quarta-feira, 13 de junho de 2007

LOKURA, POESIA Y FILO-SOFIA


El Ayvu Ayvu dekola sem apoyo de la NASA nim del Vaticano. Frederico, mio minino astronauta, dorme a mi lado y son las 4 de la manhana. Ayvu Ayvu. Astronáutiko blógui trans-triple-fronterizo que vuela movido a Amor Azul. Literatura dentro y fuera de las molduras oficiales. Nuebo mundo de las palabras sem fins lukrativos. Ayvu Ayvu. Nim mais nim menos. Ayvu Ayvu. Nim poko nim mucho. Y para dekolar desde Paraguay, la fulminante hispano-peruana Monserrat Alvarez y el punk-filoso-fante Cristino Bogado - 2 de los nobíssimos poetas em atividade en Paraguai - nos hablan de um tiempo em que Poesia y Filosofia son um solo lenguaje que nace de la Loucura...
Avanti!


POESIA E FILOSOFIA



Por MONTSERRAT ALVAREZ Y CRISTINO BOGADO

Quando nos iniciamos, apesar de nós mesmos, nos mistérios da vida intelectual - refiro-me ao período de nossa infância e adolescência, consumido pela escolaridade à qual se nos destina habitualmente - uma das disciplinas que mais alheia parece a tudo o quanto há em nós digno do nome “humano”, uma das que mais afastadas nos parece estar do que costuma ser o curso espontâneo e adequado de nossas reflexões, uma das que menos aparenta referir-se a nós mesmos, mas em primeiro lugar, a mais incômoda de todas, o que não é pouco dizer - é a maldita filosofia.
Nada nos parece mais distante de tudo o que verdadeiramente importa como os porcos regozijos do entendimento nos charcos do raciocínio, estéreis jogos de eunucos. Podemos obstinar-nos em imitar aos filósofos em seus recreios onanistas, seja pelo vaidoso desejo de assemelharmo-nos a eles aos deslumbrados olhos de nossos contemporâneos, seja pela nobre aspiração de aperfeiçoarmo-nos intelectual e moralmente, seja por uma mescla de ambas pretensões. Mas por mais que tentemos autoconvencermo-nos de que desfrutamos com tão insossas atividades, ou inclusive de que nascemos
para elas, algo em nosso interior se rebela e nos grita que o monstruoso, belíssimo, sacrossanto mistério da vida não pode ser afrontado com a equânime indiferença dos cálculos mentais, senão com o sublime ardor da poesia. Não com a serenidade tediosa do filósofo, senão com a paixão do poeta.
Mas temos algo a dizer, uma lança para quebrar em defesa da filosofia. E é que a filosofia, um dia, lá nos róseos alvores helenos, foi algo diferente do que o colégio nos ensinou e daquilo no que, efetivamente, converteu-se para os demais. Houve um tempo radiante em que não se havia efetuado ainda o divórcio entre filosofia e poesia. A língua de da filosofia não foi sempre esta petulante prosa didática que empregamos hoje em nossa decadência. Não. O filósofo, em sua juventude, foi um mago, um xamã, um poeta. Recordemos a exaltação e a beleza - porém, antes de mais nada, a soberba carência de lógica - dos textos que nos legaram os pré-socráticos. Sua obscuridade, como a do oráculo, indica procedência divina, não humana, da filosofia, pois a língua dos deuses é absolutamente heterogênea em relação à língua dos homens.
(“El señor cuyo oráculo está en Delfos ni afirma ni niega, sino indica”, diz Heráclito).
A decadência na qual estamos imersos atualmente inicia-se muito cedo, se enfocamos as coisas desde este ângulo, e, mais concretamente, com a pretensão platônica de inteligibilidade, posteriormente sistematizada por Aristóteles sob uma forma de toda uma metodologia do pensar com “correção”. Esta pretensão de inteligibilidade implica numa desmistificação da filosofia, sua translação do plano sobrenatural ao plano natural. É então quando surge a espécie mais tediosa e menos filosófica do filosofo: o do “são e bom sentido”.
A tese central que tentamos defender neste ensaio é a seguinte: que, como o insinuado acima, filosofia e poesia têm origem comum na loucura. Apresentaremos sucintamente cinco argumentos ou provas a favor desta tese, a primeira vista sui generis. As apresentaremos apenas esboçadas, apesar de requererem um desenvolvimento mais detalhado, o qual nos obrigará a incorrer na falácia da apelação à autoridade, pois todas estas provas procedem de prestigiosos pensadores Colli, Platão, Montaigne e Schopenhauer.


1. A ORIGEM DA FILOSOFIA É A LOUCURA (GIORGIO COLLI)
Colli banha em uma nova luz as conhecidas teses nietzcheanas sobre o dionisíaco e o apolíneo. Apolo inspira a mania (que não é, senão uma forma de loucura). Apolo não é meramente a divindade mesurada, equilibrada, harmoniosa, profundamente aborrecida e antipática que Nietzsche vê, senão uma força que abarca a imensidão e a desmesura do profundamente irracional ou supra-racional. A loucura não é, pois, privativa de Dionísos. O mesmo caráter místico e extático de Apolo, que se manifesta na obscuridade do oráculo, na exaltação da pitonisa, é o combustível das infundadas imaginações milésias, da delicada lírica parmenídea, do hermetismo heraclitiano A loucura é a mãe da filosofia. Pensemos nas recentes investigações que confirmaram a origem asiática e nórdica de Apolo, chamado também O Hiperbóreo, por um lado, e, por outro, na tenaz persistência do xamanismo na Ásia Central. À luz dos novos dados, já não é possível na lógica ou no bom senso como os únicos emblemas da filosofia.

2. A POESIA É FRUTO DA PERDA DA RAZÃO (LOUCURA) NÃO DA TÉCNICA (PLATÃO)
Todos os poetas épicos, os bons, não nos dizem por arte, habilidade e ofício seus belos poemas, senão por extasiados e possessos. Igualmente os bons poetas líricos; assim como as Sacerdotisas de Cibele não estão em si quando dançam, tampouco os poetas líricos quando compõem seus belos cantos. Aquelas, apenas marcam a harmonia e o ritmo, caem em transe báquico e ficam possessas; estes, os poetas, são incapazes de criar até que não entram
em transe e enlouquecem, até perderem a razão inteira. Porque ao homem razoável lhe é de todo impossível poetizar. O deus, arrebatando-lhes o bom senso, usa aos poetas como servidores.
No âmbito da palavra trabalhada pelos poetas surgiu a filosofia; neste sentido, a filosofia é filha da poesia. O poeta não é um técnico: é um extasiado, um louco, um maniático. A poesia é um “theis moira”, um dom divino.
O discurso sobre a loucura que Sócrates desenvolve no “Fedro”, desde o começo mesmo contrapõe a loucura ao controle de si, e, com uma inversão paradoxal para nós, os modernos, exalta a primeira como superior à segunda. Os bens maiores chegam a nós através da loucura. A profetisa de Delfos e as sacerdotisas de Dodona, enquanto possuídas pela loucura, proporcionaram a Grécia muitas belas coisas, tanto aos indivíduos como à comunidade. Apolo e Dionisos tem uma afinidade fundamental, precisamente no terreno da mania: juntos, abarcam completamente a esfera da loucura.

3. A ANORMALIDADE FÍSICA OU PSÍQUICA DE TODO POETA (GOTTFRIED BENN)
A arte cresce em solo paradoxal e o lógico e ideológico falha ante ela. Rousseau, que escreveu a obra mais famosa e duradoura da literatura sobre
educação, em que trata, em páginas inteiras, da alimentação das amas-de-leite: carne, esta não esquentará seu leite, e sobre a consistência dos colchões, como no momento do despertar, para que não se lhes escape a experiência da saída do sol no dia de São João, mandou levar os cinco filhos ilegítimos que lhe havia dado Teresa Levasseur a um orfanato, sem se preocupar com eles um só momento.
A “Viagem de inverno” de Schubert, hoje uma peça fora do programa, brilhante, de favoritos de laringes onduladas, devia sua origem a tormentos indescritíveis e a uma profunda depressão manifestamente clínica. A fila de paralíticos entre os gênios é enorme, a dos esquizofrênicos contem os nomes mais famosos, e de tudo isto não causalmente suplementário, adicional, senão como essência, sangue e solo do criador, bebedouro do espírito.
Entre os cento e cinqüenta gênios do Ocidente, só encontramos cinqüenta homoeróticos, variantes impulsivos e toxicômanos em bandos, solteiros e sem filho como regra geral, inválidos e degenerados em alta porcentagem; o produtivo, onde quer que se toque está cercado de anomalias, estigmatizações e paroxismos. Naturalmente, vemos a Goethe e Rubens, ricos, equilibrados, quase isentos de narcóticos e venenos; se estatisticamente, claro, que a maior parte da arte da metade do milênio passado e arte de elevação, de psicopatas, alcoólatras, anormais, vagabundos, hospicianos, neuróticos, degenerados, orejas gachas, tossedores: isto foi sua vida, e seus bustos estão na Abadia de Westminster e no Panteão, e sobre ambos se encontram suas obras: incorrigíveis, eternas, flor e esplendor do mundo. Isto era a arte, e não significa uma carta branca para suínos e parasitas; exibir a trompa não é uma cédula de identidade, não é uma altura, e falamos de vôo.

4. A FILOSOFIA É POESIA SOFISTICADA, EM CONTRAPOSIÇÃO À NATUREZA, QUE É POESIA ENIGMÁTICA. (MONTAIGNE).
Não é ousada a filosofia estimando que os homens produzem seus efeitos maiores e mais próximos à divindade quando estão fora de si, furiosos e
insensatos? Melhoramos quando ficamos privados de razão. Os caminhos naturais para entrar na mansão dos deuses e prever o curso do destino são o furor e o sonho. A deslocação que causam as paixões é nossa razão e nos faz virtuosos: e sua extirpação, produzida pela insânia ou a imagem da morte, nos converte em profetas e adivinhos. O puro entusiasmo que a santa verdade inspira no espírito filosófico faz-lhe confessar a este que o estado sereno e tranqüilo que a filosofia quer nos dar não é a condição perfeita de nossa alma. Nossa vigília dorme mais que o sonho; nossa sapiência é menos sábia que a loucura; nossos sonhos valem mais que nossos raciocínios, e o pior lugar em que podemos nos situar somos nós mesmos.
Montaigne encontra em Platão a diversa sentença de uqe a natureza só é uma poesia enigmática. Ou seja, uma pintura velada e tenebrosa, da que transluzem infinitas falsas claridades para alimentar as nossas conjeturas. De fato, então a filosofia é só uma poesia sofisticada. De onde tiraram sua autoridade os escritores antigos, senão dos poetas? Os primeiros sábios e filósofos foram poetas eles mesmos e trataram a filosofia segundo a poesia. Platão não é mais do que um poeta desenfreado. E todas as ciências sobre-humanas apresentam um estilo poético.

5. A ARTE (A POESIA) É A OBRA DO GÊNIO (O LOUCO) DA SOCIEDADE, QUE VÊ, SALVA E SE PERDE EM SEU CONHECIMENTO (ARTHUR SCHOPENHAUER)
A arte (a poesia, a música, as artes plásticas) é a obra do gênio. Desde uma vizinhança com Platão, vai mais além dele ao atribuir à arte o conhecimento das idéias, e às ciências, o âmbito do mundo como representação da aparência, da ficção e do sonho. O gênio tem o caráter de mediador e demiurgo. Seu conhecimento é intuitivo, não abstrato. Necessita da fantasia para suprir a deficiente realização das idéias nas coisas. Isto leva aos limites da loucura, desde o ponto de vista do homem comum, requer o conceitual.
A tragédia é a culminação da poesia; a exposição da cara pavorosa da vida. Porque o que na tragédia o herói expia não são seus pecados privados, senão o pecado original, a culpa mesma da existência. A verdadeira filosofia será aquela que seja capaz de explicar conceitualmente a música ou a poesia. A arte, a poesia, contribui para resolver o enigma da vida; a arte, a poesia, é conhecimento, mas não salvação, O gênio, o artista, o poeta, o louco, o que tem, e também o que perde, é a lucidez.

CONCLUSÃO
Estes cinco textos, como se vê, são redutíveis entre si e falam eloqüentemente em favor da tese central deste ensaio. Por outra parte, acreditamos que postular que a filosofia e a poesia têm uma origem comum, ou inclusive que em sua origem são uma, é particularmente relevante à luz da estética do pensamento filosófico contemporâneo, sorte de inversão da teoria hegeliana do fim da arte e da insuficiência do artístico em relação à razão reconciliada, inversão que ilumina os tempos da modernidade em ruínas e dos meta-relatos desmoronados e desmascarados como ilusórios. Benjamin, ante o anjo da história de Klee, ou ante o Baudelaire de “Paris, capital do século XIX”, ou Heidegger frente aos sapatões de Van Gogh, ou frente ao Rilke de “Para quê poetas ?”, parecem afastar a arte do que era em aparência seu sentido tradicional, a busca da beleza, para dar-lhe um novo sentido, tradicionalmente reservado ao fazer filosófico, o de ser o lugar de aparição da verdade. Estamos ante uma generalizada reivindicação da frase de Schelling: “A verdade faísca na arte”. A outrora atrevida perseguição de Schegel que exigia dos filósofos que imitassem Homero e tudo voltou a ser um lugar comum no panorama atual.
Como corolário do dito anteriormente, queremos evocar um dos fenômenos da lírica grega e do pensamento da humanidade, Teognis de Megara:
“De todas las cosas, la mejor es no haber nacido, ni ver como humano los rayos fugaces del sol, y, una vez nacido, cruzar cuanto antes las puertas del Hades y yacer bajo una espesa capa de tierra tumbado”.


Bibiografia
Colli, G.: “Despues de Nietzsche”, Anagrama, Barcelona, 1978.
Cromble, J.M.: “Analisis de las doctrinas de Platon”, 2 vols. , Alianza Editorial, Madrid, 1979.
Montaigne, M. de: “Ensayos”,
3 vols., Editorial Ibéria, Madrid.
Benn G. : “El poeta y el mundo”, Ediciones Gallimard, Paris, 1965.
Schopenhauer, A.: “El mundo como voluntad y representación”, 3 vols., Editorial Aguilar, Buenos Aires, 1960.
García Gual, C. “Poesia lírica griega” (VII-IV a.C.), Alianza Editorial, Madrid, 1975.

[Tradução: Douglas Diegues]

Nota do Tradutor
Todas as citações feitas em espanhol foram mantidas no original.
Orejas Gachas: Expressão espanhola que significa orelhas caídas, no sentido de ficar triste por não conseguir seu objetivo.


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