacam-se os nomes de Borges e Xul Solar. Centrarei minha atenção em Xul Solar para traçar um paralelo com Joyce, uma vez que vejo na linguagem proposta por Xul, principalmente no seu “neocrioulo”, um contato maior com a língua criada pelo escritor irlandês. Este ponto de contato estaria não só na mescla de diferentes idiomas usada por ambos escritores – o que não ocorre com a prosa de Borges, que trabalhava com um único idioma -, como também na função ideológica dessas novas línguas, muito embora, como se verá adiante, os autores tenham traçado caminhos diferentes para atingir esse objetivo. </span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhc6lDlvkmyUNAK1uFsVnSS7t4kKGANIKkc3EDawIE8gc-EilhnTPaj7DWZhGQnlduPw8lURqWs1rZB-4oyj7tpXkzAz9VQKu_veepzcMsfCWTusu1AyGFnQi8hDgpeh_nZn7P_V9PSeBs/s1600-h/JJ+9.jpg"></a><br /><span style="color:#000000;"></span><br /><span style="color:#000000;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7mKO5MjF-p7RPoyvijAD2qGAwiYFiV6Sz6jQAH476_6YFCJkVCy2eeLxW4dyv4CZtkqCKCfwmCBVrBWCQIRNLbw9hc_egNReJhmB2bKzVd6bBhpNbp_TydR7bmokhyphenhyphenz8oBWkcOuTQ2SY/s1600-h/JJ+10.gif"><span style="color:#000000;"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5076180958902188898" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7mKO5MjF-p7RPoyvijAD2qGAwiYFiV6Sz6jQAH476_6YFCJkVCy2eeLxW4dyv4CZtkqCKCfwmCBVrBWCQIRNLbw9hc_egNReJhmB2bKzVd6bBhpNbp_TydR7bmokhyphenhyphenz8oBWkcOuTQ2SY/s400/JJ+10.gif" border="0" /></span></a>Começarei este trabalho buscando apresentar a linguagem utilizada por Joyce em Finnegans Wake, não sem antes abordar outros aspectos do livro. </span><br /><span style="color:#000000;"></span><br /><span style="color:#000000;">Para compor o romance, Joyce recorreu a duas teorias filosóficas, as teorias dos filósofos italianos Giambattista Vico e Giordano Bruno. Vico descreve em sua Scienza Nuova as idades da humanidade. Ele concebia a história como um processo cíclico, em que o progresso e a humanidade moviam-se através de três períodos, denominados “divino”, “heróico” e “humano”. Findo o último período, haveria uma fase de transição, de caos e, então, os ciclos recomeçariam. Já a doutrina filosófica de Bruno pregava a “coincidência dos opostos”, toda força natural deveria desenvolver uma força oposta e, a partir dessa antítese, gerar-se-ia uma nova síntese. Também, essas transmutações seriam circulares. </span><br /><span style="color:#000000;"></span><br /><span style="color:#000000;">A partir dessas considerações filosóficas, pode-se afirmar que a estrutura de Finnegans Wake é circular, sem começo nem fim, mas um constante renascer. Essa idéia serve tanto para descrever a estrutura narrativa do livro quanto a estrutura da sua linguagem. A doutrina de Bruno poderia ser exemplificado a partir da conjugação de duas palavras opostas, “laughter” (riso, risada) e “tears” (lágrimas), que dá origem a uma terceira palavra, “laughtears”, que em português foi traduzida por lágrima-sorriso, por Augusto e Haroldo de Campos. Quanto ao processo circular de Vico, pode-se percebê-lo na última página do livro, onde uma frase inacabada, “A way a lone a last a loved a long the”, remete a frase inicial do romance, também incompleta, “riverrun, past Eve and Adam’s, from swerve of shore to bend of bay, brings us by a commodius vicus of recirculation back to Howth Castle and Environs.”. </span><br /><span style="color:#000000;"></span><br /><span style="color:#000000;">Além dessas teorias filosóficas, não se pode esquecer que Finnegans Wake também absorveu grande parte do espírito de sua época. Época de um mundo em crise entre duas grandes guerras, da psicanálise, das perspectivas fragmentadas que começam a surgir nas artes visuais, como podemos observar no cubismo e época das dissonâncias sincopadas na música, aí tomo como exemplo Stravinsky e o jazz. Essas características influenciaram não só o enredo da narrativa, como também a linguagem do romance, como procurarei demonstrar no decorrer dessa comunicação. </span><br /><span style="color:#000000;"></span><br /><span style="color:#000000;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKkYKg9ddBdgqa7I0BK-HYX-vqdiBRqV5p5iRpnQSKFl65CHULdhs2wX8JKZD_huQX_Yb68D4PQZfEXuFI5P82RE0ADbaV5hSN4pIO-3h2xPaaQhpsDez5RXYCRFCDElJN8O9pMG7cpFU/s1600-h/JJ+2.jpg"><span style="color:#000000;"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5076180671139380050" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKkYKg9ddBdgqa7I0BK-HYX-vqdiBRqV5p5iRpnQSKFl65CHULdhs2wX8JKZD_huQX_Yb68D4PQZfEXuFI5P82RE0ADbaV5hSN4pIO-3h2xPaaQhpsDez5RXYCRFCDElJN8O9pMG7cpFU/s400/JJ+2.jpg" border="0" /></span></a>Ao contrário de Ulisses, cuja ação transcorre num único dia, a estória de Finnegans Wake se passa durante a noite. O objetivo declarado de Joyce, ao escrever o romance, era traduzir a linguagem dos sonhos e da morte, mas para fazer isso, não poderia recorrer a um enredo regular e à gramática padrão. O uso de uma linguagem “obscura” se fazia necessário, uma vez que, segundo o próprio escritor, “as coisas não podem ser tão claras durante à noite”. Alicerçado nessa linguagem intrincada Joyce tratou de temas considerados tabus, tais como sexo, crimes contra os costumes e questões políticas irlandesas. Por isso, para muitos críticos, o livro seria a manifestação do inconsciente através de formas distorcidas como sucede nos sonhos, nos lapsos da língua e nas brincadeiras. A influência de Freud em Finnegans Wake é evidente. </span><br /><span style="color:#000000;"></span><br /><span style="color:#000000;">No entanto, nem todos os críticos vêem desta forma o romance. Para Samuel Beckett, conterrâneo do autor e que acompanhou de perto a evolução do Work in Progress, tendo secretariado Joyce na época em que ele escrevia o romance, o livro não é sobre coisa alguma, é alguma coisa em si mesmo, e prioriza, segundo ele, muito mais a língua na qual ele é narrado do que seu conteúdo. Não é sem razão que Beckett nos apresenta o livro dessa maneira. Em Finnegans Wake, James Joyce cria uma linguagem própria, usando vários recursos estilísticos, como trocadilhos, alusões obscuras, vocábulos constituídos pela fusão de duas ou mais palavras existentes ou não, chamados de palavras-valise, ou “portmanteau”. Além disso, seu vocabulário envolve palavras de aproximadamente 65 idiomas diferentes e, ainda incorpora termos que não estão em nenhum dicionário, termos estes inventados pelo próprio autor. Se, por um lado, essa linguagem torna a leitura difícil, por outro lado, ela pode esclarecer, muitas vezes, o que está sendo contado. Basta, para tanto, que se acate um dos conselhos de Joyce sobre como ler seu último livro: “Quando em dúvida, leia em voz alta”.1 </span><br /><span style="color:#000000;"></span><br /><span style="color:#000000;">Neste livro, a audição precede a visão. Finnegans Wake deveria ser declamado, lido em voz alta, embora a leitura silenciosa seja perfeitamente válida. Nele, a unidade básica de construção da linguagem, tanto em termos de significado quanto de musicalidade, não é a palavra, mas a sílaba. São muitos os exemplos de ruídos que podem ser encontrados nesta obra, sons formados por palavras compostas de inúmeras letras que os críticos denominam “soundsense” e que se explicam pela simples leitura audível . O barulho do trovão, uma palavra de mais cem letras que aparece já na primeira página do livro, pode ilustrar o que acaba de ser colocado: </span><br /><span style="color:#000000;"></span><br /><span style="color:#000000;">bababadalgharaghtakamminarronnkonntonnerronntuonnthunntrovarrhounawnskawntoohoohoordenenthurnuk </span><br /><span style="color:#000000;">[ p. 3]</span><br /><span style="color:#000000;"></span><br /><span style="color:#000000;">Os “soudsenses”, em Finnegans Wake, são em torno de dez, e perdem muito de seu sentido quando lidos em voz baixa. Todavia, não são só essas palavras que dependem da audição para adquirirem um maior significado: outros tipos de palavras, ou sentenças inteiras, necessitariam desta mesma forma de leitura, para adquirirem sentido ou valor estético. No final do capítulo sobre Anna Livia Plurabelle, por exemplo, as palavras adormecem. Temos, então, frases como “my foos don’t moos”, no lugar de “my feet don’t move”, que exigem um esforço maior de dicção por parte do leitor. </span><br /><span style="color:#000000;"></span><br /><span style="color:#000000;">Quanto aos outros recursos estilísticos, citaria os trocadilhos, que são jogos de palavras semelhantes no som, mas que possuem significados diferentes. Além de darem ao livro um efeito cômico, os trocadilhos permitem que o leitor os interprete de diversas maneiras: simbolicamente, alegoricamente, por exemplo. Por essa razão, eles também poderiam simbolizar a incerteza e a ambigüidade do inconsciente, conforme a concepção psicanalítica do sonho. Para citar um exemplo de trocadilho, escolhi a expressão “talk save”, usada reiteradas vezes em todo livro e que toma lugar da expressão “God save”. </span><br /><span style="color:#000000;"></span><br /><span style="color:#000000;">As palavras-valise, ou “portmanteau”, têm um efeito semelhante ao do trocadilho, mas exigem do leitor um pouco mais de atenção. Enquanto os trocadilhos oferecem um ponto de referência, uma vez que se apoiam numa linguagem já existente, as palavras-valise são totalmente novas e não possuem referencial. Elas são compostas da fusão de duas ou mais palavras e, muitas vezes, palavras de línguas diferentes. Esses vocábulos povoam o livro. Poderia dizer, por essa razão, que são a base da língua joyciana, ao lado das sílabas, conforme discuti atrás. Aparecem, em todo romance, palavras como “funferall”, uma fusão entre a palavra “funerall” (funeral) e a expressão “fun for all” (divertimento para todos); “Chaosmos”, originada a partir das palavras “chaos” (caos) e “cosmos” (cosmo); ou “finneagain” composta de uma palavra latina “finne” (fim) e de uma palavra inglesa “again” (novamente). </span><br /><span style="color:#000000;"></span><br /><span style="color:#000000;">Outra característica da linguagem de Finnegans Wake é, como já mencionei, a mistura de idiomas usada para compor essa nova fala. Joyce se apropriou de idiomas de diversas partes do mundo, envolvendo os leitores num emaranhado de traduções. Muitas vezes, isso nos faz indagar a respeito da língua original do romance, uma vez que se torna difícil saber qual língua prevalece sobre outra. Para muitos críticos, a língua original de Finnegans Wake seria o inglês, todavia outros entram em contradição ao discutir o assunto. Na realidade, o que Joyce desejava era construir uma língua nova que, segundo declaração do próprio autor, estivesse acima de todas as línguas e que todos pudessem utilizar. </span><br /><span style="color:#000000;"></span><br /><span style="color:#000000;">A obra do escritor irlandês foi dominada por essa inquietação lingüística. Ele acreditava que só poderia escrever a história do seu país quando encontrasse uma língua que se adequasse às experiências irlandesas. E essa língua possivelmente não seria o inglês, idioma do povo que dominou por quase oitocentos anos a Irlanda, nem mesmo o irlandês, língua perdida entre tantas outras que fizeram parte da história de sua terra natal. A Irlanda sofreu o domínio de outros povos, além do inglês, tais como os viquingues e os franceses. Todavia, Joyce sempre tentou recuperar a língua de seu país ou dar ênfase a ela, a tal ponto que ele mesmo declarava que seu livro tinha o ritmo da fala dos irlandeses. </span><br /><span style="color:#000000;"></span><br /><span style="color:#000000;">No tocante ao uso que Joyce faz do inglês, muitos estudos a respeito deixam indícios de que o escritor teria tentado “destruir” ou “fragmentar” esse idioma como forma de rebelião contra os colonizadores ingleses. </span><br /><span style="color:#000000;"></span><br /><span style="color:#000000;">O certo é que James Joyce criou uma linguagem nova e com ela um novo tipo de leitor. Um leitor que necessita estar familiarizado com diferentes línguas e culturas para absorver uma gama enorme de fatos históricos e culturais e para conseguir administrar a riqueza verbal que compõe o livro. Para os leitores de língua inglesa, os ecos da infância, os provérbios, as canções e outros similares ajudam a recompor o sentido do livro. No entanto, não raramente, os próprios leitores ingleses se sentem “perdidos” por não conhecerem as outras línguas ou culturas referidas no livro. Deste modo, o leitor de língua estrangeira também possui certa vantagem sobre o leitor inglês. O que poderia levar à conclusão de que, para compreender esse romance, uma leitura em conjunto seria ideal, pois o livro pode ser lido de diferentes perspectivas e cada leitor pode encontrar diferentes significados no texto, principalmente quando têm diferentes nacionalidades, ou dominam outros idiomas, ou conhecem outras culturas. </span><br /><span style="color:#000000;"></span><br /><span style="color:#000000;">Joyce, entretanto, não abandona o leitor à própria sorte. São muitos os conselhos de leitura inseridos no próprio livro, mesmo que estejam eles dispersos no meio da linguagem pouco clara do romance, ou apareçam, muita vezes, de forma implícita. Extraí dois exemplos como ilustração: </span><br /><span style="color:#000000;"></span><br /><span style="color:#000000;">Na página 453, temos: </span><br /><span style="color:#000000;">So now, I’ll ask you, let ye create no scenes in my poor primmafore’s wake. (Então, agora, eu pedirei a vocês, não criem nenhum espetáculo no meu pobre préprimeiro despertar)2 </span><br /><span style="color:#000000;"></span><br /><span style="color:#000000;">E, na página 108, o conselho é o seguinte: </span><br /><span style="color:#000000;">Now, patience; and remember patience is the great thing...(Agora paciência; e lembre-se paciência é a melhor coisa) Além disso, o romance se auto-conceitua, procurando ajudar na aproximação entre o leitor e a obra. </span><br /><span style="color:#000000;"></span><br /><span style="color:#000000;">Na página 251, Finnegans Wake se conceitua como: </span><br /><span style="color:#000000;">The lingerous longerous book of the dark... (o louco e longo livro da noite...) E, na página 394 o livro diz ser: Like another telmastory repeating yourself... (como umoutra estória qualquer repetindo-se a si própria...) </span><br /><span style="color:#000000;"><br /></span><span style="color:#000000;">A linguagem utilizada por Joyce, em Finnegans Wake, é, em suma, uma exploração das possibilidades da comunicação humana, desde a sílaba até os termos compostos, apresentando-se como uma linguagem poliglota e poética. Talvez resumisse o que foi dito até agora a frase: “Are we speachin d’anglas landage or are you sprakin sea Djoytsch?”. Nela, Joyce usa o francês (“d’anglais”), o alemão (“sprechen sie Deutsch?”) e ainda o inglês. Quanto à dimensão poética da linguagem, ela está presente em todo texto através dos jogos de linguagem já mencionados e das constantes aliterações e rimas, como por exemplo na frase “Tell me every tiny teign. I want to know every single ingul” (Conte-me toda a minúscula minúcia. Eu quero saber tudo tudo). </span><br /><span style="color:#000000;"></span><br /><span style="color:#000000;">Essa linguagem criada por Joyce, assemelha-se ao “neocrioulo” de Xul Solar, conforme já havia mencionado e que tentarei a partir de agora demonstrar, muito embora superficialmente. </span><br /><span style="color:#000000;"></span><br /><span style="color:#000000;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5pthAlq3Y94jm7grKv1zaw-tSMGr4tsKeoIlvWr5pZPmYMGbZUoWwU_5xYhFUaoz2IHaBNPUo41IhBB6qHtQrA6mvwSwnfopNS_nFkKoCj2CcrvMOUHskN5lJ0oeJMTsaB5oFH3iM5mg/s1600-h/x+7.jpg"></a>O pintor, mítico e poeta argentino Alejandro Schulz Solari, ou simplesmente Xul Solar, iniciou na década de 20 um <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5pthAlq3Y94jm7grKv1zaw-tSMGr4tsKeoIlvWr5pZPmYMGbZUoWwU_5xYhFUaoz2IHaBNPUo41IhBB6qHtQrA6mvwSwnfopNS_nFkKoCj2CcrvMOUHskN5lJ0oeJMTsaB5oFH3iM5mg/s1600-h/x+7.jpg"></a>trabalho com a linguagem, trabalho este que talvez tenha começado com <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXvUZ-6YV7-nclKj9A2LqcJT8uUxB3P-W0v_XGB8dgGHYVbRDjqJ_lJOXeDDuH5wTUim5AdhlXml-JHCkTWb-GQyP4RMOdXA0lpGuLKHD7Bz-FlCMt-oMH5kZhMkdx7K1gw2OU4EhYZv8/s1600-h/x+0.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5076193371357674386" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXvUZ-6YV7-nclKj9A2LqcJT8uUxB3P-W0v_XGB8dgGHYVbRDjqJ_lJOXeDDuH5wTUim5AdhlXml-JHCkTWb-GQyP4RMOdXA0lpGuLKHD7Bz-FlCMt-oMH5kZhMkdx7K1gw2OU4EhYZv8/s400/x+0.jpg" border="0" /></a>a formação do seu próprio nome artístico, uma mescla dos seus sobrenomes. </span><br /><span style="color:#000000;"></span><br /><span style="color:#000000;">A tendência ao visionarismo e à transgressão levaram o artista a problematizar a linguagem comum. Xul Solar inventou dois idiomas, a panlíngua e o creol ou neocrioulo. O primeiro idioma era filosófico, já o outro uma reforma do espanhol, com palavras inglesas, alemãs, gregas e a retomada do idioma guarani. Tratarei apenas deste segundo idioma. </span><br /><span style="color:#000000;"></span><br /><span style="color:#000000;">O neocrioulo seria uma língua para a América Latina, “a futura língua do continente”, segundo o próprio autor. </span><br /><span style="color:#000000;"></span><br /><span style="color:#000000;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5pthAlq3Y94jm7grKv1zaw-tSMGr4tsKeoIlvWr5pZPmYMGbZUoWwU_5xYhFUaoz2IHaBNPUo41IhBB6qHtQrA6mvwSwnfopNS_nFkKoCj2CcrvMOUHskN5lJ0oeJMTsaB5oFH3iM5mg/s1600-h/x+7.jpg"></a>O idioma propõe uma mescla de línguas já existentes, recorrendo ainda a combinação de variantes fonéticas e de fragmentos de palavras. Surge aí a primeira semelhança com a língua de Joyce, que, da mesma forma, combina estes elementos, além de outros já mencionados.</span><br /><span style="color:#000000;"></span><br /><span style="color:#000000;">Além disso, a língua criada por Xul, parece exigir, assim como a língua do escritor irlandês, um leitor ideal que seja capaz de criar uma relação de cumplicidade com os textos, de lançar-se à sua decifração e, a partir desta relação, elaborar a sua própria leitura. Desta forma, os textos em neocrioulo, assim como Finnegans Wake, permitem uma multiplicidade de leituras e significados. E, tanto o leitor do Joyce quanto o de Xul são chamados a uma participação ativa na produção artística. </span><br /><span style="color:#000000;"></span><br /><span style="color:#000000;">Outra semelhança entre essas línguas seria a seguinte: os textos em neocrioulo vêm acompanhados de uma “glosa” que não só ajuda o leitor a decifrar o vocabulário do texto, como também auxilia na compreensão da gramática básica da língua. A “glosa” de Xul Solar poderia ser comparada, na minha opinião, aos conselhos de leitura de Joyce, embora seja ela, ainda segundo minha opinião, mais eficiente, explícita e completa que os conselhos do escritor irlandês, uma vez que estes aparecem sempre dispersos ao longo do livro e na própria linguagem deste. Tomo como exemplo a “glosa” que acompanha o texto Visión sobrel trilíneo (1936):3 </span><br /></span><span style="color:#000000;"><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmARnMhhIBK4TbO-Kku1RZQCUrqUkBxNXDYZBUbMIYOiQFbaJxkFiNAObOAMedr9MXz2Zy9qAZOoHYDtGaw7izPKvisS5xJ-tm89wSGtXFzof1Mg1FUmnZ2j54dD-uQRBABmkb3mVTl04/s1600-h/X+1.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5076181354039180146" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmARnMhhIBK4TbO-Kku1RZQCUrqUkBxNXDYZBUbMIYOiQFbaJxkFiNAObOAMedr9MXz2Zy9qAZOoHYDtGaw7izPKvisS5xJ-tm89wSGtXFzof1Mg1FUmnZ2j54dD-uQRBABmkb3mVTl04/s400/X+1.jpg" border="0" /></a>“GLOSA. Género común (epicoino), palabras ke acaban en o. másculo en u. los géneros disúsanxe según convengan, kier’. Verboh son regulares, participios terminan en - ido, ho - io. entre dos palabras dobletes, español i portugés, la más cercana’l original o más sencilla lleve acepció más simple o más físi, hi más leqa lõ más figúrido. palabras terminan en -i hagan de adjetivo ho adverbio de modo ho, xi precedan, de ablativo ho instrumental, como en patitie-so, ambizurdo; ami, en vez de amorosamente, cuerpi, en vez de corporalmente, almi, en vez de psíqicamente, etcé. su (común), seu, ( másculi), as (fémini) hi suó (neutro ho abstracto de lõ), hagan xu, xeu, xa, xuó, en plurál. j como en port, francés o casi inglés. y o hache al revés es nuestra j fuerte española; h suene siempre o no escríbexe. ~tilde nasal de portugés. g siempre suave. x como sh a la antigua; z como en port. Francés e inglés, s española; ke es h (fonética) antes de otra s. xeól ( da Biblia, hebr.) somundo almi (plano astrál, mundo del soño consciente, mundo dos muertos, etcé.) prum’, de primo, plómada-vertical (mente) fen’, manifiest (amente), en apariencia, como en fenómeno, fenotipo, etc. ‘tla, abrevio de metálico. p’ra de pará, al lado. jaldo, mui amarillo. vol o volun’ por voluntá. faze - to make, hage - to do. porém, pero, sin embargo. logo, pronto; luego, poco después. fus’, abrev. de fusco, oscuro, confuso. blu, azul ciánico, cuasi de prusia. bol, de bola, esférico eu, yo almi, más que yo mundi; ego, yo superior. edro, geomplano (geometri ), como en pliedro. cho, de choz (port. chofre) de repente, de golpe. blis (inglés), beatitud, bienaventuranza. bolha, o bolla, burbuja. crep’, de “reventar”, explotar, precepi antes de reventar. tum o tun, de tun o tunc, entón’ (lat.) provisorio, temporario. (esta glosa, más longa ke as pretexto, puede mui sirve pa crioldríl (ejercitarse en criol).”<br /><strong>XS</strong> </span><br /><span style="color:#000000;"></span><br /><span style="font-size:85%;"><span style="color:#000000;">A língua de Xul, bem como a de Joyce, era cosmopolita e sem fronteiras. Ambos objetivaram criar um idioma através do qual todos pudessem se expressar. Se por um lado Xul, insatisfeito com as limitações da expressão e a rigidez da gramática da língua oficial, criou uma língua alternativa àquela do colonizador europeu, por outro lado, pode-se dizer, ele estava correndo contra a maré, pois nesse momento, com a chegada dos imigrantes europeus, a Argentina vivia um período de reconstrução da unidade nacional, o que implicava a busca de um idioma comum, único. Joyce, por sua vez, marcado pelos anos de ocupação inglesa na Irlanda e pela conseqüente perda da identidade de seu povo buscou resgatar a língua de seu país e fragmentar o idioma do colonizador, através da criação de uma língua universal. No Brasil, ainda não dispomos de estudos mais aprofundados acerca da rica linguagem de Xul Solar. Isto não significa falta de apreço ao artista sul-americano, mas se deve a uma redescoberta tardia da sua obra, entre nós. A próxima Bienal de Artes plásticas de São Paulo dedicará, segundo os jornais, um espaço ao artista argentino, o que evidencia sua crescente importância no âmbito da cultura latino-americana. No Bloomsday deste ano, também na cidade de São Paulo, foi apresentado um texto de Xul Solar pelos alunos da disciplina “A Música e a Poesia de John Cage”, ministrada pelo Professor Doutor Sérgio Medeiros, da Universidade Federal de Santa Cartarina, o que contribuiu para tornar mais evidente a ligação entre o artista latino-americano e James Joyce. </span><br /><span style="color:#000000;"></span><br /><span style="color:#000000;"><strong>Florianópolis,</strong> </span><br /><span style="color:#000000;">Santa Catarina<strong>.</strong> </span><br /></span><span style="color:#000000;"></span><br /><span style="font-size:85%;"><strong><span style="color:#000000;">Notas </span></strong><br /><span style="color:#000000;">1 Sabe-se que foi o escritor inglês Lewis Carroll quem esboçou a primeira teoria a respeito das palavras-valise no livro “Alice Através do Espelho” </span><br /><span style="color:#000000;">2 São pessoais e não definitivas as traduções de pequenos fragmentos de Finnegans Wake, quando não houver referência a um tradutor específico. </span><br /><span style="color:#000000;">3 O texto Visión sobrel trilíneo pode ser encontrado no trabalho “O Neocriollo de Xul Solar e o Modernismo Sul-Americano”, da pesquisadora Rita Lenira Bittecourt. </span><br /></span><span style="color:#000000;"></span><br /><span style="font-size:85%;"><strong><span style="color:#000000;">Referências Bibliográficas </span></strong><br /><span style="color:#000000;">ANDERSON, Chester. James Joyce. Londres: Thames and Hudson, 1998. ATTRIDGE, Derek (org.). The Cambridge Companion to James Joyce. Cambridge: Cambridge University Press, 1997. BEJA, Morris. James Joyce- A Literary Life. Dublin: Gill and Macmillan, 1992. BITTENCOURT, Rita Lenira de Freitas. Guerra e Poesia: Lutas Simbólicas do Modernismo.. Florianópolis: UFSC, 1999. BLADES, John. How to Study James Joyce. Londres: Macmillan, 1996. BOUCHET, André du. Du Monde Entier James Joyce- Finnegans Wake. Paris: Gallimard, 1962. CAMPOS, Augusto de. O Anticrítico. São Paulo: Companhia das Letras, 1986. CAMPOS, Augusto de. Poesia, Antipoesia, Antropofagia. São Paulo: Cortez & Moraes, 1978. CEVASCO, Maria Elisa e SIQUEIRA, Valter Lellis. Rumos da Literatura Inglesa. São Paulo: Ed. Ática, 1985. CULT- REVISTA BRASILEIRA DE LITERATURA. São Paulo. Ano III- n° 31. DICKS, Terrance. A Riot of Irish Writers- A Romp Through Irish Literature. Londres: Piccadilly Press, 1992. HORTA, Luiz Paulo. Música Clássica em Cd – guia para uma discoteca básica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,1997. JOYCE, James. Finnegans Wake. Londres: Penguin Books, 1992. NESTROVSKI, Arthur (org.). riverrun. Ensaios sobre James Joyce. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1992. NORRIS, David and FLINT, Carl. Introducing Joyce. Cambridge: Icon Books, 1997. SHEEHAN, Sean (org.). The Sayings of James Joyce. Duckworth, 1995. VÁZQUEZ, María Esther. Jorge Luis Borges. Esplendor e Derrota. Uma Biografia. Rio de Janeiro: Editora Record, 1999. WALTHER, Ingo. Picasso. Köln: Taschen, 1993. Tradução de Ana Maria Cortes Kollert. WISNIK, José Miguel. O Som e o Sentido. Uma História das Músicas. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. </span></span></span></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><br /><br /></span></span></span><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></span></span><span style="font-family:trebuchet ms;"></span>Douglas Diegueshttp://www.blogger.com/profile/00799817140635576161noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1305178475260110668.post-24368882713524931162007-06-14T23:25:00.000-04:002008-12-10T12:47:56.259-03:00Enkuentro com Marco Lucchesi<span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"><strong><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiILnWWUuAkd1Mdrezega_WYbGHft7f-evlfT7Y0E9LrqVRHkPCkXO1rNNBiEiXu0Z_2DZfB2d0cc4rReoYTv4DpW2Sbv_VnlmXE6ttjCNzPoB-gWf8MmZ3jGN2PNZwJ6_YD-TkP3Tw3Eg/s1600-h/m+2.jpg"><span style="font-size:85%;"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5076134740759116530" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiILnWWUuAkd1Mdrezega_WYbGHft7f-evlfT7Y0E9LrqVRHkPCkXO1rNNBiEiXu0Z_2DZfB2d0cc4rReoYTv4DpW2Sbv_VnlmXE6ttjCNzPoB-gWf8MmZ3jGN2PNZwJ6_YD-TkP3Tw3Eg/s400/m+2.jpg" border="0" /></span></a><span style="font-size:85%;">Marco Luchesi</span></strong><span style="font-size:85%;"> es um fenômeno inclassificábel en el âmbito de la literatura brasileira contemporânea. Interlocutor de Drummond, José Paulo Paes, Nise da Silveira, José Castello, entre muitos outros, viajante incansável, fino poeta, fino tradutor, fino crítico, fino ensaísta, fino pensador, mas sobretudo fino poeta, velho-menino-sábio-derviche, mismo cuando escreve ensaio, ou cuando traduz, ou cuando en una conferência sobre Poesia y Conocimiento nos encanta con el húmus de sua erudición. Nascido en Rio de Janeiro [1963], hijo de italianos residentes en Brasil, Marco Lucchesi publicou <strong>Bizâncio</strong> [(Ed. Record, 1997] y <strong>Poesie</strong> [poemas em italiano, Grilli Editore, 1999], que mereceu 2 prêmios en Itália. La poesia de Marco Lucchesi es un “Bellissimi intinerari terreni e celesti in una magnifica lingua, tutta luce e musica”, conforme anota Jean-Michel Gardain. Mas também palavra que non escamoteia vida nim morte nim la bertigem del desierto y abismos estrellados de la solidom humana intransferíbel. En <strong>Bizâncio</strong>, Lucchesi publica um conjunto de textos de poetas russos de diversas épocas traducidos por ele, assumindo assim la tradución como experiência de liberdade y lenguaje. Traduziu <strong>A Ilha do Dia Anterior</strong>, de Umberto Eco; a <strong>Scienza Nuova</strong>, de Vico; textos de San Juan de la Cruz, Rilke, Trakl, Leopardi, entre outros. Ha publicado una hermosa traducione de textos del persa Rûmî, <strong>A Sombra do Amado</strong>, poeta que vivió durante el siglo XII y es considerado tan importante cuanto Dante ou Shakespeare. Marco Lucchesi es professor de literatura italiana en la UFRJ y ha publicado também libros de ensayo: <strong>Saudades do paraíso</strong>, <strong>O sorriso do caos</strong>, <strong>Teatro alquímico</strong> são alguns deles. Leia a seguir una conbersa sin data di bencimento com Marco Lucchesi y 2 poemas de <strong>Alma Vênus</strong>. </span></span><span style="color:#000000;"><span style="font-size:85%;"><strong>(DD)<br /></strong><br /><br /></span><span style="font-size:85%;"><strong>Douglas Diegues - Marco, você me parece um poeta em trânsito entre várias culturas, um perseguidor incessante do outro e de você mesmo, um poeta de uma curiosidade infinita, artista da palavra, um fino crítico e tradutor de poetas como Khliébnikov e mais recentemente Rûmî, entre outros... Poderíamos começar falando de você?... Nasceu no Brasil... Como foi sua infância, formação literária, primeiras leituras, etc?<br />Marco Lucchesi -</strong> Sou filho de pais italianos, da Toscana. Nasci no Rio, tenho alma carioca e florentina. Amo profundamente o Brasil. Amo todas as partes do nosso drama. Todas. Que nenhuma fique de fora! Os ruídos que intempestivamente atravessam nossa cultura e nosso país. Sempre busquei a literatura. Foi uma tentativa de compreender o incompreensível, de traduzir o intraduzível, de afirmar o inafirmável. Constituiu-se, desde cedo para mim, esse jogo de impossíveis, de que a literatura era capaz de tornar mais forte com seu clarão. Minha infância foi marcada por uma intensa poesia existencial. Mudei-me para Niterói, aos 8 anos. Vivi coisas muito próximas de Os meninos da rua Paulo, tradução de Paulo Rónai, com quem compartilhei tal sentimento. O infinito. O espaço. Minha infância. Meu conflito. E Dostoiévski, em lágrimas. E Machado. E Júlio Verne. A historia de Monteiro Lobato. E as aventuras de Tim-tim a insistir com suas maravilhosas geografias. Sentimento das coisas que passam. Que me habitam. Francisco de Assis, e sua coragem. O rochedo Dante Alighieri, com a Divina Comédia e a poesia, meu Deus!, a poesia. Tanta poesia, até a descoberta reveladora de que a poesia podia ser vivida num ritual como o de Penteu, devorado pelas Bacantes. Aí, então, o renascimento. Meu Deus, minha infância!<br /><br /></span><span style="font-size:85%;"><strong>DD - Ungaretti dizia que todo poeta resolve seu problema propondo-nos uma poética... Poderíamos falar da tua poética... O que é a poesia para você?...<br />ML -</strong> O homem moderno, como nos diz Nietzsche, não precisa criar senão uma genealogia, pois já existia — homem moderno — em Platão, nas páginas de Montaigne, no drama de Shakespeare, nos romances de Dostoiévski. A poesia deve, talvez, refletir essa cartografia do sentimento e do diálogo com as formas do infinito. Não apenas o passado, nem tampouco a arrogância do presente. Poesia como ainda-não. Trâmite explosivo, latente. O Sorriso de Mona Lisa. A Juventude, de Eliseu Visconti. Coisas na iminência de acontecer: possibilidades abertas, como a do Messias, tão esperado pelos judeus, e que a qualquer instante pode voltar pela janela do tempo. A poesia e a revolução coincidem.<br /><br /><strong>DD - A vertigem dos abismos e dos desertos, o silêncio de Deus, o esplendor das luzes e das formas matemáticas, a solidão intransferível, a beleza e o mistério, o amor marinista e os poetas russos, temas de Bizâncio, seu livro de poemas, configuram uma mitologia pessoal... Fale-nos um pouco de Bizâncio...</strong><br /><strong>ML</strong> - É longa minha mitologia, meus altares, minha atração pelos desertos, Deus, o silêncio de Deus. O problema de Deus, a sombra de Deus. O Oriente. O Oriente Próximo, intensamente próximo de mim, e o Brasil barroco. Bizâncio talvez tenha sido uma das formas secretas de conjugar a pluralidade que me encerra. Foi o livro que me converteu. Um livro que me trouxe de volta para mim. O regresso plotiniano à pátria perdida. Todos buscam seus portos nos mares do ser. Bizâncio foi a volta ao porto. A travessia desses mares, metaforizados no Mar Negro e no Mar Cáspio, nos Mediterrâneos muitos: o mediterrâneo das cidades orientais e o mediterrâneo da Baía de Guanabara. Nesses mediterrâneos e nessa poesia eu terei encontrado o meu rosto. Depois veio Poesie, em italiano (poucos poemas em árabe, duas vezes premiado, na Itália), cujas portas foram abertas a partir de Bizancio.<br /><br /></span><span style="font-size:85%;"><strong>DD - Num mundo como o nosso, de consumismo desenfreado, de sucesso a qualquer preço, de submissão e desespero, de mercancia alucinada e economia fracassada, qual seria a função da poesia?<br />ML -</strong> A função da poesia me parece aquela de ser contracorrente. Resistência. Permanência. Donde minha paixão pela poesia e pela cultura popular, esteja onde estiver: no interior da Bahia, em Canudos ou Jeremoabo, em Catolé do Rocha (na Paraíba), ou em Guarapuava (interior do Paraná) Essas geografias me pertencem de modo profundo e nelas tenho encontrado uma poética de enfrentamento. Uma poética do tempo e do espaço. A poesia não servindo, necessariamente, para nada acaba por tornar-se tudo. Nas labaredas de Clarice Lispector. Na alquimia da palavra via João Cabral. Esta é a minha pátria. Meu país. A pátria do não, mas, ao mesmo tempo, a pátria do sim. A poesia, como fogo.<br /><br /></span><span style="font-size:85%;"><strong>DD - Seu livro de poemas Alma Vênus será publicado em breve... Poderia falar um pouco desse novo trabalho...?<br />ML - </strong>Como definir aquilo que procuro, de todas as maneiras, deixar indefinido? Minha própria vida, a busca das coisas que me buscam, o movimento das ondas, o conhecimento da perplexidade com que se debate hoje a física quântica não mais assombrada pelo demônio de Laplace. Mas vamos aos fatos. Alma Vênus busca uma compreensão de uma natureza dividida entre indiferença e compaixão. São essas duas forças que completaram, aliás, o quadro da oposição Teilhard de Chardin e Jacques Monod. Sentimento da solidão e da natureza, de Deus e da existência, de que resulta o feminino, não necessariamente utópico e positivo, mas distópico e negativo, a natureza, mãe e madrasta, a natureza e suas ilusões, a permanência da vida e o abismo das coisas, de nossos desamores e de outras arqueologias, de cuja terra, esquecida, emergimos. É um livro de adesão e sentimento. Habitam-no poucos sonetos, formas amplas e o sentido musical que organiza minha expressão, Alma Vênus. Livro onde moro.<br /><br /></span><span style="font-size:85%;"><strong>DD - O que é um bom poema para você, quais suas características? ... E um mau poema, o que seria?<br />ML -</strong> Recordo-me de Mário Quintana, quando afirmara que um bom poema não é o que lemos, mas aquele que nos lê. Difícil também não evocar Bandeira em Itinerário de Pasárgada, quando nos diz que o mau poema nos ensina muitas vezes mais do que uma acabada obra-prima. Por isso mesmo, a questão guarda não poucas dificuldades. De todo modo, em meu jardim poético, posso determinar as coisas que mais repercutem dentro de mim e aquelas que chegam pálidas, de modo que, à maneira de Leibniz, tudo é bom desde que saibamos as diferenças poéticas, manter o espanto e a admiração sem as quais não se pode viver estados de poesia.<br /><br /></span><span style="font-size:85%;"><strong>DD - O que a palavra significa para você? Como é sua relação com as palavras?<br />ML -</strong> E penso em Manuel de Barros, em suas lesmas. E penso em Drummond, em seu dicionário. E penso em Cabral, com suas lâminas. As rimas pedrosas de Dante. Tenho amor e ódio à palavra. A palavra me consome enquanto a pronuncio. A palavra me oferece alturas, me promete vertigens. Não sei viver senão da palavra, que liberta e aprisiona o que tenho buscado. E, ao buscar, me perco, pois a palavra é mediação. Um princípio de unidade, uma centelha de luzes, que me permitem compreender algo do abismo. Meu Deus, já não poderia viver sem a palavra! A palavra sagrada. A palavra maldita. Minhas vísceras e meu coração. Minhas tentativas de poemas. Minha obstinação. “Palavras, palavras, que potência a vossa!”, dizia Cecília no Romanceiro.<br /><br /><strong>DD - Uma de suas paixões parece ser a poesia e a língua árabe... Em Poesie você nos surpreende com alguns poemas escritos em árabe com tradução ao italiano (!) Poderia falar um pouco dessa poesia e dessa língua?</strong><br /><strong>ML. -</strong> O oriente sempre exerceu sobre mim um fascínio tirânico. As solidões, as línguas e o deserto. Algo dessa atração está no livro Os olhos do deserto, onde me volto de modo exclusivo ao Levante. Também acaba de sair A Sombra do Amado, poemas de Rûmî. Começo, essencialmente, pelo árabe e, em segundo plano, mas não com </span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvbyVuJUuTqaphupA7A4aujp2GqMpGNRLy6PMjMGA1pZb1TtBR6j2ZKgGVapHErOk5-KIMGrZIBSqL31ls42kkq7KrEai9UCvHJgntOEki31V1K0hu2brcJzKibMAYdYrwsd4iGKqn8fM/s1600-h/m+3.jpg"><span style="font-size:85%;"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5076135110126304018" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvbyVuJUuTqaphupA7A4aujp2GqMpGNRLy6PMjMGA1pZb1TtBR6j2ZKgGVapHErOk5-KIMGrZIBSqL31ls42kkq7KrEai9UCvHJgntOEki31V1K0hu2brcJzKibMAYdYrwsd4iGKqn8fM/s400/m+3.jpg" border="0" /></span></a><span style="font-size:85%;">menor esforço, pelo turco e pelo persa. São línguas cujas formas sintáticas e semânticas distam enormemente. É bem verdade que a existência de um fundo islâmico tende a aproximá-las a partir do árabe, tesouro de palavras, conceitos e imagens. Chego a perder o sono para fixar não poucas diferenças dessas línguas e a partir delas conseguir dois pontos que me parecem essenciais: primeiramente o estar junto das expressões populares e a descoberta da notável poesia médio-oriental. O árabe é cortante como uma espada. Lâmina afiada, que se organiza por aspectos de altíssima condensação. Como diz o Alcorão: Deus está mais próximo que a veia jugular. E com essa expressão define-se a força e a intensidade da poesia dessas línguas.<br /><br /><br /><strong>INTELECTUAL EXEMPLAR</strong><br />Por JOSÉ CASTELLO<br /><br /></span></span></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"></span></span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"><div><br /><span style="font-size:85%;">Marco Lucchesi é, num mundo em que o saber se fragmentou, se especiliazou, perdeu a noção do todo, um dos raros intelectuais completos que temos hoje no país - ou ao menos que aspiram à completude, mesmo sabendo que ela é impossível. Poeta, Lucchesi escreve uma poesia conectada não só ao mundo, mas às grandes questões que o permeiam, desde as </span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsty0hdc2qDUYjLGVtk1OqcFketE1lS-XE7a7CsWTKZjK_LA9uRqgreCxYNvrL1T_lff5Iz3CfaRa74tDMOr6B7X9ExwjAxZ-9AECWes3X0sYCkeIOBjxkX-U-fQecQaYj_8cI84L2p1I/s1600-h/m+1.jpg"><span style="font-size:85%;"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5076134908262841090" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsty0hdc2qDUYjLGVtk1OqcFketE1lS-XE7a7CsWTKZjK_LA9uRqgreCxYNvrL1T_lff5Iz3CfaRa74tDMOr6B7X9ExwjAxZ-9AECWes3X0sYCkeIOBjxkX-U-fQecQaYj_8cI84L2p1I/s400/m+1.jpg" border="0" /></span></a><span style="font-size:85%;">perguntas milenares, que vêm marcadas pelo espanto, até as dúvidas contemporâneas, com os quais tenta pensar a grande confusão do mundo de hoje. Tradutor, Luchesi não se cansa de se debruçar sobre novas línguas (agora mesmo, para fazer uma tradução dos poemas de Rûmî, o poeta persa do século 13, dedicou-se a estudar línguas quase perdidas com a obstinação de um menino). Não é, contudo, um desses tradutores que se dedicam aos jogos de palavras, às adaptações arbitrárias e lincenciosas, ao contrário, está sempre obstinado em reencontrar o espírito dos poetas antigos com que se defronta. Lucchesi é também um filósofo, na acepção mais ampla do termo - um homem que pensa sem preconceitos, que exercita o pensamento, que não teme as idéias, um exemplar raro de livre pensador. Além do mais, é um viajante compulsivo, não desses turistas só interessados no sucesso e no consumo, mas um peregrino dos desertos, das regiões remotas, das cidades inacessíveis. Viajante, ele está tão grudado ao mundo quanto aos livros - o que é bom para os dois. Marco Lucchesi não separa o pensamento da experiência, nem o saber da sensação. Por isso converteu-se, apesar da pouca idade, num intelectual exemplar.</span></span></span></div><br /><div><span style="font-size:85%;"></span></div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"><span style="font-family:Georgia;"></span></span></span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"><div><br /><strong><span style="font-size:85%;">2 POEMAS DE MARCO LUCCHESI</span></strong></span></span></div><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"><div><br /><span style="font-size:85%;"><strong>Alef<br /></strong><br />virá<br />de algum lugar<br />perdido<br /><br />virá<br />de um fosco<br />desabrigo<br /><br />de frios<br />roseirais<br /><br />de medos<br />ancestrais<br /><br />virá<br />no assombro<br />do poema<br /><br />virá<br />na forma<br />de uma anêmona<br /><br />da funda<br />superfície<br /><br />dos olhos<br />do deserto<br /><br />virá<br /><br />das níveas<br />afluências<br /><br />no sal<br />das confluências<br /><br />virá<br /><br />de um verbo<br />reticente<br /><br />de um novo<br />continente<br /><br />das árvores<br />ilhadas<br /><br />virá<br /><br />das frias<br />enseadas<br /><br />na língua<br />da serpente<br /><br />(esparsos<br />temporais<br /><br />perdidos<br />amanhãs)<br /><br />virá<br /><br />e logo<br />não seremos<br />o que somos<br /><br />que o sol<br />de tanta espera<br />nos consome<br /><br /></span></div><div><br /><span style="font-size:85%;"><strong>Bet<br /></strong><br />tem rosto<br />a palavra<br /><br />e<br />o luar<br /><br />e<br />o sentido<br /><br />como sol<br />atrás<br />das nuvens<br /><br />como<br />peixe<br />dentro d’ água...<br /><br />Somente<br />em Deus<br /><br />repousam<br />muitos rostos<br /><br />como se fora<br />a rosa<br />de uma rosa<br /><br />a se esconder<br />na rosa<br />de uma rosa<br /><br />e assim<br />ad infinitum<br /><br /><br />que o nada<br /><br />só tem rosto<br /><br />de escamas e de espinhos<br /><br /></span><br /><strong><span style="font-size:85%;">De Alma Vênus [Editora Record]</span></strong></span></span></div>Douglas Diegueshttp://www.blogger.com/profile/00799817140635576161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1305178475260110668.post-2827812338716744342007-06-13T14:53:00.000-04:002008-12-10T12:47:56.626-03:00JOHN CAGE Y EL XAMANISMO<span style="color:#000000;"><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:85%;"><strong>Sérgio Medeiros</strong> nasceu em Bela Vista [Matto Grosso do Sul] y es uno de los críticos literários poetas y traductores mais imnovadores em atividade hoje en Brasil. Ha organizado los dossiês “Estudos Culturais” y “James Joyce” para la revista <strong>Cult</strong> para la Ha publicado <strong>O Dono dos Sonhos</strong>, estudio pionero sobre la estructura narrativa de los mitos Xavantes [Ed. Razão Social, 1991; SP). Traduziu, entre otros, <strong>Silvia & Bruno</strong>, de Lewis Carroll, para a Editora Iluminuras; <strong>A Retirada da Laguna</strong>, de Taunay, para a coleção Retratos do Brasil, dirigida por Antonio Cândido, da Cia. das Letras; e <strong>Morfologia e Estrutura no Conto Folclórico</strong>, de Allan Dundes, para a coleção Debates, da editora Perspectiva. <strong>Novembro y 13 cartas del oriente</strong>, de Gustav Flaubert, com um longo estudo introdutório. Organizou la edición de <strong>Irecê e Guaná</strong>, de Taunay, com prefácio de Antonio Cândido e posfácio de Haroldo de Campos, tabém publicada pela Editora Iluminuras. Sérgio Medeiros publicou dois livros de poesia: <strong>Mais ou menos do que dois</strong> y <strong>Alongamentos</strong>. Actualmente Sérgio Medeiros vive en Florianópolis, onde es professor da Universidade Federal de Santa Catarina. Durante el <strong>1º Encuentro Internacional de Poesia de Asunciónlândia [Paraguai]</strong>, Sérgio Medeiros fez una bella konferência sobre poesia, experimentacione y xamanismo en la poética de John Cage, y que hoy lo publicamos en este Ayvu Ayvu. Avanti!<br /></span></span><br /></span><div><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:85%;"><br /><span style="font-size:100%;"><strong><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9i1x9n5jvAsTZe70fuk2jGiHTBCbBcx9u54G2ABQrNJz2HIY4gTMFXYXcire8vBrdlYL7m5Yt9g8vd8_n1tRH0atZNcoeNcZD4A9rtOC8ZYZ3RNN5sPgx7qirwktqjTIBUTOJu88Z_2k/s1600-h/SM+2"><span style="color:#000000;"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5075627951798057538" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9i1x9n5jvAsTZe70fuk2jGiHTBCbBcx9u54G2ABQrNJz2HIY4gTMFXYXcire8vBrdlYL7m5Yt9g8vd8_n1tRH0atZNcoeNcZD4A9rtOC8ZYZ3RNN5sPgx7qirwktqjTIBUTOJu88Z_2k/s320/SM+2" border="0" /></span></a><span style="color:#cc0000;">Xamanismo e Experimentação: a obra poética de John Cage</span></strong></span><span style="color:#000000;"> </span></span></span></div><span style="font-family:Trebuchet MS;font-size:85%;"></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:85%;"><br /><div><span style="color:#000000;">por SÉRGIO MEDEIROS</span></div><br /><div><span style="color:#000000;"></span></div><br /><div><span style="color:#000000;">Ouvimos, como uma introdução à nossa conversa (sublinho o termo) sobre a obra poética de John Cage (1912-1992), as duas peças iniciais das “Sonatas e Interlúdios para Piano Preparado” de 1946-48. Escolhi uma gravação histórica, a da première de 1951, com a pianista Maro Ajemian — opina-se que seria a melhor gravação dessa obra-prima de John Cage. Sobre as gravações das sonatas existentes no mercado, afirmou Richard Kostelanetz:<br /><br />“For instance, there are several available recordings of Cage’s earliest extented masterpiece, “The Sonatas and Interludes for Prepared Piano”; among the performers are, in roughly chronological order, Maro Ajemian, Yuji Takahasi, Gerard Fremy, Nada Kolundzija, Joshua Pierce, John Tilbury, and Daryl Rosenberg. I tend to prefer the Ajemian, because it was one I heard first three decades ago and the only one I knew for many years. I once heard a sophisticated New York classical disk jockey recommend it as well for “the quality of preparations”. On second thought, however, neither of those two reasons is sufficient for identifying it as best. Though Cage himself performed the work several times in live concerts, no transcription of his interpretation is known to exist.” (Kostelanetz, Richard. “John Cage (ex)plain(ed)”, Nova Iorque, Schirmer Books, 1996, pág. 176).<br /><br />O fato de que não exista da obra em questão uma gravação do próprio Cage é muito sintomático. Como lembrou Kostelanetz, Cage não tinha simpatia por gravações. Em sua casa não havia toca-discos ou gravadores, e, nos últimos anos de vida, tampouco um cd player. Cage opinava que a música, a sua ou qualquer outra, deveria sempre ser ouvida ao vivo e que toda gravação era algo que se poderia comparar a um postal de uma paisagem, não à própria paisagem. Ele desejava que visitássemos a paisagem ao invés de admirar apenas o postal. Não temos condições, infelizmente, de ouvir agora uma performance ao vivo das sonatas para piano preparado, mas, em troca, temos uma execução gravada que é muito boa ou muito melhor, acredito, do que inúmeras outras, apenas medianas, executadas ao vivo.<br />Vejamos, antes de iniciar a apresentação da “obra poética” de John Cage, o que é uma piano preparado. Recorrerei, primeiramente, ao crítico Paul Griffiths, autor de uma “Enciclopédia da Música do Século XX”, muito conhecida. No verbete “piano preparado”, lemos que a nova técnica de tocar piano surgiu muito antes da composição das sonatas que acabamos de ouvir, pois Cage já estava interessado em questões musicais ligadas ao ritmo e à percussão desde o início doas anos 40:<br /><br />“Piano com objetos inseridos entre as cordas: um parafuso e um pedaço de cartolina na “Second Construction” (1940), de Cage, e um pequeno pino com roscas e 11 pedaços de material fibroso para vedação de portas e janelas em sua “Bacchanale” (também de 1940). A técnica foi introduzida por Cage, que também batizou o instrumento (na partitura de “Bacchanale”; na “Second Construction” ainda usa o termo de Cowell, STRING PIANO). As obras posteriores de Cage envolvem mais preparações (45 nas “Sonatas e Interlúdios”) e vêm com instruções precisas sobre onde se devem colocar os objetos, embora o efeito exato vá depender da natureza dos objetos e do piano no qual são introduzidos. Teoricamente, o piano preparado permite ao compositor fazer experiências com som de uma maneira sem igual antes do advento da música eletrônica; contudo, a liberdade passa de fato para o músico, já que os sons não podem ser prescritos “(Griffiths, Paul, “Enciclopédia da Música do Século XX”, São Paulo, Martins Fonte, p.169).<br /><br />Num livro sobre Arnold Schoenberg (“Shoenberg”, São Paulo, Editora Perspectiva, 1981), o crítico René Leibowitz discute o “Concerto para Violino e Orquestra op. 36” do compositor austríaco, comparando-o com o “Concerto para Violino”, de Beethoven. Em ambas as obras, o “idioma instrumental” teria sido levado aos seus limites mais extremos, de modo que, no caso de Beethoven mais do que no caso de Schoenberg, curiosamente, se poderia dizer que o violino transcende a cada instante o idioma do próprio violino (“Não encontramos em momento algum, na parte solista, nenhuma fórmula convencional, nenhuma figura propriamente ‘violinística’ do gênero das que caracterizam todas as partes de virtuosismo concebidas para esse instrumento. Em vez disso, a parte do violino deste concerto nos parece a cada instante como se tivesse sido transcrita do piano”, op. cit., pág. 124-125). Apropriando-me desse parecer, diria que, no caso das “Sonatas e Interlúdios” de John Cage, estaríamos também diante de uma composição em que o idioma de um instrumento tradicional, aqui o piano, é levado aos seus extremos, como igualmente sucede, aliás, nos “Vingt Regards sur l’Enfant Jesus”, de Olivier Messiaen, mas, no caso de Cage, em particular, até o ponto desse instrumento tornar-se uma pequena orquestra de percussão (os sons oscilam do sino tocando ao tambor sendo percutido) para um só músico (“... as the piano is prepered, the various timbres give an illusion of a percussive ensemble, though there is only one player”, como comenta Otto Karolyi, no seu livro “Introducing Modern Music”, Londres, Penguin Books, 1995, pág. 214). Assim, Cage fez o piano falar um outro idioma, um idioma às vezes “primitivo”, um idioma de outras culturas, como a oriental ou a indígena. Um piano para xamãs e mestres zen-budistas.<br />Mas John Cage não é apenas um dos músicos mais importantes da segunda metade deste século, um compositor que “alargou as fronteiras” da música ocidental, como já se disse com razão. Filósofo e pintor, Cage também é poeta e publicou em vida vários livros, nos quais reúne reflexões, manifestos, ensaios e poemas. E é sobre estes que desejo falar agora.</span></div><div><br /><span style="color:#000000;">No Brasil, devemos ao poeta Augusto de Campos, que é também crítico musical, a popularização do nome do compositor norte-americano não só entre os músicos como, ou principalmente, entre os leitores de poesia. Aproveito para esclarecer que sou professor de literatura e tradutor e não músico, embora apreciador da música erudita contemporânea.</span></div><div><br /><span style="color:#000000;">Num ensaio-poema sobre John Cage publicado no livro “O Anticrítico” (São Paulo, Companhia das Letras, 1986), Augusto de Campos opina já na abertura:<br /><br />“depois que pound morreu<br />o maior poeta vivo americano<br />talvez o maior poeta vivo<br />é um músico<br />JOHN CAGE<br />Talvez porque não pretenda ser poeta<br />‘eu estou aqui<br />e eu não tenho nada a dizer<br />e o estou dizendo<br />e isto é poesia’<br />diz cage<br />em sua ‘conferência sobre nada’ (1949)<br />enquanto os poetas que pretendem dizer tudo<br />já não nos dizem nada” (op. cit., 213).<br /><br />Nesse texto, em que declara Cage o maior poeta vivo (estávamos em 1986), Augusto de Campos não ousou afirmar ser ele também o maior compositor vivo. Isso é curioso, pois, nos EUA, Cage é considerado um grande compositor, mas não um grande poeta. O crítico brasileiro teria invertido, de certa maneira, essa apreciação. Os livros de Cage, nas livrarias dos Estados Unidos, não estão nas estantes de poesia, mas naquelas de música, como se o compositor só escrevesse sobre assuntos musicais. “Silence” (1961), “A Year from Monday” (1967), “M” (1973) e “Empty Words”(1979), livros recheados de poesia, são considerados “books on music theory”. É claro que existem, nos Estados Unidos, críticos de literatura importantes como, por exemplo, Marjorie Perloff, que deram aos textos de Cage a devida atenção. Mas o fato é que o compositor tem sido considerado mais importante do que o poeta. Gosto de ambos, e não saberia dizer se Cage é maior poeta do que compositor ou vice-versa. Mas isso não me interessa, uma vez que pretendo mostrar, a partir de agora, como a obra musical e a obra poética de Cage compartilham a mesma estética e, nesse plano, se equivalem, uma iluminando a outra. A sua poesia faz o poema falar um idioma diferente, assim como a sua música faz o piano expressar-se numa outra linguagem musical, estranha, extra-ocidental, conforme vimos.<br /></span></div><div><span style="color:#000000;">Voltando ao texto elogioso de Augusto de Campos, gostaria de citar mais esta passagem:<br /><br />“o seu ‘diário: como melhorar o mundo<br />(você só tornará as coisas piores)’<br />1965-1972<br />é o único poema longo consistente<br />escrito depois dos ‘cantos’ de ezra pound<br />que consegui ler e amar” (op. cit., pág. 213).<br /><br />Comentarei a seguir, ainda que brevemente, esse poema longo, tão prezado por Augusto de Campos.<br />Os “Diários” de Cage começaram a ser publicados no início dos anos 60, no livro “A Year from Monday”, cuja primeira edição data de 1963. Esse livro já foi traduzido para o português por Rogério Duprat ( a revisão é de Augusto de Campos), sob o título “De Segunda a um Ano” (São Paulo, Editora Hucitec, 1985). Existe dele uma versão em espanhol, segundo Augusto de Campos, que saiu em 1967 no México, pelas Ediciones Era.<br />Na introdução ao primeiro “diário”, afirma John Cage:<br /><br />“É um mosaico de idéias, proposições, palavras e estórias. É também um diário. Para cada dia, a partir de operações ao acaso [chance operations], determinei quantas partes do mosaico escreveria e quantas palavras haveria em cada uma.”<br /><br />Esse comentário do autor é importante. Uma das características dos textos de John Cage, sejam eles poéticos ou críticos, é virem sempre precedidos de uma pequena “explicação” que introduz o leitor no método utilizado pelo escritor.<br /></span></div><div><span style="color:#000000;">É esse último aspecto, o método, que desejo focalizar agora, pois a compreensão do método de John Cage — que eu chamaria em português “operações com o acaso” ou, como quer Rogério Duprat, “operações ao acaso”, ou “operações de acaso”, como quer Augusto de Campos — parece ser uma excelente porta para entrar na sua poética, isto é, na sua poética posterior à invenção do piano preparado, quando o compositor se pôs também a escrever poemas. Vejamos, então, o que sãos as “chance operations”, ou operações com o acaso, ou ao acaso, método utilizado posteriormente à criação das “Sonatas e Interlúdios”.<br />Grosso modo, esse método consiste num processo de tomar decisões com a ajuda do “I Ching”, ou “O Livro das Mutações”, o famoso livro-de-oráculos chinês. Isso não significa que a arte de John Cage seja mística ou psicodélica. Ao contrário, com esse método Cage desejava questionar a primazia que “eu” do artista sempre teve na arte ocidental, a partir da escola romântica. Ao delegar ao livro-de-oráculos o papel de tomar decisões (trata-se de um método mecânico e não inspirado, como já se observou), o artista simplesmente abre mão da sua vontade, das suas preferências e aversões pessoais, passando a compor obras cuja forma final ele não poderá mais prever, já que estas deixariam de ser a expressão da sua subjetividade, por assim dizer — agora as obras são uma experiência criada pelo acaso, ou por operações ao acaso. Um exemplo disso é a sua “Music of Changes” (de 1952) e, naturalmente, os “Diários”.<br /></span></div><div><span style="color:#000000;">Esse método, o das operações ao acaso, foi utilizado por John Cage, a partir dos anos 50, para escolher tanto as notas de uma composição musical como as letras ou palavras de um poema. Não escrevo ou componho para expressar a mim mesmo, reiterou diversas vezes o artista norte-americano, mas para modificar a mim mesmo. Ou seja, cada nova obra poética ou musical deveria ser um surpresa para o próprio artista e, a partir daí, contribuir para que ele próprio tivesse uma nova experiência do mundo e da arte. Essa concepção de arte contraria a noção corrente de arte como expressão mais ou menos direta dos sentimentos do artista. John Cage jamais quis fazer tal coisa. “I think of Music not as self-expression, but as Expression”, ele declarou no início da sua carreira. A arte como Expressão, segundo a concepção de Cage, nasce da não-intenção de expressar algo, o que quer que seja.<br /></span></div><div><span style="color:#000000;">Isso vai desembocar na sua famosa peça denominada “4’33'’” (Quatro minutos e trinta e três segundos), de 1952, onde o silêncio se torna sinônimo de não-intenção, e a não-intenção sinônimo de “não fazer nada”. Nessa peça, também criada com o auxílio do livro-de-oráculos chinês (as operações de acaso determinaram a duração das três partes da obra, por mais estranho que isso possa parecer), não há sons musicais, apenas o som do ambiente. O pianista se senta diante do piano e move as páginas em branco da partitura. O público então se manifesta, há uma proliferação de “eus” na sala de concerto, a partir do momento em que o eu do artista e o eu do intérprete se calam. Numa biografia de Cage, lemos a respeito dessa peça e do modo como foi composta: “Cage composed it in just the same way as he wrote his other works at this time, applying ‘I Ching’ chance operations to rhythmic structure. Since no sounds are to be intentionally produced in the piece, the structure is illuminated only by the sounds which accidentally occur; (...). Cage built up a three-movement piece by accumulating short silences of chance-determined duration” (David Revill, “The Roaring Silence”, Nova Iorque, Arcade Publishing, 1992, pág. 165).<br /></span></div><div><span style="color:#000000;">Augusto de Campos assim descreveu a reação do público diante dessa “peça silenciosa”:<br /><br />“em ‘4’33'’’ (1952)<br />um pianista entra no palco<br />toma a postura de quem vai tocar<br />e não toca nada<br />a música é feita pela tosse<br />o riso e os protestos do público<br />incapaz de curtir quatro minutos e alguns segundos de<br />silêncio” (“O Anticrítico”, op. cit., pág. 218).<br /><br />O silêncio de Cage na verdade não é silêncio, pois é uma certa duração de tempo que vai se enchendo de sons aleatórios, de sons casuais, originários do ambiente e não de um instrumento musical ou, mais remotamente, da subjetividade do próprio artista.<br /></span></div><div><span style="color:#000000;">Mas vejamos agora o que sucede nos seus escritos poéticos, particularmente nos “Diários” já mencionados e incluídos no livro “De Segunda a um Ano”, onde o conceito de silêncio também é importante, coexistindo com as, ou sendo uma extensão das operações de acaso, as “chance operations”.<br />Nos “Diários” de Cage ouvimos várias vozes falando, e não apenas a voz do poeta. O eu do poeta está aberto ao mundo e, quando silencia, passa a reproduzir os falares que o circundam, falares provenientes de diferentes eus que interagem com o seu. A poesia de John Cage silencia a eu lírico (podemos compará-la a um piano mudo) para, a partir daí, captar a fala da platéia, da vizinhança, como ocorre na peça “4' 33””. A ordem ou a disposição desses múltiplos enunciados é determinada, naturalmente, por operações do acaso, inspiradas no mecanismo de leitura de oráculos proposta pelo “I Ching”, o livro mais antigo do mundo, segundo o próprio Cage, grande admirador e conhecedor da cultura oriental.<br /></span></div><div><span style="color:#000000;">Se o lirismo é, segundo a definição corrente, uma “Qualidade da obra poética, sobretudo a Poesia, marcada pelo subjetivismo sentimental, quanto ao fundo” (Geir de Campos, “Pequeno Dicionário de Arte Poética”, São Paulo, Cultrix, 1978, p. 102), então temos, nos “Diários”de Cage, um exemplo de poesia não-lírica, pois o poeta não deseja expressar a si mesmo, mas ouvir as vozes que ecoam ao seu redor. Darei um pequeno exemplo, retirado da tradução brasileira do livro “De Segunda a um Ano” (não respeitarei, porém, a disposição gráfica original, nem o uso que o autor faz do negrito, itálico etc.):<br /><br />“A discussão de George<br />Herbert Mead sobre a atitude religiosa:<br />Primeiro a gente se considera um membro de<br />Uma família, mais tarde uma parte de uma comunidade,<br />Depois um habitante de uma cidade, cidadão de tal<br />Ou qual país; finalmente a gente não sente mais<br />O limite daquilo de que a gente faz parte.<br />O passado? Resposta de Fuller:<br />Conserve-o. Times Square, por exemplo: cubra-<br />O com uma cúpula; ponha mesas e cadeiras dentro,<br />Com carpete de plástico. (Guarde o que sobrar,<br />De forma a que lá esteja para ser usufruído, não para ser só<br />Objeto de leitura.) Os chineses procedem diferentemente,<br />Relata Häger. Revoltados contra<br />Si mesmos, mandam os artistas que sustentam a<br />Tradição, atores, músicos, para os<br />Trabalhos forçados em lugares distantes. Vida nova.<br />Depois de cada guerra, a indústria coloca novos<br />Produtos à venda. Os benefícios dos<br />Presentes conflitos (frios e quentes, na<br />Terra e no espaço) serão enormes. Nenhuma<br />Organização, escola, por exemplo, será<br />Capaz de proporcioná-los. O único usuário<br />(Não somente rico mas bastante grande para<br />Usá-los) será o próprio globo. XLVII<br />Todas as latas de lixo na Alemanha Ocidental são<br />Do mesmo tamanho. Elas têm tampas desenhadas de forma a que<br />A única coisa que a gente tem de fazer é<br />Colocá-las na traseira do caminhão de<br />Lixo. O caminhão faz o resto: apanha-as,<br />Vira-as de cabeça pra baixo, abre<br />A tampa, recebe o lixo,<br />Fecha a tampa, e coloca-as de novo<br />Na calçada”(págs. 60-61).<br /><br />Nesse breve trecho ressoam muitas vozes, entre as quais distinguimos uma opinião de Herbert Mead sobre religião, outra de Fuller sobre o passado, a atitude dos chineses perante a tradição e um informativo “anônimo” sobre as latas de lixo da Alemanha Ocidental, algo que poderíamos ler, talvez, num jornal ou num folheto sobre ecologia. Trata-se, em suma, de um mosaico de falas díspares, que o poeta registra no seu “diário” recorrendo ao auxílio do “I Ching”. Não se trata de um texto místico, muito pelo contrário: temos aqui um texto profano, aberto para o exterior e não para o interior, o qual recolhe os falares do mundo, num determinado período da história, os anos 60.<br /></span></div><div><span style="color:#000000;">Cage, embora não gostasse de gravações de peças musicais, consentiu em registrar a sua própria leitura dos “Diários”. Essa leitura já está disponível numa caixa contendo 8 cds. Creio que será interessante ouvirmos agora um pequeno trecho dessa gravação, que considero uma obra-prima, um dos exemplos máximos de poesia sonora feita no século XX. É uma leitura que trabalha com a intensidade da voz, pois o poeta usa o microfone para criar efeitos de proximidade e distância, expressando-se numa fala composta de muitas vozes fortes e fracas, que fluem num único ritmo monótono, encantatório.<br /></span></div><div><span style="color:#000000;">Opinei acima que os “Diários” não seriam um texto místico ou sagrado, mas um texto profano, aberto para o mundo. Seria realmente correto afirmar isso? Quando ouvimos Cage ler os seus “Diários”, sentimos que existe ali algo do sagrado, e, ousaria dizer, um certa aura xamanística, para usar uma expressão que remete ao assunto que tratarei, ainda que superficialmente, a seguir.<br /></span></div><div><span style="color:#000000;">Não pretendo arrolar teorias xamanísticas para justificar a relação entre poesia e misticismo, ou poesia e magia, sugerida pelo título desta comunicação, mas apelar simplesmente a uma experiência pessoal, que julgo ser relevante neste caso.<br /></span></div><div><span style="color:#000000;">Em 1991, publiquei um livro, “O Dono dos Sonhos” (São Paulo, Razão Social), onde analiso as narrativas míticas e oníricas de um índio xavante, que na sua aldeia tinha a função de sonhar, pois era um “wamaritede’wa”, o dono dos sonhos, ou mais genericamente, um xamã ou feiticeiro capaz de entrar em contato com forças espirituais durante o sono. Apresentando Jerônimo aos leitores, eu escrevi:<br /><br />“Possivelmente Jerônimo herdou esse encargo [o de “wamaritede’wa”] do pai, que teria sido também um vidente, um sonhador. Quando nasce o filho de um “wamaritede’wa”, sobre o cesto do recém-nascido amarra-se um pedaço da madeira do cerrado chamada “wamari”, que tem a propriedade de provocar sonhos em seu portador. Ao se tornar adulto, o novo “wamaritede’wa” está capacitado a ter sonhos proféticos e não se desfaz nunca da madeira que é a insígnia do seu encargo. O prestígio do “wamaritede’wa” provém do fato de ele ser o sonhador oficial da aldeia e de todos acreditarem em suas profecias”(op. cit., pág. 13).<br /><br />Deixando de lado por enquanto o aspecto profético dos sonhos do “wamaritede’wa”, desejaria ressaltar que, ao sonhar, Jerônimo ouve vozes, que depois, ao despertar, transmite aos moradores da aldeia. É durante a perda da consciência, neste caso devido ao sono, que os poderes sagrados se manifestam. O xamanismo, como se sabe, está ligado ao transe, a um estado especial em que a voz do xamã pode ceder espaço às vozes dos espíritos. Existe aliás um mito xavante, narrado pelo próprio Jerônimo, que associa o ato xamanístico a uma morte temporária, a uma perda da identidade. Eis o mito, num resumo meu:<br /><br />"O DOENTE E OS URUBUS<br />Durante uma caçada coletiva um homem fica doente: furúnculos brotam-lhe por todo o corpo, e ele precisa ser amparado para locomover-se. Como representa excessivo incômodo para o grupo, que está transportando para a aldeia os animais abatidos, ele próprio toma a decisão de permanecer no acampamento, até restabelecer-se por completo, permitindo assim que os companheiros, sua mulher e filhos, inclusive, sigam em frente sem mais delonga.<br />Os urubus, ao se darem conta de que alguém permaneceu no acampamento agora deserto, deduzem que seja um cadáver e imediatamente se agrupam ao redor da casa, afiando o bico para o banquete. Ao verificarem que o índio ainda está vivo, discutem entre si o que fazer e decidem finalmente conduzi-lo ao céu. O doente é então transportado até o hospital dos urubus e lá ele é entregue aos cuidados de um enfermeiro, que o cura dos furúnculos com cinza de penas. Quando o índio se restabelece completamente, trazem-no de volta à Terra.<br />Em retribuição ao tratamento, pedem ao homem que, durante as caçadas, os animais que escaparem feridos sejam abandonados, para servirem de repasto aos urubus. Quando o índio volta à aldeia, transmite essa mensagem aos companheiros” (op. cit., pág. 28).<br /><br />Esse mito explica a origem de um medicamento, mas também descreve a jornada do xamã — este perde as forças, morre simbolicamente, porém desperta num outro mundo, onde os espíritos se manifestam, e depois retorna à vida, ou a si mesmo, trazendo uma mensagem. Nos sonhos noturnos, o índio Jerônimo vivenciou, conforme me confessou, experiências análogas.<br /></span></div><div><span style="color:#000000;">A experiência xamanística, embora pressuponha a ruptura social, o afastamento, o sonho, possui uma função social, pois, ao despertar do seu transe, o feiticeiro ou visionário divulga uma mensagem de interesse geral. O poema de John Cage, que comentamos acima, narra também um apagamento do eu em favor das vozes alheias, das vozes do ambiente, embora esse ambiente seja a sociedade contemporânea, não a sociedade dos espíritos, à qual só os xamãs indígenas têm acesso. Assim, sem perder de vista a especificidade de cada uma dessas experiências, a do poeta e a do xamã, creio que se poderia compará-las, levando em conta o fato de que, em ambas, ocorre um alargamento das fronteiras do eu, que passa a dialogar com um universo muito maior do que o mundo cotidiano. O tom ou a magia da leitura de Cage, porém, torna de certo modo equívoca essa distinção entre o poeta e o xamã — ficamos pisando num terreno movediço, pois se os “Diários” são inicialmente profanos, podem também revelar-se de repente encantatórios, mântricos, conforme passamos da leitura do livro à audição dos cds de Cage. Entramos então no terreno do sagrado.<br /></span></div><div><span style="color:#000000;">Sabemos que o xamã, sobretudo se ele for um “wamaritede’wa”, possui o dom da profecia, é alguém capaz de descrever o futuro, encorajando os companheiros à ação. Curiosamente, esse aspecto existe também, segundo entendo, nos “Diários” de Cage — o poeta parece nos apresentar a Internet, a rede mundial dos computadores, duas décadas antes do seu advento. Vejamos este trecho (citarei a tradução brasileira):<br /><br />“Nirvana? ‘Não só a instantânea<br />Comunicação verbal universal<br />Foi prevista por David Sarnoff, mas também a televisão<br />Instantânea, jornais instantâneos, revistas<br />Instantâneas e serviço telefônico visual<br />Instantâneo... o desenvolvimento de um tal sistema global de comunicações<br />Deveria unir as pessoas em toda a parte... para<br />Reorientação em direção a um conceito<br />Unimundial de comunicação de massas numa<br />Era marcada pelo surgimento de uma<br />Linguagem universal, uma cultura<br />Universal e um mercado comum<br />Universal.’ XXIX. POPULAÇÃO<br />A arte obscureceu a diferença entre<br />Arte e vida. Deixemos agora a vida obscurecer<br />A diferença entre vida e arte”<br />(“De Segunda a um Ano”, pág. 19).<br /><br />Citando entre aspas essa profecia a respeito de uma linguagem universal, que parece indicar o advento da Internet, Cage apropriou-se de uma fala alheia e nos transmitiu uma opinião que estava no ar (John Cage dialogava com o espírito da sua época e não com um espírito transcendental, como costumam fazer os xamãs).<br />Como queria Ezra Pound, os poetas são a antena da raça. E é nesse sentido que eles assemelham-se aos xamãs, sobretudo quando são experimentais e ousados, como o próprio John Cage.<br /><br />[Espero que o que foi falado até aqui contribua para divulgar a poética “eletrônica” de Cage, centrada numa pluralidade de eus dispersos pelo mundo, e também sirva de estímulo para que o leitor, pouco familiarizado com os experimentos no campo da linguagem artística, reflita um pouco sobre o fato de que a poesia não é exatamente a expressão de uma subjetividade, mas uma experiência, um emaranhado de vozes, como a Internet.]<br /><br /><strong>Ilha de Santa Catarina</strong></span></div><div><strong><span style="color:#000000;">2001</span></strong></span></span></div><strong></strong>Douglas Diegueshttp://www.blogger.com/profile/00799817140635576161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1305178475260110668.post-20662240430137567962007-06-13T05:54:00.001-04:002013-07-07T21:01:22.161-04:00JORGE MONTESINO, POETA SELBAGEM KUREPA-GUARANGO ESKONDIDO EN ALGUNA PARTE DEL YBYTURUZÚ<span style="color: black;"><span style="font-family: trebuchet ms;"><strong></strong></span></span><br />
<span style="color: black;"><span style="font-size: 85%;"><span style="font-family: trebuchet ms;"><strong><span style="color: #cc0000; font-size: 100%;">Jorge Montesino: la espuma y lo efímero</span></strong><br /><br />Conoci el poeta argentino-paraguaio <strong>Jorge Montesino</strong> el 1994, quando editaba <strong>l Augur Mediterraneo</strong>en Assunciolândia, uma revista literária que durou 13 números y fue la mejor de sua época. Entre 2000 y 2002 ya fazia la página literária de Folha do Povo, de Campo Grande y hablamos sobre su libro <strong>La Espuma o el Recurso de lo Efímero</strong>, do qual traduzi el primer fragmento em colaborazione com el próprio Montesino. Hoy ele anda escondido en la Selva del Ybyturuzú, pero <strong>Jakembó Editores</strong>, el sello editorial paraguayensis mais enkurupizado del mundo acaba de publicar el nuebo libro de Montesino, <strong>Tré la Tré María</strong>, uma enkurepada nouvelle ybyturuzuguaranga escrita em imperdíbel guaranhol. [dd]</span></span></span><br />
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<span style="color: black;"><span style="font-size: 85%;"><strong><span style="font-family: trebuchet ms;">Douglas Diegues - Podemos começar falando do teu encontro com a Espuma...</span> </strong><span style="font-family: trebuchet ms;"><strong>Jorge Montesino –</strong> Quando a espuma chegou a mi, há quase uma década, chegou sobre uma grande onda que trazia todos os meus livros posteriores ao primeiro, Rojo de Vapor, que havia sido um livro importante para o público e para mim. Lembro de uma tarde de outono, de muito vento, no quintal cheio de árvores de uma casa que não era minha, eu estava sentado só e as folhas secas passavam por meus pés. Assim comecei a escrever o que intitulei em uma folha solta “Los libros de la espuma”. Ali nasce a espuma ou a metáfora da espuma ou a filosofia da espuma, como disseram diferentes críticos. Porque é como um universo espumoso... No começo eram três livros, uma estrutura preconcebida em três títulos que eram Malúrinvé, Micámicéfa y Lamárampírra. Estes três livros iam formar Os livros da Espuma. Mas como sempre acontece, o poeta propõe e a poesia é quem determina, por si mesma, sem pedir a opinião de ninguém. Daquilo, ficou por um lado Malúrinvé (editado em 1996) e por outro A Espuma ou o Recurso do Efêmero, que apareceu em dezembro de 1999. A visão em si é a de uma coisa, um material por um lado efêmero, mas por outro permanente, uma permanência que nos assalta apenas haja um pouco de agitação, feito de água y sal, estendendo-se a todas as coisas do universo, porque a fumaça é a espuma da lenha e a lenha a espuma das árvores e as árvores a espuma da terra e a terra... bem, tudo é factível de ser espuma. Porque a espuma é o superficial que provém do profundo. La profundidade do superficial, com o qual se tem que toda aquela manifestação exterior é resultado do que há mais dentro, inclusive aquilo que está dentro, invisível, isso é a espuma.</span> </span></span><br />
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<span style="color: black;"><span style="font-size: 85%;"><br /></span></span>
<strong><span style="font-family: trebuchet ms;"><span style="color: black;"><span style="font-size: 85%;">DD - Que significa a poesia para você? E o que é um bom poema ?</span></span></span></strong><span style="font-family: trebuchet ms;"><span style="color: black;"><span style="font-size: 85%;"><strong>JM</strong> – Me é muito mais fácil dizê-lo através da palavra poética, explicá-lo é um pouco como pretender explicar a fé. A poesia me chegou tarde, quando já havia passado dos 25 anos, ou seja já havia passado a adolescência, a etapa na que supostamente se manifesta com maior assiduidade. A poesia está em tudo, mas dizer o que é, de que se trata, é quase impossível. Um ritmo diferente que a palavra adquire quando cria uma coisa nova, eu sou partidário do poeta “pequeno Deus”, o que cria através da imagem, como dizia Huidobro, um poema como Deus cria uma flor. Mas não me acomodo nisto senão que, como poeta além do mais dou uma forma ao que digo, dou um suporte. Ë necessário CRIAR assim com maiúsculas em todos os sentidos. De nada serve repetir idéias quando todos sabemos que a poesia se constrói com palavras, já o disse Mallarmé. E um bom poema, bem, tem que estar feito a partir destas coisas, não importa do que fale, tem que ter substância poética, invenção. Eu me jacto de reconhecer um bom poema de imediato, de ter “olho para o poema”, é uma coisa que se sente de imediato lendo alguns versos. Se no poema aparece a poesia, se está presente; te invade, te viste, te embriaga, te faz sentar em sua mesa y dali você já não levanta tão cedo...</span></span></span><br />
<span style="color: black; font-family: trebuchet ms; font-size: 85%;"><br /></span><strong><span style="font-family: trebuchet ms;"><span style="color: black;"><span style="font-size: 85%;">DD - Quais são tuas influências, os nutrientes de tua escritura? E como você se relaciona com eles? </span></span></span></strong><span style="font-family: trebuchet ms;"><span style="color: black;"><span style="font-size: 85%;"><strong>JM </strong>– Escrevi um pequeno artigo acerca de um tema que estou analisando ultimamente, eu o denomino “o tema das afinidades”, que é a maneira em que se expressam as influências. Porque hoje o poeta já não tem mestres, já não se sente parte de uma escola, ou de um grupo, como acontecia no passado com grupos como o dos modernistas, as vanguardas do começo do século e inclusive grupos bastante homogêneos que desenvolveram sua atividade durante todo este século que termina, hoje os poetas, digo, usam um pouco de cada coisa para elaborar suas poções mágicas, para alcançar esse elixir que lhes permita chegar à criação. Usam um pouco de cada coisa, econtram afinidade temática com uma obra, afinidade criativa com outra, afinidade rítmica com outra, afinidade imagística com outra, afinidade de tom com outra, afinidade sonora com outra e assim sucessivamente, daí que as influências sejam atualmente menos reconhecíveis. /// Agora, se tiver que citar influências básicas, creio que já mencionei Huidobro, e poderia acrescentar Artaud, e as leituras de Macedonio Fernandez e Emily Dickinson e Dilan Thomas e William Carlos Williams e Girondo e Vallejo e Saint John Perse e Isidore Ducasse e muitos outros nomes. Tenho uma estante em minha biblioteca onde está o que mais leio, ou seja o que sempre releio, ali estão Rimbaud, Pound, Lorca e também estão libros de Wilson Bueno, de Manoel de Barros, de Patricio Torne (que é um poeta “cordobés” que vive em San Luis), de Nelson Roura, que é un poeta paraguayo morto muito jovem, mas também estão novelas como O Amante, de Marguerite Duras, as de Kundera, as de Manuel Puig, os contos de Cortázar, sobre todo O Bestiario, y ali também você vai encontrar una coleção erótica que vai desde Alina Reyes y O Açogueiro, passando por Almudena Grandes, até livros de indubitável baixa categoria que desse gênero. Influencias.</span></span></span> <br />
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<strong><span style="font-family: trebuchet ms;"><span style="color: black;"><span style="font-size: 85%;">DD - Como nasce um poema de Jorge Montesino? Qual é teu processo de criação?</span></span></span></strong><span style="font-family: trebuchet ms;"><span style="color: black;"><span style="font-size: 85%;"><strong>JM </strong>- Como todas as coisas que nascem, com naturalidade e em algum lugar onde eu esteja em paz comigo y não possa ser incomodado. O nascimento é algo natural, para nada doloroso, o mito do parto com dor me parece uma absoluta estupidez. Você deve Ter visto que os animais quando vão parir buscam um lugar onde ninguém possa incomodá-los. Não se escondem, buscam amparo. Cuidam sua obra. Todo nascimento é assim, por mais que o poema nasça quando a gente vai viajando num ônibus repleto de gente suada e mal-humorada, o poeta protege seu poema, se abstrai e o memoriza, o vai montando na mente, não há uma única formas, existem múltiplas formas e no meu caso também é assim. E como toda coisa que nasce, logo protejo o poema, o cuido, o deixo crescer, trato de educá-lo, ainda que às vezes ele é que me eduque, como acontece com os filhos.<br /><strong></strong></span></span></span><br />
<span style="font-family: trebuchet ms;"><span style="color: black;"><span style="font-size: 85%;"><strong>DD - Quais teus projetos para os próximos meses no âmbito do fazer poético?<br />JM</strong> – Tenho muitas coisas pendentes para este ano. A primeira é a edição do livro “Los pies sobre la tierra floja”, que é um libro que continua, creio, o tom do “La espuma”, mas é mais intimista. Ali está minha infância, as lembranças, como que se une a “Los fantasmas de la espuma”, como que é sua continuidade. Logo tenho pensado em editar também toda minha obra poética y no poética em um só volume que abarque estos dez anos com y na poesía. Creio que com isso encerro um ciclo, pois tenho coisas diferentes que virão depois disso. Estou trabalhando já em dois livros, em parte escrito em parte em desenvolvimento de imagens e estudos complementários que ajudem às imagens que já irão aparecendo. Um deles pretende situar-se na melhor tradição do non sense é que que já está mais adiantado, ou seja, é o que aparecerá primeiro: “Un cordero rojo que en el verde campo bala”. O outro é um livro que pretende quase quase unir la poesía y el ensayo pues mostrará como se expressa o trânsito que ocorre quando os dois mundos (o dos conquistadores e o dos indígenas) se encontram no quotidiano. Meu personagem central é Alejo García, o descobridor primeiro das terras paraguayas y o “leit motiv” são as canções y os ritmos que ele supostamente inventava durante seu longo trajeto desde as costas brasileiras até o Alto Perú. Estes são meus projetos poéticos concretos, depois há muitíssimas coisas no campo da animação cultural, como o 2º Encontro Internacional de Poesia de Assunção, que será em Março de 2001, mas esse é um outro assunto.</span></span></span><span style="font-family: trebuchet ms;"><span style="color: black;"><span style="font-size: 85%;"><strong><span style="color: #cc0000; font-size: 100%;"></span></strong></span></span></span><br />
<span style="font-family: trebuchet ms;"><span style="color: black;"><span style="font-size: 85%;"><strong><span style="color: #cc0000; font-size: 100%;">A poesia de Jorge Montesino</span></strong><br /><br />“rojo de va / por es un estado / distante de los elefantes / habitado por los inquietadores hacia un lado / constantes termitas / en bruma plural escondiendo / y devolviendo imágenes / etcéteras y contextos / fracasadas generaciones intermedias / diarreas revolucionarias / (...)”, diz Montesino, em “paréntesis”, um dos poemas do seu primeiro livro Rojo de Vapor, que ganharam minha adesão na primeira leitura.<br />Sobre Rojo de Vapor, o crítico mais importante da nova geração paraguaia, Jorge Aiguadé, afirma que se trata de um longo poema no qual os impulsos dos sons, do jogo rítmico, desestabiliza o sentido habitual da linguagem, inclusive a poética. O poeta, presdigitador / inquietador, troca sons por incertezas, e deixa o mundo suspenso entre sua outra face (a que não se vê com os olhos habituais) e a que poderia ser verdadeira...<br />Experimental por excelência, a poesia de Montesino resgata um trabalho de longa tradição na poesia universal”.<br />As palavras de Aiguadé nos informam as bases da qual nasce os livros seguintes de Montesino, Malúrinvé e La Espuma o El Recurso de lo Efêmero.<br />Malúrinvé é a festa dos fonemas, a exuberância da invenção, o êxtase da jitanjáfora, o nonsense neobarroco, com que Montesino parece celebrar esse ser de luz e música verbal, Malúrinvé, um dos nomes secretos da poesia, Malúrinvé, ou essa fêmea caprichosa, a linguagem, Malúrinvé.<br />La Espuma o El recurso de lo efímero parece ser uma fábula de espuma sobre a condição humana. A espuma é o passado, o presente e o futuro. A espuma é tudo. E tudo é espuma. Com este livro, Montesino nos revela a outra cara do mundo, “claro, de espuma, de pura espuma”. A poesia como fonte de conhecimento. A poesia como fábula de espuma. A espuma da espuma. A fala da espuma. A visão da espuma.<br />Estes três primeiros livros situam Jorge Montesino entre os mais inventivos e surpreendentes poetas em atividade hoje na capital do Paraguay. (D.D.)<br /><br /><strong></strong></span></span><span style="color: black;"><span style="font-size: 85%;"><strong><span style="color: #cc0000; font-size: 100%;">A ESPUMA ou O Recurso do Efêmero / </span></strong></span></span><span style="color: black;"><span style="font-size: 85%;"><strong><span style="color: #cc0000; font-size: 100%;">Jorge Montesino</span></strong><br />ESPUMA pura espuma<br />de quê outra coisa estamos feitos?<br />de quê outra coisa poderia estar composto o poema?<br />de Espuma, claro, de espuma<br />de pura espuma, como o vôo do pássaro<br />como o trino, de espuma<br />os sismos da tarde, de espuma<br />as redes do pátio, de espuma<br />as pedras emplumadas, de espuma<br />as canoas enormes, de espuma<br />o pantanal, de espuma da terra, de espuma<br />os peixes da fantasia, de espuma<br />o cavalo da fuga infinita, de espuma,<br />os homens jaguares, de espuma<br />o duelo de lanças, de espuma<br />as arestas da lua, de espuma<br />as nuvens proverbiais, de espuma<br />os passos das patas de aranha, de espuma<br />os moinhos de altazor, de espuma<br />as dunas do bosque, de espuma<br />a avalanche da morte, de espuma<br />os líquidos azuis, de espuma<br />o tormento do vento, de espuma<br />as nuvens que levanta, de espuma<br />os méis e presságios (retirar espuma)<br />os modos de vara<br />as cinzas fluviais, sua ascensão<br />os tormentos, os beijos<br />o sermão que provoca, o verso<br />o barco encalhado, as tranças<br />os pigmentos do trovão<br />as pedras que estremecem, as feras<br />o fogo da casa, a imundície<br />os insetos latentes, a inércia<br />o remorso, os pregadores<br />as vermelhas luvas dos boxeadores<br />o veneno, o fogo das velas<br />o pudor e os pecados, as passarelas<br />o licor, o lodo da rua<br />a carcaça, a lenha, o clamor<br />as velas inchadas do barco<br />as manchas, os pecados capitais<br />a lava que surge do centro<br />a areia da praia, o grumete<br />os brincos do potro<br />o ar que o leque levanta<br />de espuma<br />de espuma<br />de espuma<br />de espuma<br />de espuma<br />de pura<br />espuma<br /><br /><span style="font-size: 78%;"><strong>Tradução</strong> de Douglas Diegues em colaboração com Jorge Montesino </span><br /><br /><br /><span style="color: #33ccff;"><strong><span style="color: #cc0000;">LA OMNIPRESENTE LIVIANDAD DEL SER</span></strong> </span><br />Por ROSA GRONDA<br /><br />Los poemas centrales de este texto crecen sobre una misma pregunta y respuesta que se multiplica en variantes y ramificaciones, formando un red convergente de significantes sobre la sustencia del ser. La reflexión filosófica se instala sin retórica en el territorio poético, abarcando lo bello y lo horrible, lo natural y artificial, lo inasible y lo obvio: "ESPUMA pura espuma / ¿de qué otra cosa estamos hechos? / ¿de qué otra cosa podría estar compuesto el poema? / de Espuma, claro, de Espuma / de pura espuma, como el vuelo del pájaro / como el trino, de espuma". Estos versos avanzan impulsados por un viento lúdico, lejos de lo convencional, cohesionados sobre la imagen recurrente de la espuma, que encuentra su emblema en la ambigüedad del símbolo, donde lo leve, frágil y efímero también implica a su opuesto: "No hay torre inexpuganble sin espuma". El poeta no le canta a la rosa (1) sino que la hace florecer en versos leves y cortos, con imágenes y ritmos que acompañan una mirada recreadora de objetos y lugares a través de la palabra. Coherentes en su unidad esencial, también el apéndice "Fantasmas de la espuma" es una especie de diccionario para lectores cronopios que incluye una serie de postales que progresivamente perforan el paisaje para penetrar en el pasado, en el mito personal: "El palo borracho sí era de este mundo, yo veía salir su tronco enorme desde la tierra de mi patio y alzarse para que el avión a chorro lo viera y no perdiera el rumbo" (Estela). Desde la objetividad de la lluvia ácida o la peculiaridad del nombre de un flor silvestre; desde el exabrupto hasta el amoroso uso del diminutivo, Montesino se revela experto en dar vuelta la escritura como un guante, para afianzar un subjetivismo que ignora la lógica. Sus versos respiran en el territorio de la paradoja, donde el poeta une los extremos de una costura imposible a través de un delicado lirismo, utilizado como si fuera una varita mágica. El corpues de este libro se inscribe en lo que Italo Calvino define como territorio de la levedad, aquel donde la literatura pierde peso, o mejor dicho pesadez, a fuerza de recursos esencialmente poéticos.</span></span></span><br />
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<span style="font-family: trebuchet ms;"><span style="color: black;"><span style="font-size: 78%;"><strong>(1)</strong> Indudablemente, la mención de las obras de Vicente Huidobro y de Lewis Carrol no son casuales.</span></span></span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS; font-size: 78%;"></span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS; font-size: 78%;"></span><br />
<span style="color: #cc0000; font-family: trebuchet ms;"><strong></strong></span><br />
<span style="color: #cc0000; font-family: trebuchet ms;"><strong></strong></span><br />
<span style="color: #cc0000; font-family: trebuchet ms;"><strong>FRAGMENTO DE "TRÈ LA TRÈ MARIA"</strong></span><span style="font-family: trebuchet ms;"><span style="color: black;"><span style="font-size: 85%;"><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCSadhKydtBBIdQwiTJmxYmUezKKFJ8BSLtfSdq5g7VKac-C-eUVk0Z1lA2JyCTuhwS3-s0RCQ-RvKrPrlqeFWhkrbI-EVHOUQq28LV0Z_A1LjbdHCk8-3m3HCOFdbBWBDCuI3y70F8T0/s1600-h/Tapa_3_la_3_mar%C3%83%C2%ADa.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5075500094916622882" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCSadhKydtBBIdQwiTJmxYmUezKKFJ8BSLtfSdq5g7VKac-C-eUVk0Z1lA2JyCTuhwS3-s0RCQ-RvKrPrlqeFWhkrbI-EVHOUQq28LV0Z_A1LjbdHCk8-3m3HCOFdbBWBDCuI3y70F8T0/s320/Tapa_3_la_3_mar%25C3%25ADa.jpg" style="cursor: hand; float: left; margin: 0px 10px 10px 0px;" /></a>Baja de su bicicleta Ramón’í, cómo saber qué pasó esa fría mañana; de mayo creo que era, atrás del baño de su casa, con su hermana espiritual Belí y con su propia madre que parece haber salido un rato y el fulano ése que apareció con el poncho y lo tendió, cazadoramente.Qué cómo comenzó la historia: já, che, che vio todo lo que pasó. Che sy fue que entregó el poncho que había sido de papá a ese desesperado. Y Dalber, agachadito y escondiéndose, silencioso se fue atrás de los troncos y esperó ahí en los árboles del patio. El poncho apretado contra su pecho. De donde yo estaba se le escuchaba su ruido del corazón, atajaba su respiración. Se fue como saltando desde la casa hasta el baño del fondo. Ni techo ni puerta tiene el bañadero. Hace un frío de cagarse ahí cuando es invierno y ese día estaba fresco, comenzaba a caer el primer frío de verdad. Justo cuando Dalber se atajaba del níspero para no hacer ruido, vino como un viento del sur que cruzó el patio y arrastró las hojas y él aprovechó el envión y el ruido y se fue para colocarse ahí atrás, ahí nomás, fijate, como si fuera también una hoja de níspero ya seca y crujosa. Ahí mismo, arrodillado, como si estuviera para confesarse con el pa’í agarró el poncho y lo puso en el piso, lo alisó con las dos manos, le enderezó las puntas que habían quedado dobladas y se quedó escuchando, con la boca abierta que tenía mientras que la otra estaba ahí seguramente cagada de frío, como me pasó a mí tantas veces y hacía ruido con su boca, y con el agua, y con el jarro, y con la latona. Belí se bañaba y no sabía que el trampero ese estaba ahí al ladito, detrás de esas maderas. Seguro que Dalber podía olerla, sentir el calorcito de su piel y el vapor del agua que le salía. Muchas veces yo le espié. Yo también a veces dormía con ella cuando era más chico y hasta ahora. Tenía poquitos pelos ahí y se le ponía de gallina toda la piel porque era blanquita, y estaba linda. Iporá la mitacuña’í, iporaetereí. Yo me imaginaba lo que Dalber estaba viendo embobado. Ella no desconfiaba de nadie. No pensaba en nada de esas cosas. Ya estará terminando de bañarse pensé cuando se oyó el ruido del jarro raspando el fondo de la latona, poco agua le quedaba. Qué lindo cuando se echaba el agua encima y se le ponían casi negras y duras las puntas de sus tetas. Mientras tanto ese asqueroso se fregaba, con su mano, muchas veces. Ya tenía todo su ma’era cuando sonó en el fondo de la fuentona vacía el jarrito. Ya está dije para mí y me acomodé para ver mejor: Belí terminó de bañarse. Apenas alcanzó a descolgar la toalla que hacía de cortinita en la puerta y Dalber la agarró de la muñeca, le tapó la boca y cuando quiso desprenderse ya estaba tendida sobre el poncho. Yo vi todo, así nomá fue che karaí.(...)De lo que escuchó Rosanita a una vendedora masiado ñe’ereí que se puso a contarle de todo, a ella que recién salía en libertad y esperaba un colectivo en San Lorenzo, con un su nuevo compañero, Feliciano, un 14 de mayo para ir a ver a su madre internada en el hospital regional de Villarrica. Felí preguntó a la vendedora si ya había pasado el Salto Cristal.—Ne’í raití che memby, pero angáitéma oikéta. Pehóta peé sy rendápe hína. Iporá upéa pehó ará pénde katú ajá, ko ñandé sy ko tuichá etereí mba’é opá mba’é pehejá va’erá, nápe ponderái va’erá mba’é vére. Pehejá pehejáa, pehó ará pende sy rendápe. Che ngo ko ahasé eté la che sy rendápe, che mamíta oré ymaguaré la oré sy pé mamita ro’énte voí. Che la che sy oguerekó ochénta y siéte áño, ha che aguerekó cincuénta y cuárto áño. Ha la che sy hesái ombá’apó o trahiná vevépe ha’é noñandúi mba’é veté verá. Oré familia ko areté reí pevé roikó la che aguéla oikó véa akué ciénto diecisiéte áño pevé, ha la che bisaguéla katú ciénto treinta áño pevé. Ha che ko’ánga aikó che ména ndiéntema, che memby kuéra omendá páma ombá’apó porá ambá hikuái, pe negócio oíva pe ótra equína pe ha’é che memby kuñá mba’é, oré narói kotevéimba’é vére, che ména itrabajadór ha che aveí la oré róga pype peteí chaité ro jopartí la tembiá pópe, ha’é ojapó peteí mba’é ha che ótra cosa ha upéicha roñó manehá, che ha’é voí chupé ohó haguá la isy rendápe ombojeré haguá chupé. Peteí un mé ha che upéicha aveí ahá un me ambojeré la che sy pé ha upéi katú al verrés ha’é ohó peteí un mé ombojeré la che sy pé ha che ahá upé iriré ambojeré la isy pé. Nda pépe oúma la pénde coletívo. Pehó katú che memby ha pevy aité ke ná ko pénde sy ndivé.De lo que siguió, del penoso viaje con el ómnibus atiborrado de gente, y la cantidad de horas que tuvieron que ir parados ahí adentro, no resta decir nada. Sólo que, cuando María Rosana preguntó en la recepción del hospital, se enteró que su madre, Pánfila, había muerto hacía días, no había llegado al día de la madre. La enfermera que le atendió no entendió ni quiso entender el por qué de la sonrisa y el brillo súbito en los ojos de la aún joven Rosanita. Nunca más se supo de ella a partir de entonces, sólo que había estado brevemente en esa recepción del hospital.(…)Me crecieron unas ganas locas de ir hasta el castillo. Sí, claro que fui. Tenía entre mis cosas un vyrapará que me había regalado Froilán. Uno de los buenos. De esos que matan casi sin que uno quiera matar. De esos que te manejan la mano y te dejan oscuro el cerebro.Qué cómo comenzó la historia: já, al salir del confesionario, al atravesar el atrio, al dejar atrás la iglesia y encaminarme hacia el pinoty, estaba oscuro, así en la oscuridad nos habíamos encontrado en el confesionario con pa’í Alberto. Así en la oscuridad pero con una brisa fría que preanunciaba el amanecer, caminaba hacia el castillo. Le pasaba la yema de los dedos al filo del cuchillo. No sé por qué iba a matar. Debería haber matado al cura. Pero los prejuicios me lo impidieron. En una Iglesia no me animaba, además él sólo se había tendido su propia trampa: Rubencito, el mita’í venía de una familia desgraciada y no soportaría una tercera cruz. Estaba seguro de eso. Caminaba en una especie de éxtasis extraño, podría confundírseme con un peregrinante en el camino a Itapé, pero no iba a ver a la Virgen, iba a encontrarme con Castillo. Yo hombre. Yo mujer. Yo narrador, tenía que ponerle punto final, tenía que mezclarme con mis personajes. Ser uno más de los que matan y mueren sin importarles nada, porque total todo tiene su reemplazo. Las cosas crecen rápido acá en esta tierra húmeda, lluviosa, donde el calor siempre está ahí para fertilizar cualquier semilla, mala o buena, sin importar las consecuencias. Cuando me di vuelta para mirar el camino rojizo que iba dejando atrás ví a Cirilo el jaguá y más atrás a María Rosana, a María Belinda y a María Isabel, venían acompañadas por los únicos testigos que podían dar fe de todo lo que había ocurrido alrededor del pinoty: Tarzán, Balú y Casimiro, venían a desmentir y dar fe de que Castillo no murió frente a su vecina sin alcanzar a beber el vaso de agua que le había pedido, cayendo a sus pies. Venían a atestiguar, como siempre lo habían hecho en cada uno y todos los casos, que las cosas eran como eran y no como se les ocurre inventar a veces a los hombres.</span></span></span><br />
<span style="font-family: trebuchet ms;"><span style="color: black;"><span style="font-size: 85%;"><strong><span style="font-size: 78%;">[</span></strong><a href="http://jakembo.blogspot.com/2007/05/fragmento-de-tr-la-tr-mara.html"><span style="color: #6600cc; font-size: 78%;"><strong>"Tré la tré María"</strong></span></a><span style="font-size: 78%;"><span style="color: black;"><strong> acaba de ser publicado por <span style="color: #cc0000;">Jakembó Editores</span>]</strong></span> </span></span></span></span><br />
<span style="font-family: trebuchet ms;"><span style="color: black;"><span style="font-size: 85%;"><span style="font-size: 78%;"></span></span></span></span><span style="font-family: trebuchet ms;"><span style="color: black;"><span style="font-size: 85%;"><span style="font-size: 78%;"><span style="font-family: Georgia; font-size: 100%;"></span></span></span></span></span><br />
<span style="font-family: trebuchet ms;"><span style="color: black;"><span style="font-size: 85%;"><span style="font-size: 78%;"><br /></span></span></span></span><span style="font-family: trebuchet ms;"><span style="color: black;"><span style="font-size: 85%;"><span style="font-size: 78%;"></span></span></span></span><span style="font-family: trebuchet ms;"><span style="color: black;"><span style="font-size: 85%;"><span style="font-size: 78%;"></span></span></span></span>Douglas Diegueshttp://www.blogger.com/profile/00799817140635576161noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1305178475260110668.post-47518375980859765632007-06-13T04:43:00.000-04:002008-12-10T12:47:57.498-03:00LOKURA, POESIA Y FILO-SOFIA<span style="color:#000000;"><span style="font-size:85%;"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></span></span><br /><span style="color:#000000;"><span style="font-size:85%;"><span style="font-family:trebuchet ms;">El Ayvu Ayvu dekola sem apoyo de la NASA nim del Vaticano. Frederico, mio minino astronauta, dorme a mi lado y son las 4 de la manhana. Ayvu Ayvu. Astronáutiko blógui trans-triple-fronterizo que vuela movido a Amor Azul. Literatura dentro y fuera de las molduras oficiales. Nuebo mundo de las palabras sem fins lukrativos. Ayvu Ayvu. Nim mais nim menos. Ayvu Ayvu. Nim poko nim mucho. Y para dekolar desde Paraguay, la fulminante hispano-peruana Monserrat Alvarez y el punk-filoso-fante Cristino Bogado - 2 de los nobíssimos poetas em atividade en Paraguai - nos hablan de um tiempo em que Poesia y Filosofia son um solo lenguaje que nace de la Loucura... </span><br /></span></span><span style="color:#000000;"><span style="font-size:85%;"><span style="font-family:Trebuchet MS;">Avanti!<br /><br /><br /><strong><span style="font-size:100%;color:#cc0000;">POESIA E FILOSOFIA</span></strong></span><span style="font-size:100%;"><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;"></span><br /></span></span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"><span style="font-size:85%;">Por MONTSERRAT ALVAREZ Y CRISTINO BOGADO<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjR0BecapC00R7LdjGF5_e05DNYDKrkIMzLy1u7wTEeBDoh0LzIb-hMKXwem56lJG_s7Qke6-4cE1cY5QH8-86LGELmeo5ckSjJ9kPUQtTWQ3owNDHJEvpqZoClSaCtVQBMm8y0gEtdRo4/s1600-h/MA-uno+(1).jpg"><span style="font-size:85%;"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5075484392516188658" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjR0BecapC00R7LdjGF5_e05DNYDKrkIMzLy1u7wTEeBDoh0LzIb-hMKXwem56lJG_s7Qke6-4cE1cY5QH8-86LGELmeo5ckSjJ9kPUQtTWQ3owNDHJEvpqZoClSaCtVQBMm8y0gEtdRo4/s320/MA-uno+(1).jpg" border="0" /></span></a>Quando nos iniciamos, apesar de nós mesmos, nos mistérios da vida intelectual - refiro-me ao período de nossa infância e adolescência, consumido pela escolaridade à qual se nos destina habitualmente - uma das disciplinas que mais alheia parece a tudo o quanto há em nós digno do nome “humano”, uma das que mais afastadas nos parece estar do que costuma ser o curso espontâneo e adequado de nossas reflexões, uma das que menos aparenta referir-se a nós mesmos, mas em primeiro lugar, a mais incômoda de todas, o que não é pouco dizer - é a maldita filosofia.<br />Nada nos parece mais distante de tudo o que verdadeiramente importa como os porcos regozijos do entendimento nos charcos do raciocínio, estéreis jogos de eunucos. Podemos obstinar-nos em imitar aos filósofos em seus recreios onanistas, seja pelo vaidoso desejo de assemelharmo-nos a eles aos deslumbrados olhos de nossos contemporâneos, seja pela nobre aspiração de aperfeiçoarmo-nos intelectual e moralmente, seja por uma mescla de ambas pretensões. Mas por mais que tentemos autoconvencermo-nos de que desfrutamos com tão insossas atividades, ou inclusive de que nascemos </span><span style="font-size:85%;">para elas, algo em nosso interior se rebela e nos grita que o monstruoso, belíssimo, sacrossanto mistério da vida não pode ser afrontado com a equânime indiferença dos cálculos mentais, senão com o sublime ardor da poesia. Não com a serenidade tediosa do filósofo, senão com a paixão do poeta.<br />Mas temos algo a dizer, uma lança para quebrar em defesa da filosofia. E é que a filosofia, um dia, lá nos róseos alvores helenos, foi algo diferente do que o colégio nos ensinou e daquilo no que, efetivamente, converteu-se para os demais. Houve um tempo radiante em que não se havia efetuado ainda o divórcio entre filosofia e poesia. A língua de da filosofia não foi sempre esta petulante prosa didática que empregamos hoje em nossa decadência. Não. O filósofo, em sua juventude, foi um mago, um xamã, um poeta. Recordemos a exaltação e a beleza - porém, antes de mais nada, a soberba carência de lógica - dos textos que nos legaram os pré-socráticos. Sua obscuridade, como a do oráculo, indica procedência divina, não humana, da filosofia, pois a língua dos deuses é absolutamente heterogênea em relação à língua dos homens.<br />(“El señor cuyo oráculo está en Delfos ni afirma ni niega, sino indica”, diz Heráclito).<br />A decadência na qual estamos imersos atualmente inicia-se muito cedo, se enfocamos as coisas desde este ângulo, e, mais concretamente, com a pretensão platônica de inteligibilidade, posteriormente sistematizada por Aristóteles sob uma forma de toda uma metodologia do pensar com “correção”. Esta pretensão de inteligibilidade implica numa desmistificação da filosofia, sua translação do plano sobrenatural ao plano natural. É então quando surge a espécie mais tediosa e menos filosófica do filosofo: o do “são e bom sentido”.<br />A tese central que tentamos defender neste ensaio é a seguinte: que, como o insinuado acima, filosofia e poesia têm origem comum na loucura. Apresentaremos sucintamente cinco argumentos ou provas a favor desta tese, a primeira vista sui generis. As apresentaremos apenas esboçadas, apesar de requererem um desenvolvimento mais detalhado, o qual nos obrigará a incorrer na falácia da apelação à autoridade, pois todas estas provas procedem de prestigiosos pensadores Colli, Platão, Montaigne e Schopenhauer.<br /><br /><br /></span></span><span style="color:#000000;"><span style="font-size:85%;"><strong><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMBCH8nt59t1knrjgrVhhfdtDXIjjPCx2SnSUqHOs8IeFPzQIsmGC1WZZQxlV1l-hFAGAvo9ugq_WvqZ7JJbjcoT-jpuuEheQ08YR7p4B3ENPdaUnpIvwdMn0WuUEuVW3B47chn07agNw/s1600-h/CB-uno.jpg"><span style="font-size:85%;"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5075484667394095618" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMBCH8nt59t1knrjgrVhhfdtDXIjjPCx2SnSUqHOs8IeFPzQIsmGC1WZZQxlV1l-hFAGAvo9ugq_WvqZ7JJbjcoT-jpuuEheQ08YR7p4B3ENPdaUnpIvwdMn0WuUEuVW3B47chn07agNw/s320/CB-uno.jpg" border="0" /></span></a>1. A ORIGEM DA FILOSOFIA É A LOUCURA (GIORGIO COLLI)<br /></strong>Colli banha em uma nova luz as conhecidas teses nietzcheanas sobre o dionisíaco e o apolíneo. Apolo inspira a mania (que não é, senão uma forma de loucura). Apolo não é meramente a divindade mesurada, equilibrada, harmoniosa, profundamente aborrecida e antipática que Nietzsche vê, senão uma força que abarca a imensidão e a desmesura do profundamente irracional ou supra-racional. A loucura não é, pois, privativa de Dionísos. O mesmo caráter místico e extático de Apolo, que se manifesta na obscuridade do oráculo, na exaltação da pitonisa, é o combustível das infundadas imaginações milésias, da delicada lírica parmenídea, do hermetismo heraclitiano A loucura é a mãe da filosofia. Pensemos nas recentes investigações que confirmaram a origem asiática e nórdica de Apolo, chamado também O Hiperbóreo, por um lado, e, por outro, na tenaz persistência do xamanismo na Ásia Central. À luz dos novos dados, já não é possível na lógica ou no bom senso como os únicos emblemas da filosofia.<br /><br /><strong>2. A POESIA É FRUTO DA PERDA DA RAZÃO (LOUCURA) NÃO DA TÉCNICA (PLATÃO)</strong><br />Todos os poetas épicos, os bons, não nos dizem por arte, habilidade e ofício seus belos poemas, senão por extasiados e possessos. Igualmente os bons poetas líricos; assim como as Sacerdotisas de Cibele não estão em si quando dançam, tampouco os poetas líricos quando compõem seus belos cantos. Aquelas, apenas marcam a harmonia e o ritmo, caem em transe báquico e ficam possessas; estes, os poetas, são incapazes de criar até que não entram </span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2BsyiKuIeYJywVid_Q9P9G3INwrj05j3wKJL_rD5dV39DjKjJDmvan-4cibXmtJuAyoO0qrDHO8lUzxaJcmAgpaHZ533MHlX_lVS9gS1vGeqBT3pHOevl9B81KynvMO7iAlG_A6xb8QU/s1600-h/MA-uno+(1).jpg"></a><span style="font-size:85%;">em transe e enlouquecem, até perderem a razão inteira. Porque ao homem razoável lhe é de todo impossível poetizar. O deus, arrebatando-lhes o bom senso, usa aos poetas como servidores.<br />No âmbito da palavra trabalhada pelos poetas surgiu a filosofia; neste sentido, a filosofia é filha da poesia. O poeta não é um técnico: é um extasiado, um louco, um maniático. A poesia é um “theis moira”, um dom divino.<br />O discurso sobre a loucura que Sócrates desenvolve no “Fedro”, desde o começo mesmo contrapõe a loucura ao controle de si, e, com uma inversão paradoxal para nós, os modernos, exalta a primeira como superior à segunda. Os bens maiores chegam a nós através da loucura. A profetisa de Delfos e as sacerdotisas de Dodona, enquanto possuídas pela loucura, proporcionaram a Grécia muitas belas coisas, tanto aos indivíduos como à comunidade. Apolo e Dionisos tem uma afinidade fundamental, precisamente no terreno da mania: juntos, abarcam completamente a esfera da loucura.<br /><br /><strong>3. A ANORMALIDADE FÍSICA OU PSÍQUICA DE TODO POETA (GOTTFRIED BENN)</strong><br />A arte cresce em solo paradoxal e o lógico e ideológico falha ante ela. Rousseau, que escreveu a obra mais famosa e duradoura da literatura sobre </span><span style="font-size:85%;">educação, em que trata, em páginas inteiras, da alimentação das amas-de-leite: carne, esta não esquentará seu leite, e sobre a consistência dos colchões, como no momento do despertar, para que não se lhes escape a experiência da saída do sol no dia de São João, mandou levar os cinco filhos ilegítimos que lhe havia dado Teresa Levasseur a um orfanato, sem se preocupar com eles um só momento.<br />A “Viagem de inverno” de Schubert, hoje uma peça fora do programa, brilhante, de favoritos de laringes onduladas, devia sua origem a tormentos indescritíveis e a uma profunda depressão manifestamente clínica. A fila de paralíticos entre os gênios é enorme, a dos esquizofrênicos contem os nomes mais famosos, e de tudo isto não causalmente suplementário, adicional, senão como essência, sangue e solo do criador, bebedouro do espírito.<br />Entre os cento e cinqüenta gênios do Ocidente, só encontramos cinqüenta homoeróticos, variantes impulsivos e toxicômanos em bandos, solteiros e sem filho como regra geral, inválidos e degenerados em alta porcentagem; o produtivo, onde quer que se toque está cercado de anomalias, estigmatizações e paroxismos. Naturalmente, vemos a Goethe e Rubens, ricos, equilibrados, quase isentos de narcóticos e venenos; se estatisticamente, claro, que a maior parte da arte da metade do milênio passado e arte de elevação, de psicopatas, alcoólatras, anormais, vagabundos, hospicianos, neuróticos, degenerados, orejas gachas, tossedores: isto foi sua vida, e seus bustos estão na Abadia de Westminster e no Panteão, e sobre ambos se encontram suas obras: incorrigíveis, eternas, flor e esplendor do mundo. Isto era a arte, e não significa uma carta branca para suínos e parasitas; exibir a trompa não é uma cédula de identidade, não é uma altura, e falamos de vôo.<br /><br /></span></span><span style="color:#000000;"><span style="font-size:85%;"><strong>4. A FILOSOFIA É POESIA SOFISTICADA, EM CONTRAPOSIÇÃO À NATUREZA, QUE É POESIA ENIGMÁTICA. (MONTAIGNE).<br /></strong>Não é ousada a filosofia estimando que os homens produzem seus efeitos maiores e mais próximos à divindade quando estão fora de si, furiosos e </span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjw4EeACfPmv_c2Y61Vmfg7TqfYaphMZNpQE8X1BMyzVjAxANnj2al_nEgbkLAUKBpuf_L6T6TC5m4BJOaCNebzb2fFds8NPTHLya_KoH5PEuDuKDre8tSE0-C_CctGkQ2btaXg5nodBxE/s1600-h/CB-uno.jpg"></a><span style="font-size:85%;">insensatos? Melhoramos quando ficamos privados de razão. Os caminhos naturais para entrar na mansão dos deuses e prever o curso do destino são o furor e o sonho. A deslocação que causam as paixões é nossa razão e nos faz virtuosos: e sua extirpação, produzida pela insânia ou a imagem da morte, nos converte em profetas e adivinhos. O puro entusiasmo que a santa verdade inspira no espírito filosófico faz-lhe confessar a este que o estado sereno e tranqüilo que a filosofia quer nos dar não é a condição perfeita de nossa alma. Nossa vigília dorme mais que o sonho; nossa sapiência é menos sábia que a loucura; nossos sonhos valem mais que nossos raciocínios, e o pior lugar em que podemos nos situar somos nós mesmos.<br />Montaigne encontra em Platão a diversa sentença de uqe a natureza só é uma poesia enigmática. Ou seja, uma pintura velada e tenebrosa, da que transluzem infinitas falsas claridades para alimentar as nossas conjeturas. De fato, então a filosofia é só uma poesia sofisticada. De onde tiraram sua autoridade os escritores antigos, senão dos poetas? Os primeiros sábios e filósofos foram poetas eles mesmos e trataram a filosofia segundo a poesia. Platão não é mais do que um poeta desenfreado. E todas as ciências sobre-humanas apresentam um estilo poético.<br /><br /></span></span><span style="color:#000000;"><span style="font-size:85%;"><strong>5. A ARTE (A POESIA) É A OBRA DO GÊNIO (O LOUCO) DA SOCIEDADE, QUE VÊ, SALVA E SE PERDE EM SEU CONHECIMENTO (ARTHUR SCHOPENHAUER)<br /></strong>A arte (a poesia, a música, as artes plásticas) é a obra do gênio. Desde uma vizinhança com Platão, vai mais além dele ao atribuir à arte o conhecimento das idéias, e às ciências, o âmbito do mundo como representação da aparência, da ficção e do sonho. O gênio tem o caráter de mediador e demiurgo. Seu conhecimento é intuitivo, não abstrato. Necessita da fantasia para suprir a deficiente realização das idéias nas coisas. Isto leva aos limites da loucura, desde o ponto de vista do homem comum, requer o conceitual.<br />A tragédia é a culminação da poesia; a exposição da cara pavorosa da vida. Porque o que na tragédia o herói expia não são seus pecados privados, senão o pecado original, a culpa mesma da existência. A verdadeira filosofia será aquela que seja capaz de explicar conceitualmente a música ou a poesia. A arte, a poesia, contribui para resolver o enigma da vida; a arte, a poesia, é conhecimento, mas não salvação, O gênio, o artista, o poeta, o louco, o que tem, e também o que perde, é a lucidez.<br /><br /></span></span><span style="color:#000000;"><span style="font-size:85%;"><strong>CONCLUSÃO<br /></strong>Estes cinco textos, como se vê, são redutíveis entre si e falam eloqüentemente em favor da tese central deste ensaio. Por outra parte, acreditamos que postular que a filosofia e a poesia têm uma origem comum, ou inclusive que em sua origem são uma, é particularmente relevante à luz da estética do pensamento filosófico contemporâneo, sorte de inversão da teoria hegeliana do fim da arte e da insuficiência do artístico em relação à razão reconciliada, inversão que ilumina os tempos da modernidade em ruínas e dos meta-relatos desmoronados e desmascarados como ilusórios. Benjamin, ante o anjo da história de Klee, ou ante o Baudelaire de “Paris, capital do século XIX”, ou Heidegger frente aos sapatões de Van Gogh, ou frente ao Rilke de “Para quê poetas ?”, parecem afastar a arte do que era em aparência seu sentido tradicional, a busca da beleza, para dar-lhe um novo sentido, tradicionalmente reservado ao fazer filosófico, o de ser o lugar de aparição da verdade. Estamos ante uma generalizada reivindicação da frase de Schelling: “A verdade faísca na arte”. A outrora atrevida perseguição de Schegel que exigia dos filósofos que imitassem Homero e tudo voltou a ser um lugar comum no panorama atual.<br />Como corolário do dito anteriormente, queremos evocar um dos fenômenos da lírica grega e do pensamento da humanidade, Teognis de Megara:<br />“De todas las cosas, la mejor es no haber nacido, ni ver como humano los rayos fugaces del sol, y, una vez nacido, cruzar cuanto antes las puertas del Hades y yacer bajo una espesa capa de tierra tumbado”.<br /><br /><br /></span></span><span style="color:#000000;"><span style="font-size:85%;"><strong>Bibiografia<br /></strong>Colli, G.: “Despues de Nietzsche”, Anagrama, Barcelona, 1978.<br />Cromble, J.M.: “Analisis de las doctrinas de Platon”, 2 vols. , Alianza Editorial, Madrid, 1979.<br />Montaigne, M. de: “Ensayos”,<br />3 vols., Editorial Ibéria, Madrid.<br />Benn G. : “El poeta y el mundo”, Ediciones Gallimard, Paris, 1965.<br />Schopenhauer, A.: “El mundo como voluntad y representación”, 3 vols., Editorial Aguilar, Buenos Aires, 1960.<br />García Gual, C. “Poesia lírica griega” (VII-IV a.C.), Alianza Editorial, Madrid, 1975.<br /><br /></span></span><span style="color:#000000;"><span style="font-size:78%;"><strong>[Tradução: Douglas Diegues]<br /></strong><br /></span></span><span style="color:#000000;"><span style="font-size:78%;"><strong>Nota do Tradutor<br /></strong>Todas as citações feitas em espanhol foram mantidas no original.<br /><strong>Orejas Gachas:</strong> Expressão espanhola que significa orelhas caídas, no sentido de ficar triste por não conseguir seu objetivo.<br /><br /><br /></span></span></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"><span style="font-size:78%;"></span></span></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color:#000000;"><span style="font-size:78%;"></span></span></span>Douglas Diegueshttp://www.blogger.com/profile/00799817140635576161noreply@blogger.com0