quarta-feira, 1 de agosto de 2007

ARTAUD Y EL TEATRO EN OROPA

Lucila Nogueira nació en Rio de Janeiro y además de poeta, es ensayista, cuentista, krítica literária, professora universitária y traductora. Tiene 18 libros de poesia publicados entre los cuales un par de títulos rarófilos como Almenara [1979]; Ainadamar [1996]; Ilaiana [1997-2000]; Zinganares [1998]; Imilce [1999]; Amaya [2001]; A Quarta Forma do Delírio [2002]. Su tesis de doctorado (defendida em 2002) abarca los livros O Cão sem Plumas y Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto. Professora del curso de Postgrado en Letras y Linguística en la Universidade Federal de Pernambuco, ha publicado diversos ensayos que flotam por el mundillo birtual, como este, que apareceu en rebista Agulha [hecha entre Sampaulâdia y Fortalezalâdia bajo el komando de Floriano Martins y Claudio Willer] sobre Artaud y el teatro europeu, que ahora se publica en este Ayvu Ayvu. [DD]

ARTAUD E A REINVENÇÃO DO TEATRO EUROPEU
Por LUCILA NOGUEIRA

"Eu vim ao México fugido da civilização européia...
Contrariamente ao que todos
foram levados a crer,
os povos anteriores
a Colombo eram
estranhamente civilizados"
Antonin Artaud


Se na Europa já existia, portanto, um caminho trilhado nessa direção, o que haveria de conferir a Artaud o perfil de grande visionário do teatro no século XX? Desejando vivenciar seus próprios símbolos e mitos, ele consegue em 1936 uma bolsa e vai pesquisar os índios tarahumaras no México, passa quase um ano estudando antropologicamente o ritual do peyote, acreditando na cultura indígena como resgate de uma percepção do mundo que o ocidente dera por perdida. Também Malcom Lowry estaria em terras mexicanas por duas vezes e escreveria Debaixo do Vulcão; o sonho de despir-se Artaud da identidade de civilizado leva-o a alcançar um estado poético absoluto, onde caem por terra as estruturas arcaicas da linguagem, onde a retórica é inútil e a beatitude ultrapassa a reflexão.

Também a identidade acha-se roubada ao eu pelo outro e Artaud guarda esse dilema, porque cada um carrega consigo o seu Lautréamont, o seu Hölderlin, o seu Strindberg, o seu Nietzsche, e eles são irredutíveis, até o fim da solidão (Joski). Daí a tentativa do teatro de Artaud de fixar a alteridade, desde o etnográfico ao metafísico; do questionamento da superioridade da Europa sobre os povos colonizados à crítica da superstição do texto em face da explosão da vida: indagando onde radica a justificativa que um continente pode ter para servir-se de outro, Artaud opõe a tirania dos colonizadores à profunda harmonia dos colonizados e evoca Montezuma, rei dilacerado, o das paredes de ouro cobiçadas pelos brancos invasores. Quando retorna à Europa, vai fazer uma peregrinação nos locais sagrados da cultura celta, aquela que foi derrotada historicamente pelos romanos; a partir daí é deportado para a França (setembro de 1937), por se encontrar sem recursos e em estado de grande exaltação.

Tem sido constante a consideração dos gênios como dementes, loucos ou visionários. Veja-se Blake, Goya, Van Gogh, Rimbaud. Nietzsche foi oficializado doente ao chorar em praça pública diante do chicoteamento de um cavalo. Exige-se socialmente uma normalidade com características de controle e objetividade. Mas a mente humana é passional, infantil, inocente. A crítica do conceito de espetáculo de Artaud expulsa a arte do teatro como falsidade, defendendo a união entre a poesia, a filosofia, o grito, a biografia em um único ato: escrever é o mesmo que viver, desaparecendo a cisão entre vida e obra. Lembra Claudio Willer que as suas propostas sobre teatro são hoje práticas correntes: a criação coletiva, a improvisação em cena, o primado do gestual e da expressão corporal, união palco e platéia, o happening, a performance; as correntes de pensamento da chamada contracultura são de alguma forma um legado de Artaud; também os estudos sobre a relação entre o corpo e a consciência, bem como a devoção que lhe dedicou o grupo reunido em torno da revista Tel Quel, tudo sinaliza para essa postura de rebelião radical que se recusa a compactuar com a violência absurda da civilização ocidental, e deu ensejo à geracão beat americana (Guinsberg, Burroughs, Kerouac) bem como ao movimento hippie dos anos sessenta, seguido por manifestações mais radicais como os punks, pós-punks e diversos tipos de orientalismo ocidental cotidiano.


Durante o tempo em que passou internado, Artaud demonstrou estar em plena posse de sua escrita. Denunciou as clínicas psiquiátricas como cárceres onde os internos provém mão-de-obra gratuita, onde a brutalidade é norma. Assim se dirigiu em sua "Carta aos Diretores de Manicômios":
As leis, os costumes lhes concedem o direito de medir o espírito. Esta jurisdição soberana e terrível, vocês a exercem com o seu entendimento. Não nos façam rir. A credulidade dos povos civilizados, dos especialistas, dos governantes, reveste a psiquiatria de inexplicáveis luzes sobrenaturais. A profissão que vocês exercem está julgada por antecipação. ...Todos os atos individuais são anti-sociais. Os loucos são as vítimas individuais por excelência da ditadura social. .... Sem insistir no caráter verdadeiramente genial das manifestações de certos loucos, na medida de nossa aptidão para apreciá-las, afirmamos a legitimidade absoluta de sua concepção de realidade.
Aos 110 anos de seu nascimento só a poesia pode ter voz ao grande mestrestético e humano autor de um ensaio tão clarividente e profético como Van Gogh, o suicidado pela sociedade:
Artaud
a Europa se esgotou
e tu vieste à América dos tarahumaras primitivos
dançando a força de seus rituais
até chegar ao estágio da visão.
Você queria entender o sol
participar do transe de secretas ordenações
como se tudo fosse uma espécie de lição
e agora alguma coisa te restitui
ao que existe do outro lado de ti
aprende Artaud
a reconhecer os sinais
os deuses nos contemplam dos rochedos
e eles nada pedem
só o físico sobrenatural
só a matéria de tua pele
em carne viva desde sempre
a refletir um sonho que se vai
agora conheces os que curam através do sonho
e sabes que um branco é apenas um homem
que os espíritos abandonaram
agora sabes das cruzes com os espelhos amarrados entre dois sóis
raiz hermafrodita
labareda
faz teu apelo às forças obscuras
Artaud
grande mestre curandeiro
o rito da aurora negra
na noite eterna do sol.

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