sexta-feira, 15 de junho de 2007

Mezkla de lenguas en James Joyce y Xul Solar

El irlandês James Joyce y el argentino Xul Solar, mais do que 2 escritores profisionales foram 2 inbentores de sistemas poéticos próprios. Inconformistas, não se contentaron escrever solamente dentro de la lengua em que nasceram. E inbentaron una lengua particulara partir de fusões de palavras, frases, sintaxes, de la “lengua madre” y de línguas estrangeiras. Non se acomodaron en diluiciones de fórmulas y maneiras consagradas de escritura. Ousaram experimentar las mil posibilidades infinitas de inbención de nuebas formas de escritura. Y el resultado fue sorprendente. Quando participamos del Primeiro Enkuentro Internacional Poetas en la Baía, en Asunciónländia (kapital paraguaya), la mezkla de lenguas em Xul Solar y James Joyce foram los temas de Dirce Waltrick do Amarante[professora de literatura infanto-juvenil na Universidade Federal de Santa Catarina] y Rita Lenira de Freitas Bittencourt, autora de la pesquisa Guerra e Poesia: lutas simbólicas do modernismo. Y neste 16 de junho de 2007, Dirce Waltrick y Sérgio Medeiros comandam el Bloomsday de Florianópolis.[DD]



JAMES JOYCE, XUL SOLAR Y LA MEZCLA DE LENGUAS

Por DIRCE WALTRICK DO AMARANTE

É oportuno falar sobre James Joyce, justamente no mês do “Bloomsday”, dia em que se homenageia o romance Ulisses, do mencionado escritor. Essa homenagem acontece em diferentes partes do mundo, desde Dublin, Paris, São Paulo. Trata-se de um evento em que os leitores de Joyce se reúnem para ler e comentar passagens da sua obra. Ulisses, romance cujo enredo transcorre num único dia, 16 de junho de 1904, é considerado um dos marcos da literatura universal. Nesta obra, Joyce revoluciona algumas das convenções até então estabelecidas para se escrever um romance, sendo que sua maior inovação está relacionada com a linguagem. Em Ulisses, Joyce inicia um uso novo da língua, passando a criar parte do seu vocabulário. Essa experimentação lingüística ganhará maior importância, no entanto, na sua obra posterior, Finnegans Wake (1939), romance que custou ao autor 17 anos de árduo trabalho e durante os quais ficou conhecido como Work in Progress. A linguagem é sem dúvida um dos aspectos mais marcantes da obra do escritor, principalmente quando o foco de atenção do leitor recai sobre Finnegans Wake, seu último trabalho. No Brasil, a tradução desta obra vem sendo publicada em capítulos. O primeiro capítulo foi publicado ano passado e o segundo foi lançado em junho, agora.

Mesclar línguas diversas, criar um idioma próprio, trabalhar tão profundamente com a linguagem não foi, todavia, uma postura exclusiva do autor. Na mesma época em que Joyce trabalhava em seu Work in Progress, parece ter surgido entre os artistas argentinos um interesse equivalente com relação à linguagem. Entre eles, destacam-se os nomes de Borges e Xul Solar. Centrarei minha atenção em Xul Solar para traçar um paralelo com Joyce, uma vez que vejo na linguagem proposta por Xul, principalmente no seu “neocrioulo”, um contato maior com a língua criada pelo escritor irlandês. Este ponto de contato estaria não só na mescla de diferentes idiomas usada por ambos escritores – o que não ocorre com a prosa de Borges, que trabalhava com um único idioma -, como também na função ideológica dessas novas línguas, muito embora, como se verá adiante, os autores tenham traçado caminhos diferentes para atingir esse objetivo.

Começarei este trabalho buscando apresentar a linguagem utilizada por Joyce em Finnegans Wake, não sem antes abordar outros aspectos do livro.

Para compor o romance, Joyce recorreu a duas teorias filosóficas, as teorias dos filósofos italianos Giambattista Vico e Giordano Bruno. Vico descreve em sua Scienza Nuova as idades da humanidade. Ele concebia a história como um processo cíclico, em que o progresso e a humanidade moviam-se através de três períodos, denominados “divino”, “heróico” e “humano”. Findo o último período, haveria uma fase de transição, de caos e, então, os ciclos recomeçariam. Já a doutrina filosófica de Bruno pregava a “coincidência dos opostos”, toda força natural deveria desenvolver uma força oposta e, a partir dessa antítese, gerar-se-ia uma nova síntese. Também, essas transmutações seriam circulares.

A partir dessas considerações filosóficas, pode-se afirmar que a estrutura de Finnegans Wake é circular, sem começo nem fim, mas um constante renascer. Essa idéia serve tanto para descrever a estrutura narrativa do livro quanto a estrutura da sua linguagem. A doutrina de Bruno poderia ser exemplificado a partir da conjugação de duas palavras opostas, “laughter” (riso, risada) e “tears” (lágrimas), que dá origem a uma terceira palavra, “laughtears”, que em português foi traduzida por lágrima-sorriso, por Augusto e Haroldo de Campos. Quanto ao processo circular de Vico, pode-se percebê-lo na última página do livro, onde uma frase inacabada, “A way a lone a last a loved a long the”, remete a frase inicial do romance, também incompleta, “riverrun, past Eve and Adam’s, from swerve of shore to bend of bay, brings us by a commodius vicus of recirculation back to Howth Castle and Environs.”.

Além dessas teorias filosóficas, não se pode esquecer que Finnegans Wake também absorveu grande parte do espírito de sua época. Época de um mundo em crise entre duas grandes guerras, da psicanálise, das perspectivas fragmentadas que começam a surgir nas artes visuais, como podemos observar no cubismo e época das dissonâncias sincopadas na música, aí tomo como exemplo Stravinsky e o jazz. Essas características influenciaram não só o enredo da narrativa, como também a linguagem do romance, como procurarei demonstrar no decorrer dessa comunicação.

Ao contrário de Ulisses, cuja ação transcorre num único dia, a estória de Finnegans Wake se passa durante a noite. O objetivo declarado de Joyce, ao escrever o romance, era traduzir a linguagem dos sonhos e da morte, mas para fazer isso, não poderia recorrer a um enredo regular e à gramática padrão. O uso de uma linguagem “obscura” se fazia necessário, uma vez que, segundo o próprio escritor, “as coisas não podem ser tão claras durante à noite”. Alicerçado nessa linguagem intrincada Joyce tratou de temas considerados tabus, tais como sexo, crimes contra os costumes e questões políticas irlandesas. Por isso, para muitos críticos, o livro seria a manifestação do inconsciente através de formas distorcidas como sucede nos sonhos, nos lapsos da língua e nas brincadeiras. A influência de Freud em Finnegans Wake é evidente.

No entanto, nem todos os críticos vêem desta forma o romance. Para Samuel Beckett, conterrâneo do autor e que acompanhou de perto a evolução do Work in Progress, tendo secretariado Joyce na época em que ele escrevia o romance, o livro não é sobre coisa alguma, é alguma coisa em si mesmo, e prioriza, segundo ele, muito mais a língua na qual ele é narrado do que seu conteúdo. Não é sem razão que Beckett nos apresenta o livro dessa maneira. Em Finnegans Wake, James Joyce cria uma linguagem própria, usando vários recursos estilísticos, como trocadilhos, alusões obscuras, vocábulos constituídos pela fusão de duas ou mais palavras existentes ou não, chamados de palavras-valise, ou “portmanteau”. Além disso, seu vocabulário envolve palavras de aproximadamente 65 idiomas diferentes e, ainda incorpora termos que não estão em nenhum dicionário, termos estes inventados pelo próprio autor. Se, por um lado, essa linguagem torna a leitura difícil, por outro lado, ela pode esclarecer, muitas vezes, o que está sendo contado. Basta, para tanto, que se acate um dos conselhos de Joyce sobre como ler seu último livro: “Quando em dúvida, leia em voz alta”.1

Neste livro, a audição precede a visão. Finnegans Wake deveria ser declamado, lido em voz alta, embora a leitura silenciosa seja perfeitamente válida. Nele, a unidade básica de construção da linguagem, tanto em termos de significado quanto de musicalidade, não é a palavra, mas a sílaba. São muitos os exemplos de ruídos que podem ser encontrados nesta obra, sons formados por palavras compostas de inúmeras letras que os críticos denominam “soundsense” e que se explicam pela simples leitura audível . O barulho do trovão, uma palavra de mais cem letras que aparece já na primeira página do livro, pode ilustrar o que acaba de ser colocado:

bababadalgharaghtakamminarronnkonntonnerronntuonnthunntrovarrhounawnskawntoohoohoordenenthurnuk
[ p. 3]

Os “soudsenses”, em Finnegans Wake, são em torno de dez, e perdem muito de seu sentido quando lidos em voz baixa. Todavia, não são só essas palavras que dependem da audição para adquirirem um maior significado: outros tipos de palavras, ou sentenças inteiras, necessitariam desta mesma forma de leitura, para adquirirem sentido ou valor estético. No final do capítulo sobre Anna Livia Plurabelle, por exemplo, as palavras adormecem. Temos, então, frases como “my foos don’t moos”, no lugar de “my feet don’t move”, que exigem um esforço maior de dicção por parte do leitor.

Quanto aos outros recursos estilísticos, citaria os trocadilhos, que são jogos de palavras semelhantes no som, mas que possuem significados diferentes. Além de darem ao livro um efeito cômico, os trocadilhos permitem que o leitor os interprete de diversas maneiras: simbolicamente, alegoricamente, por exemplo. Por essa razão, eles também poderiam simbolizar a incerteza e a ambigüidade do inconsciente, conforme a concepção psicanalítica do sonho. Para citar um exemplo de trocadilho, escolhi a expressão “talk save”, usada reiteradas vezes em todo livro e que toma lugar da expressão “God save”.

As palavras-valise, ou “portmanteau”, têm um efeito semelhante ao do trocadilho, mas exigem do leitor um pouco mais de atenção. Enquanto os trocadilhos oferecem um ponto de referência, uma vez que se apoiam numa linguagem já existente, as palavras-valise são totalmente novas e não possuem referencial. Elas são compostas da fusão de duas ou mais palavras e, muitas vezes, palavras de línguas diferentes. Esses vocábulos povoam o livro. Poderia dizer, por essa razão, que são a base da língua joyciana, ao lado das sílabas, conforme discuti atrás. Aparecem, em todo romance, palavras como “funferall”, uma fusão entre a palavra “funerall” (funeral) e a expressão “fun for all” (divertimento para todos); “Chaosmos”, originada a partir das palavras “chaos” (caos) e “cosmos” (cosmo); ou “finneagain” composta de uma palavra latina “finne” (fim) e de uma palavra inglesa “again” (novamente).

Outra característica da linguagem de Finnegans Wake é, como já mencionei, a mistura de idiomas usada para compor essa nova fala. Joyce se apropriou de idiomas de diversas partes do mundo, envolvendo os leitores num emaranhado de traduções. Muitas vezes, isso nos faz indagar a respeito da língua original do romance, uma vez que se torna difícil saber qual língua prevalece sobre outra. Para muitos críticos, a língua original de Finnegans Wake seria o inglês, todavia outros entram em contradição ao discutir o assunto. Na realidade, o que Joyce desejava era construir uma língua nova que, segundo declaração do próprio autor, estivesse acima de todas as línguas e que todos pudessem utilizar.

A obra do escritor irlandês foi dominada por essa inquietação lingüística. Ele acreditava que só poderia escrever a história do seu país quando encontrasse uma língua que se adequasse às experiências irlandesas. E essa língua possivelmente não seria o inglês, idioma do povo que dominou por quase oitocentos anos a Irlanda, nem mesmo o irlandês, língua perdida entre tantas outras que fizeram parte da história de sua terra natal. A Irlanda sofreu o domínio de outros povos, além do inglês, tais como os viquingues e os franceses. Todavia, Joyce sempre tentou recuperar a língua de seu país ou dar ênfase a ela, a tal ponto que ele mesmo declarava que seu livro tinha o ritmo da fala dos irlandeses.

No tocante ao uso que Joyce faz do inglês, muitos estudos a respeito deixam indícios de que o escritor teria tentado “destruir” ou “fragmentar” esse idioma como forma de rebelião contra os colonizadores ingleses.

O certo é que James Joyce criou uma linguagem nova e com ela um novo tipo de leitor. Um leitor que necessita estar familiarizado com diferentes línguas e culturas para absorver uma gama enorme de fatos históricos e culturais e para conseguir administrar a riqueza verbal que compõe o livro. Para os leitores de língua inglesa, os ecos da infância, os provérbios, as canções e outros similares ajudam a recompor o sentido do livro. No entanto, não raramente, os próprios leitores ingleses se sentem “perdidos” por não conhecerem as outras línguas ou culturas referidas no livro. Deste modo, o leitor de língua estrangeira também possui certa vantagem sobre o leitor inglês. O que poderia levar à conclusão de que, para compreender esse romance, uma leitura em conjunto seria ideal, pois o livro pode ser lido de diferentes perspectivas e cada leitor pode encontrar diferentes significados no texto, principalmente quando têm diferentes nacionalidades, ou dominam outros idiomas, ou conhecem outras culturas.

Joyce, entretanto, não abandona o leitor à própria sorte. São muitos os conselhos de leitura inseridos no próprio livro, mesmo que estejam eles dispersos no meio da linguagem pouco clara do romance, ou apareçam, muita vezes, de forma implícita. Extraí dois exemplos como ilustração:

Na página 453, temos:
So now, I’ll ask you, let ye create no scenes in my poor primmafore’s wake. (Então, agora, eu pedirei a vocês, não criem nenhum espetáculo no meu pobre préprimeiro despertar)2

E, na página 108, o conselho é o seguinte:
Now, patience; and remember patience is the great thing...(Agora paciência; e lembre-se paciência é a melhor coisa) Além disso, o romance se auto-conceitua, procurando ajudar na aproximação entre o leitor e a obra.

Na página 251, Finnegans Wake se conceitua como:
The lingerous longerous book of the dark... (o louco e longo livro da noite...) E, na página 394 o livro diz ser: Like another telmastory repeating yourself... (como umoutra estória qualquer repetindo-se a si própria...)

A linguagem utilizada por Joyce, em Finnegans Wake, é, em suma, uma exploração das possibilidades da comunicação humana, desde a sílaba até os termos compostos, apresentando-se como uma linguagem poliglota e poética. Talvez resumisse o que foi dito até agora a frase: “Are we speachin d’anglas landage or are you sprakin sea Djoytsch?”. Nela, Joyce usa o francês (“d’anglais”), o alemão (“sprechen sie Deutsch?”) e ainda o inglês. Quanto à dimensão poética da linguagem, ela está presente em todo texto através dos jogos de linguagem já mencionados e das constantes aliterações e rimas, como por exemplo na frase “Tell me every tiny teign. I want to know every single ingul” (Conte-me toda a minúscula minúcia. Eu quero saber tudo tudo).

Essa linguagem criada por Joyce, assemelha-se ao “neocrioulo” de Xul Solar, conforme já havia mencionado e que tentarei a partir de agora demonstrar, muito embora superficialmente.

O pintor, mítico e poeta argentino Alejandro Schulz Solari, ou simplesmente Xul Solar, iniciou na década de 20 um trabalho com a linguagem, trabalho este que talvez tenha começado com a formação do seu próprio nome artístico, uma mescla dos seus sobrenomes.

A tendência ao visionarismo e à transgressão levaram o artista a problematizar a linguagem comum. Xul Solar inventou dois idiomas, a panlíngua e o creol ou neocrioulo. O primeiro idioma era filosófico, já o outro uma reforma do espanhol, com palavras inglesas, alemãs, gregas e a retomada do idioma guarani. Tratarei apenas deste segundo idioma.

O neocrioulo seria uma língua para a América Latina, “a futura língua do continente”, segundo o próprio autor.

O idioma propõe uma mescla de línguas já existentes, recorrendo ainda a combinação de variantes fonéticas e de fragmentos de palavras. Surge aí a primeira semelhança com a língua de Joyce, que, da mesma forma, combina estes elementos, além de outros já mencionados.

Além disso, a língua criada por Xul, parece exigir, assim como a língua do escritor irlandês, um leitor ideal que seja capaz de criar uma relação de cumplicidade com os textos, de lançar-se à sua decifração e, a partir desta relação, elaborar a sua própria leitura. Desta forma, os textos em neocrioulo, assim como Finnegans Wake, permitem uma multiplicidade de leituras e significados. E, tanto o leitor do Joyce quanto o de Xul são chamados a uma participação ativa na produção artística.

Outra semelhança entre essas línguas seria a seguinte: os textos em neocrioulo vêm acompanhados de uma “glosa” que não só ajuda o leitor a decifrar o vocabulário do texto, como também auxilia na compreensão da gramática básica da língua. A “glosa” de Xul Solar poderia ser comparada, na minha opinião, aos conselhos de leitura de Joyce, embora seja ela, ainda segundo minha opinião, mais eficiente, explícita e completa que os conselhos do escritor irlandês, uma vez que estes aparecem sempre dispersos ao longo do livro e na própria linguagem deste. Tomo como exemplo a “glosa” que acompanha o texto Visión sobrel trilíneo (1936):3

“GLOSA. Género común (epicoino), palabras ke acaban en o. másculo en u. los géneros disúsanxe según convengan, kier’. Verboh son regulares, participios terminan en - ido, ho - io. entre dos palabras dobletes, español i portugés, la más cercana’l original o más sencilla lleve acepció más simple o más físi, hi más leqa lõ más figúrido. palabras terminan en -i hagan de adjetivo ho adverbio de modo ho, xi precedan, de ablativo ho instrumental, como en patitie-so, ambizurdo; ami, en vez de amorosamente, cuerpi, en vez de corporalmente, almi, en vez de psíqicamente, etcé. su (común), seu, ( másculi), as (fémini) hi suó (neutro ho abstracto de lõ), hagan xu, xeu, xa, xuó, en plurál. j como en port, francés o casi inglés. y o hache al revés es nuestra j fuerte española; h suene siempre o no escríbexe. ~tilde nasal de portugés. g siempre suave. x como sh a la antigua; z como en port. Francés e inglés, s española; ke es h (fonética) antes de otra s. xeól ( da Biblia, hebr.) somundo almi (plano astrál, mundo del soño consciente, mundo dos muertos, etcé.) prum’, de primo, plómada-vertical (mente) fen’, manifiest (amente), en apariencia, como en fenómeno, fenotipo, etc. ‘tla, abrevio de metálico. p’ra de pará, al lado. jaldo, mui amarillo. vol o volun’ por voluntá. faze - to make, hage - to do. porém, pero, sin embargo. logo, pronto; luego, poco después. fus’, abrev. de fusco, oscuro, confuso. blu, azul ciánico, cuasi de prusia. bol, de bola, esférico eu, yo almi, más que yo mundi; ego, yo superior. edro, geomplano (geometri ), como en pliedro. cho, de choz (port. chofre) de repente, de golpe. blis (inglés), beatitud, bienaventuranza. bolha, o bolla, burbuja. crep’, de “reventar”, explotar, precepi antes de reventar. tum o tun, de tun o tunc, entón’ (lat.) provisorio, temporario. (esta glosa, más longa ke as pretexto, puede mui sirve pa crioldríl (ejercitarse en criol).”
XS


A língua de Xul, bem como a de Joyce, era cosmopolita e sem fronteiras. Ambos objetivaram criar um idioma através do qual todos pudessem se expressar. Se por um lado Xul, insatisfeito com as limitações da expressão e a rigidez da gramática da língua oficial, criou uma língua alternativa àquela do colonizador europeu, por outro lado, pode-se dizer, ele estava correndo contra a maré, pois nesse momento, com a chegada dos imigrantes europeus, a Argentina vivia um período de reconstrução da unidade nacional, o que implicava a busca de um idioma comum, único. Joyce, por sua vez, marcado pelos anos de ocupação inglesa na Irlanda e pela conseqüente perda da identidade de seu povo buscou resgatar a língua de seu país e fragmentar o idioma do colonizador, através da criação de uma língua universal. No Brasil, ainda não dispomos de estudos mais aprofundados acerca da rica linguagem de Xul Solar. Isto não significa falta de apreço ao artista sul-americano, mas se deve a uma redescoberta tardia da sua obra, entre nós. A próxima Bienal de Artes plásticas de São Paulo dedicará, segundo os jornais, um espaço ao artista argentino, o que evidencia sua crescente importância no âmbito da cultura latino-americana. No Bloomsday deste ano, também na cidade de São Paulo, foi apresentado um texto de Xul Solar pelos alunos da disciplina “A Música e a Poesia de John Cage”, ministrada pelo Professor Doutor Sérgio Medeiros, da Universidade Federal de Santa Cartarina, o que contribuiu para tornar mais evidente a ligação entre o artista latino-americano e James Joyce.

Florianópolis,
Santa Catarina.

Notas
1 Sabe-se que foi o escritor inglês Lewis Carroll quem esboçou a primeira teoria a respeito das palavras-valise no livro “Alice Através do Espelho”
2 São pessoais e não definitivas as traduções de pequenos fragmentos de Finnegans Wake, quando não houver referência a um tradutor específico.
3 O texto Visión sobrel trilíneo pode ser encontrado no trabalho “O Neocriollo de Xul Solar e o Modernismo Sul-Americano”, da pesquisadora Rita Lenira Bittecourt.

Referências Bibliográficas
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Um comentário:

Regbit disse...

eSTOU POSTANDO NO MEU BLOG A PASSAGEM DOS SESSENTA NOVE ANOS DE AUSENCIA JAMES JOYCE, QUANDO ME DEPAREI COM VOCE, E ME DESPERTOU MAS AINDA A VONTANDE DE FALAR DESTE GRANDE ESCRITOR 'ULISSES', PARA O MUNDO DOS INTERNAUTAS.SUCESSO